A Associação de Transporte Aéreo Internacional (Iata) divulgou uma nova análise sobre a crise na cadeia de suprimentos aeroespacial, reforçando que a escassez de aeronaves continua sendo um dos maiores entraves para o crescimento da aviação global. Apesar de as entregas terem começado a acelerar no fim de 2025, a entidade aponta que a demanda das companhias aéreas vai seguir superior à capacidade de produção por muitos anos. A normalização desse cenário, segundo a Iata, só deve ocorrer entre 2031 e 2034, devido às perdas acumuladas nos últimos cinco anos e à carteira recorde de pedidos.
A lacuna atual já chega a 5.300 aeronaves, enquanto o volume de encomendas ultrapassa 17 mil unidades — o equivalente a quase 60% da frota ativa mundial. “As companhias aéreas estão sentindo o impacto dos desafios da cadeia de suprimentos aeroespacial em todo o seu negócio. Custos mais elevados de leasing, menor flexibilidade de malha, atrasos nos ganhos de sustentabilidade e maior dependência de tipos de aeronaves menos eficientes são os desafios mais evidentes”, afirmou Willie Walsh, diretor-geral da Iata.
Segundo ele, os passageiros também sentem os efeitos, já que a pressão entre oferta e demanda encarece tarifas e limita a expansão de rotas.
Produção desigual, atrasos de certificação e escassez de mão de obra
A Iata aponta fatores que têm agravado os atrasos nas entregas. Um deles é a discrepância entre a produção de fuselagens e motores — estes últimos altamente afetados por problemas técnicos e revisões prolongadas. O resultado são aeronaves concluídas que permanecem paradas por meses à espera de motorização.
Outro obstáculo é o tempo de certificação de novos modelos, que tradicionalmente levava entre 12 e 24 meses e agora pode chegar a cinco anos. A situação afeta principalmente aeronaves wide-body, essenciais para renovação da frota de longa distância.
Soma-se a isso o impacto das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que elevaram custos de metais e componentes eletrônicos, além de dificultar o acesso a peças de reposição. A escassez global de mão de obra qualificada, em especial na produção de motores e sistemas, também limita a ampliação de capacidade das fabricantes.
Frota envelhecida reduz eficiência e aumenta custos
Com a indisponibilidade de aeronaves novas, as companhias têm operado modelos mais antigos. A idade média da frota global chegou a 15,1 anos — sendo 12,8 anos na aviação de passageiros e quase 20 anos na frota cargueira.
Esse envelhecimento impacta diretamente a eficiência de combustível, que historicamente melhorava 2% ao ano, mas caiu para apenas 0,3% em 2025, com projeção de 1% em 2026. A manutenção também se torna mais frequente e mais cara, pressionando o caixa das empresas.
No segmento cargueiro, a situação é ainda mais desafiadora. A falta de aeronaves convertidas — já que muitas continuam operando rotas comerciais — e os atrasos de produção de novos wide-bodies levam companhias a manter cargueiros antigos em uso até atingirem limites técnicos de operação.
O custo dos gargalos: mais de US$ 11 bilhões em 2025
Um estudo conduzido pela Iata em parceria com a Oliver Wyman estima que os gargalos na cadeia aeroespacial custarão mais de US$ 11 bilhões ao setor aéreo somente em 2025. Os impactos se dividem entre:
Custos excessivos de combustível (US$ 4,2 bilhões): aeronaves antigas consomem mais e reduzem eficiência operacional.
Manutenção adicional (US$ 3,1 bilhões): frotas envelhecidas exigem reparos frequentes e mais complexos.
Aumento do leasing de motores (US$ 2,6 bilhões): motores permanecem mais tempo no solo, elevando a necessidade de aluguel.
Estoque de peças (US$ 1,4 bilhão): companhias armazenam mais itens de reposição para se proteger de eventuais rupturas na cadeia.
Possíveis caminhos para aliviar a pressão
A Iata e consultorias do setor defendem medidas estruturais para acelerar soluções e aumentar a resiliência da cadeia aeroespacial. Entre as recomendações estão o fortalecimento das áreas de MRO (manutenção, reparo e operações), maior transparência entre fornecedores, uso de dados para manutenção preditiva, ampliação da capacidade de reparo e adoção de componentes alternativos.
Outra frente é a modernização de processos industriais, com ênfase em manufatura avançada e redução da dependência de fornecedores únicos para peças críticas.







