

Pesquisadora, consultora, professora, mãe de quatro crianças e profissional com anos de experiência. Além de executar todos esses papeis, Ana Biselli Aidar também assumiu a responsabilidade de liderar a Resorts Brasil. Cerca de um ano após a posse, ela avalia os impactos da pandemia no segmento e projeta as ações para 2021.
Em entrevista ao Brasilturis Jornal, a presidente-executiva detalhou seus planos à frente da entidade que representa 56 resorts e está segmentada em 15 grupos de trabalho para tratar de temas como sustentabilidade, reforma tributária e cassinos. Com respostas firmes e assertivas, pautadas pelo conhecimento técnico de quem atua no setor há duas décadas, Ana projetou o futuro dos resorts e deu dicas valiosas para readequação da estratégia e melhora nos resultados.
A executiva também participa ativamente dos debates do G20, grupo que reúne os principais líderes dos diferentes setores do turismo nacional, com o objetivo de resolver gargalos da pandemia e outros, históricos, além de aumentar o número de turistas brasileiros. “É urgente trabalhar junto ao governo para criar estímulos que ampliem a base de consumidores de turismo no Brasil”, cravou. No que depender da garra de profissionais como Ana Biselli Aidar, o futuro deve ser cada vez melhor.
Em linhas gerais, como a Resorts Brasil vem apoiando seus associados, resolvendo as questões macro e demandas mais urgentes do segmento?
Nosso trabalho segue focado em três pilares que brincam com as iniciais da palavra resort: representar e engajar (RE), sensibilizar o olhar (SO) e refletir para transformar (RT). O primeiro eixo consiste em defender os temas prioritários para levar ao poder público de forma organizada. Sérgio [Souza, presidente do Conselho da Resorts Brasil] acredita que para evoluir em qualquer pauta política é preciso estabelecer prioridade e ter agenda convergente. Eu concordo com ele, temos de nos unir como setor.
O segundo pilar trata de trabalhar com base em pesquisa para mostrar a relevância do turismo para a economia, desenvolvimento das regiões, geração de emprego e renda. Como tratar dados não é nosso core business, iniciamos uma parceria com a STR, em outubro, compartilhando os dados de 30 resorts na plataforma.
A terceira frente vem para debater ações necessárias para aumentar a competitividade dos associados, pois nesse momento as ações estão focadas na área comercial. Queremos ampliar o escopo para outros departamentos como Operações, Qualidade e Recursos Humanos. Nesse sentido, fizemos vários eventos online para discutir protocolos.
Que gargalos ainda precisam ser resolvidos e o que a base empresarial tem reportado a vocês?
Estabelecemos, dentro do G20, um plano de ação dividido em três fases: contingência, sobrevivência e recuperação. Ainda estamos na segunda etapa e vamos seguir com essa estratégia, buscando manter o grupo unido, energia focada e mente aberta para novas ações.
Se diminuirmos o ritmo, há o risco de desaquecer o debate e temos demandas fortes em termos políticos. Especialmente em relação a medidas para manutenção de empregos e dos próprios negócios, além da obtenção de crédito para alívio de caixa. Outro fator que vem atrapalhando é o “abre-fecha” e a indefinição em relação aos feriados que dificultam a operação.
Como você enxerga a retomada do turismo corporativo e de eventos? Ainda é uma realidade distante?
Estamos debatendo a busca de soluções para o segmento Mice, junto a entidades com a Abeoc [Associação Brasileira de Empresas de Eventos] e Ubrafe [União Brasileira dos Promotores de Feiras e Eventos] já que o cenário ainda está indefinido. A intenção é reforçar a viabilidade de realizar encontros em hotéis, pois temos padrões de segurança, controle de entrada e saída. Não dá para esperar que toda a população esteja vacinada para retomar!
Os encontros sociais já vêm acontecendo, mas as empresas ainda se mostram inseguras em promover eventos. Por outro lado, o cenário cria uma possibilidade interessante para os resorts em eventos de integração empresarial.
Com muitos funcionários em home office, as corporações podem optar por programar vivências para disseminar a cultura e reconectar os colaboradores. O que não faz mais sentido, pelo que tenho lido, são as viagens de curtíssima duração. Para participar de uma reunião, por exemplo.
Falando em trabalho remoto, ainda há demanda de famílias optando pelo isolamento em resorts?
No início da pandemia, a questão das aulas online criou uma demanda interessante para ocupação nos resorts durante a semana, especialmente nos empreendimentos próximos aos centros urbanos. Esse comportamento deve seguir durante este ano, especialmente entre os casais sem filhos em idade escolar, que têm mais flexibilidade para programar uma viagem. É uma alternativa bacana.
Turismo de curta distância, viagens multigeracionais e estadas mais prolongadas. As tendências sinalizadas foram concretizadas nos resorts?
Sim! As viagens de carro para regiões próximas à residência surpreenderam a partir de julho, quando os resorts que estavam abertos já tiveram um volume interessante. Por conceito, os resorts têm áreas amplas, o que facilita o distanciamento e reforça a sensação de segurança. Temos mais grupos multigeracionais por conta do crescimento das viagens de reintegração das famílias. Os gerentes gerais relatam histórias emocionantes de reencontros. Eu mesma viajei com meus pais há alguns meses.
Como podemos pensar no futuro dos resorts? O que você enxerga como mudança paliativa e o que tende a ser definitivo no segmento de hospitalidade?
Os processos de limpeza já eram feitos de forma bastante rigorosa pelos resorts. O que era trabalho realizado nos bastidores agora é feito na frente do cliente e isso tende a ficar, ao menos por algum tempo. A transformação digital e a busca por processos que minimizem contato também vão permanecer, porque têm impacto direto na experiência do cliente. É mais cômodo escolher o prato em um cardápio disponibilizado por QRCode ou reservar um passeio por aplicativo.
Na sua visão, quais foram as principais lições que a pandemia trouxe para os resorts brasileiros?
Em primeiro lugar, é preciso quebrar a rigidez de demandas. Nichos e segmentos variados e complementares são importantes para a operação. Também é preciso conquistar independência de segmentos típicos e abrir a cabeça para atingir novos públicos.
Um caminho é pensar em desenvolver semanas temáticas, como um período dedicado à reeducação alimentar, em parceria com um spa, por exemplo. Outra estratégia é buscar complemento e prospectar polos emissores alternativos, que estejam mais próximos do seu negócio e que não dependam de um modal único para transporte.
O que mais você destaca, em termos de boas práticas nos resorts?
Acho que a principal delas é a adaptação da estratégia para atrair outros segmentos. Isso não é tão inovador, mas ajudou muitos resorts nesse período. Outro destaque foi a transformação de espaços em áreas para coworking e o investimento em tecnologia para realizar eventos ou lives. É hora de ser criativo e pensar que o segredo pode estar em um detalhe. As grandes transformações podem não ser tão evidentes.