De 1840 para cá, quando a Abreu e a Thomas Cook deram início à oferta de viagens organizadas para pequenos grupos de turistas pela Europa, o mundo mudou muito: tanto em seus aspectos socioculturais como tecnológicos, econômicos e, indiscutivelmente, comportamentais. Nestes últimos 184 anos, a população mundial pulou de 1,26 bilhão para a incrível marca de 8 bilhões! Ou seja, mais de seis vezes!.

Em 2023, registrou-se um número inacreditável de 460 milhões de pessoas viajando fora do seu país de domicílio (pouco mais de 5% do total). Esse transcurso crescente, que aumenta percentualmente a cada ano, provou, além do democrático acesso às condições de viagem, o enorme gosto e o visível prazer que as pessoas sentem pelo fenômeno e pela misteriosa necessidade de se deslocar (a trabalho, lazer, saúde, educação, eventos, esportes e dezenas de outras razões), procurando passeios, hospedagem, alimentação, compras, distração, divertimento, etc.

O turismo de massa se instalou e, nesse ritmo, é compreensível observar o quanto esses deslocamentos (ou viagens) sofreram mudanças ou mutações (algumas positivas e outras bem negativas). De um lado, encontramos os benefícios econômicos que ajudam os núcleos visitados. Mas existem outros aspectos na contramão, como os processos de aculturação (essa estranha combinação ou inevitável choque entre culturas) e o pouco caso que alguns turistas fazem do local visitado (muitas vezes sujando espaços, depredando locais ou desrespeitando qualquer modalidade de convivência civilizada).

É notória também a indigesta concentração de turistas (em primeira ou repetida visita) em núcleos de sucesso, como Paris, Londres, Roma, Madri, Barcelona, Atenas, Istambul e outras centenas de lugares de interesse comprovado. As visitas a muitos desses núcleos perderam parte do seu fascínio devido às longas filas que permeiam o acesso às suas atrações, às ruas e restaurantes abarrotados de gente, e à inacreditável quantidade de guias invadindo esses sítios, cada qual com seu grupo, gritando e tentando garantir o embarque em seus respectivos ônibus ou barcos, ou para dar explicações sobre o local que está sendo visitado (em três turnos: manhã, tarde e noite).

Muitos países já procuram soluções viáveis para determinar um número saudável de visitantes (por núcleo, por época, etc.) a fim de não congestionar espaços importantes, além de proteger e não prejudicar a vida dos residentes nessas áreas. E não podemos esquecer dos aeroportos, terminais de cruzeiros, estações de trem ou de ônibus, cada vez maiores para atender o fluxo desproporcional. Também é necessário mencionar os desconfortáveis processos durante embarques e desembarques, ou o demorado atendimento nos postos de imigração e nas áreas reservadas para a retirada de bagagem.

Não há dúvida: hoje, o Turismo perdeu um pouco do seu velho charme. Quanta saudade dos encantadores anos de 1950, 60 e 70!