Nos últimos 20 anos, a indústria do Turismo tem passado por transformações: das companhias aéreas aos hotéis, agentes de viagens e operadores, sem esquecer a imprensa. Neste cenário, os escritórios governamentais de turismo não se reinventaram e sua atuação, além de anacrônica, parece ter perdido importância em diferentes partes do mundo. Não me refiro aqui ao Ministério do Turismo do Brasil e suas secretarias estaduais e municipais. Muito pelo contrário! Nas últimas duas décadas e sob a pressão dos Conventions Bureaux, os políticos brasileiros foram obrigados a exigir mais performance de suas estruturas. E isso, certamente, é uma das causas da melhoria nos números apresentados pelo turismo doméstico.
Refiro-me à maioria dos escritórios de turismo de outros países, aqui no Brasil. E, reitero, maioria, não todos. Órgãos oficiais que hoje não possuem relevância, conforme a percepção dos profissionais do setor. Mas nem sempre foi assim. Eu mesmo fui diretor adjunto de um dos maiores escritórios europeus por muitos anos e aprendi muito nessa função, já que não nos faltava trabalho, cobrança do Ministério, pressão da Embaixada e do mercado em si.
Eram outros tempos? Certamente. Os escritórios ajudaram a formar milhares de agentes de turismo. Eram responsáveis por apoiar os jornalistas com informações inéditas. E, juntamente com as companhias aéreas de seus países, abriam o mercado brasileiro para o mundo. Organizávamos muitas viagens de imprensa, com profissionais. Trazíamos diferentes delegações o tempo todo. Éramos antenas de mercado, detectando tendências e enviando estudos mensais para as sedes. Participávamos das grandes feiras. Montávamos campanhas, muitas vezes conjuntas, para desmistificar os medos de brasileiros receosos em deixar o país. Hoje se vê os escritórios promoverem um ou dois eventos de porte pequeno e uma ou outra viagem com os mesmos nomes.
“O orçamento encurtou” é o discurso padrão atualmente. “As companhias aéreas não são mais parceiras” esbravejam os escritórios de turismo. Tudo isso é verdade. E a solução para os hotéis, cidades, balneários, DMCs e demais equipamentos turísticos é apostar e investir em representantes privados. Esperar o poder público atuar nunca foi uma boa opção em qualquer momento histórico ou parte do mundo. Para vender, marcas estrangeiras saíram à caça de representantes. Nunca houve tantos escritórios de representação. Trabalhando dia e noite. Atuando como PR, vendedor e marqueteiro. Cumprindo o papel de vender não apenas as empresas que representam, mas os destinos.
A estratégia pode se mostrar a longo prazo um problema. Primeiro porque a memória profissional é muito mais apurada que a memória familiar. Ninguém esquece do rosto, nome e RG de um aproveitador. O que mais vi nos últimos 30 anos no turismo foi profissional de turismo, ao deixar o posto que ocupava, reinando como se não houvesse amanhã, precisar mudar de área porque não encontrou nenhuma porta aberta para empreender. Jornalistas, agentes de viagens e operadores não esquecem descaso e falta de empenho. Além disso, é preciso lembrar o descaso com que as mídias de turismo foram tratadas e o erro em se apostar apenas em influenciadores digitais e celebridades. As mídias profissionais são maiores parceiros do segmento, diferentemente dos influenciadores. Hoje o preço a se pagar para qualquer ação de comunicação no universo digital é fora do razoável.
A cada edição, meu papel é provocar reflexão e sugerir mudanças. Os escritórios de turismo e as companhias aéreas precisam olhar com mais atenção para toda a cadeia. Alguns já mudaram suas estratégias e se mostram bem-sucedidos. Certos governos optaram por contratar escritórios de representação. Não há uma única receita, assim como não há santo que faça milagre por toda a eternidade. O importante é refletir como agir em um mercado completamente distinto do que era no passado. Tudo que não é relevante, deixa de existir. Lei da natureza.
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