O grau de maturidade de um mercado e sua relevância internacional também são medidos pela produção acadêmica que ele suscita. Não é coincidência: os maiores produtores de teorias, livros e cursos sobre o universo do luxo estão na França. Os maiores pensadores sobre economia, finanças e marketing, assim como a principal literatura e paradigmas, surgem nos Estados Unidos. O mesmo acontece com a indústria farmacêutica na Alemanha e a otimização de recursos e gestão de processos no Japão.

Enquanto consultor, pesquisador e professor universitário, vejo muito pouca coisa relevante produzida nas universidades e centros de pesquisa sobre turismo no Brasil. Em breve completarei 9 anos produzindo mensalmente material para reflexão sobre nossa indústria no Brasilturis. Nesse período, eu trouxe provocações, não poupei ninguém. Também fui pioneiro, em 2017, em falar do boom que os podcasts teriam em 2024, assim como apontei anos antes as mudanças no conceito de luxo e sustentabilidade que vemos hoje. Nada de bola de cristal, baralho de tarô. Mas uma mente treinada, nas universidades, na pós-graduação e centros de pesquisa. Apontei a responsabilidade que toda a cadeia tem em relação ao crescimento do mercado, mas nem todos tiveram ouvidos para ouvir. E muitos estão hoje em outras praias, causando estragos semelhantes aos que geraram no nosso meio.

Tenho visto mudanças importantes, mas ainda em passos lentos e curtos. A maior explicação para a potência sempre latente e nunca manifestada do turismo brasileiro é que em nosso país reina o diletantismo e quase nunca a profissionalização. Diletantismo, para poupar a busca nos dicionários, é o fazer apenas por prazer. É o tal do espírito amador em seu duplo sentido. Aquele que ama o que faz, mas não tem nenhuma técnica, preparo.

Muitos agentes de viagens decidiram empreender no setor apenas porque amavam viajar. Ainda é assim. Muita gente resolve abrir restaurantes porque gosta de cozinhar. E outros tantos querem montar pousadas e hotéis porque não gostam da vida tensa que o universo corporativo, como se dirigir um empreendimento de hospitalidade fosse tão tranquilo quanto a meditação transcendental. Tive clientes assim. Furada total.

Muita gente decide investir no setor sem se preparar. O que se vê são empresas que prestam péssimos serviços e não apresentam sequer metade da lucratividade que poderiam ter. Culpa-se, com frequência, o poder público por nomear políticos sem nenhuma experiência e conhecimento de turismo para comandar pastas da Federação, estados e municípios. Nada diferente do que acontece no universo privado. Há anos venho chamando a atenção para o escândalo que é a falta de conhecimento do inglês em nossa indústria. Se quando comecei a chamar a atenção no Brasilturis para esse problema, os profissionais tivessem estudado, estaríamos em outro patamar.

Mariana Aldrigui é uma das poucas vozes que circula com desenvoltura entre a academia e o universo corporativo, chamando a atenção para o problema da formação universitária dos profissionais de turismo. Há pouca ainda formação técnica, universitária e de especialização de qualidade no Brasil. Não porque falte alunos. O turismo, sobretudo a hotelaria, emprega muita gente. Falta interesse dos profissionais, exigência e apoio das empresas e, talvez, apoio maior do governo. No lugar de nomear pseudocelebridades como embaixadores do setor, uma das ações mais ridículas e caricatas que nossa indústria já presenciou, o poder público precisa investir nos verdadeiros embaixadores do país: os profissionais do turismo.

Há cursos disponíveis. Mas a maior parte deles não forma ninguém. Apenas informa. Encontramos, claro, muitos papagaios que repetem teorias importadas, sobretudo do exterior, adquiridos em formações rápidas. Repetem jargões e palavras estrangeiras. Leem meia dúzia de artigos e falam como se fossem especialistas. Mas tratar com a devida profundidade, seriedade e competência o turismo brasileiro é tarefa de menos de uma dúzia de professores.

Fala-se que o maior problema do país é a falta de investimento na educação. Não é. O Brasil investe parte importante de seu orçamento nesse setor. Falta, no entanto, estratégia, método e diretrizes mais claros. Falta, sobretudo, compromisso das pessoas com a própria formação. Claro, muita gente não consegue estudar por conta de investimentos financeiros importantes que são exigidos. Aí entram também o compromisso das empresas. Seja apoiando com bolsas ou investindo em universidades corporativas. Ou mesmo pagando melhor para atrair verdadeiros talentos. Sei que muitos empresários vão dizer que não podem correr o risco de investir e, em seguida, os funcionários deixarem seus negócios para irem trabalhar na concorrência. Mas quem disse que empreender não é arriscar?

É um ciclo vicioso, viciado, trágico. Que se repete em todos os setores mas fica muito visível no nosso. Até quando o Brasil seguirá correndo atrás do próprio rabo? Não é complexo de vira-lata. É encarar a realidade e assumir que a gente, em muitos aspectos, segue comendo as sobras. E o pior, sem o charme e carisma dos amigos caramelos.