Volta e meia circula nas redes sociais um meme comparando os banquetes oferecidos pelas companhias aéreas durante seus voos nas décadas de 1960 e os petiscos servidos atualmente. Claramente, a crítica, embora divertida, desconsidera a mudança no consumo de viagens nesses últimos 60 anos.
Há um saudosismo seletivo. E, portanto, perigoso. Na verdade, todo saudosismo traz problemas, principalmente aquele de experiências não vividas pelos mais jovens.
Aviso aos mais velhos: é preciso lembrar que nossas lembranças vêm ressignificadas a partir de emoções e sentimentos vividos. Quase nunca retratam fielmente as situações reais. Recordamos em cores fortes, o que mais nos marcou. Os que têm temperamento mais otimistas sempre tendem a esquecer os incidentes desagradáveis. Já os rabugentos de plantão, fazem o inverso com intensidade e um prazer masoquista.
No caso dos mais jovens, a reconstrução do passado tem sempre como referência o ideal. O que é uma ilusão. É claro, que ao resgatarmos as fotos do passado, fica evidente que as poltronas eram bem mais largas do que as que hoje encontramos nos aviões. Havia, de fato, um serviço de bordo farto e muito sofisticado, com bandejas e talheres de prata, copos de cristal, guardanapos de linho e as melhores marcas de bebidas. E a experiência de voar se apresentava muito mais prazerosa do que hoje. Sem tanta tensão nos embarques e desembarques. Mesmo para quem sempre viajou em Primeira Classe. Mas as viagens, no geral, eram mais longas, tediosas, com equipamentos mais barulhentos, poluidores e instáveis.
Há, no entanto, razões que justificam tantas mudanças. A primeira delas é a privatização das empresas aéreas. A maior parte das companhias no passado eram estatais, de Air France a Alitalia, passando pela saudosa Varig. Questão de segurança nacional, diziam. Não havia tanta preocupação com saúde financeira dessas empresas. Até 1995, o dinheiro público cobria os rombos orçamentários dessas organizações. Depois disso, o cofre foi se fechando.
Além desse movimento econômico, surgiram questões maiores, como os atos terroristas de 2001 mudaram, para pior, toda a indústria de viagens. Todo o processo de embarque, de despacho de bagagens ficou insuportável. E a culpa não é das aéreas.
Empresas privatizadas buscam lucro. Lucro se consegue com boas vendas e custos reduzidos. A privatização das companhias aéreas forçou a busca de novos passageiros. E o preço das passagens despencou. Eu me lembro que ainda em 1988, quando fui à Europa com minha família, viagem era um acontecimento social. É claro que, bem diferente dos anos 1970, as viagens para Europa eram assunto de coluna social. Joseph Halfin, o maior aeroviário desse País, agia com maestria no marketing aéreo. Tudo isso porque as viagens eram caríssimas.
Desse modo, aviões com mais passageiros e a preços menores, exigem redução de custos e, portanto, serviço reduzido para os clientes. Essa é a lógica. Não estou aqui para defender as companhias aéreas. Elas nem precisam disso. Mas é preciso ir além da simples observação dos fatos e dos memes, que sempre são engraçados, mas na maior parte das vezes, burros. Memes não exigem complexidade de raciocínio, por isso se proliferam como vírus e bactérias. No mundo dos negócios, o pensamento simplório e simplista leva a falências.
Apesar das ressalvas e queixas, é preciso lembrar que o crescimento do Turismo como conhecemos hoje se deu por conta do barateamento das passagens aéreas, que precisam estar saudáveis. As companhias aéreas são pilares da nossa indústria. Qualquer resfriado que a indústria aeroviária pegue deixa o setor de cama. Por essa razão é preciso olhar com atenção o plano de voo desse setor. Para segurança de toda uma indústria essencial para economia, como o Turismo.
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