Em agosto, Gramado novamente foi palco do Connection Terroirs do Brasil 2024, evento que reuniu painéis com convidados nacionais e internacionais, feira de expositores com produtos de origem, aulas de culinária abertas ao público e circuito gastronômico e de experiências em sua programação. O destaque vai para a participação de metade dos 118 produtores certificados pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que o Brasil possui. O número é significativamente maior que o de expositores do ano passado, quando participaram 27 produtores. Nesta edição, foram 51 marcas vinculadas à chancela das Indicações Geográficas asseguradas pelo INPI, sendo 36 com selo de Indicação de Procedência (IP), 11 com Denominação de Origem (DO) e três com ambos os selos.

Terroirs é um termo de origem francesa e significa uma extensão de terra, aliada a características específicas referentes à geografia, à geologia e ao clima de um determinado lugar. Contudo, quando se trata do evento, o termo vai além da relação entre fatores naturais e remete também a características culturais que envolvem o saber fazer de determinado povo, comunidade ou região do País. Exemplo disso é a presença de produtos que só podem ser encontrados em determinados locais do Brasil, como o extrato de Própolis Vermelho, oriundo dos manguezais alagoanos; o Guaraná orgânico de Maués, no Amazonas, que é colhido um a um e passa mais de seis horas em torrefação; ou, ainda, a Bala de Banana Antonina, fabricada na cidade homônima do Paraná, cuja fama deu origem a uma série de produtos com o aroma que remete à bala faz história desde a década de 70.

Na solenidade de abertura já era possível ver um pouco da variedade de produtos de origem que seriam apresentados durante o evento. Felizes, Marta Rossi e Eduardo Zorzanello, CEOs do Connection Terroirs, agradeceram a presença dos participantes no evento que estava programado para acontecer em maio – e foi remarcado devido às fortes chuvas que assolaram o estado do Rio Grande do Sul – e destacou o objetivo principal do desta edição: criar conexões. “Agradeço a participação de Portugal e Mendoza, na Argentina, que nos prestigiam com muito saber e abrem espaço para essas conexões. Também aos fornecedores, aos parceiros, que estão colocando de pé esse evento, e um agradecimento especial a cada um dos participantes, aos expositores, num cenário tão difícil que vivemos neste momento de reconstrução”, frisou Zorzanello.

“A gente tem força, resiliência e nosso olhar é sempre para o futuro. Aqui, hoje, no coração de Gramado, estamos unindo o País de ponta a ponta”, complementou Marta. E, em seguida, Ricardo Bertolucci Reginato, secretário de Turismo de Gramado, também fez seus agradecimentos: “A gente faz as coisas com amor. E o amor, de fato, transforma e transpõe qualquer barreira. É muito importante também celebrar as pessoas que atravessaram o Brasil e estão aqui conosco, celebrando o evento”, disse.

Para Hulda Oliveira, coordenadora de Negócios de Base Tecnológica no Sebrae, indicação geográfica e Turismo andam de mãos dadas. Atuando nessa área há 20 anos, a gestora destaca a relevância das experiências proporcionadas pelos produtores para o setor. “As indicações geográficas têm todo potencial para impulsionar o turismo interno e externo no Brasil. Ainda mais em um tempo em que as pessoas desejam viver experiências quando viajam, com curiosidade em saber como determinado produto é produzido, por exemplo. Imagine conhecer plantações de maçãs ou cafés e poder participar da colheita? É uma experiência que o turista não vai esquecer, até porque muitas vezes nem sabemos tudo que o Brasil produz”, comentou.

Durante o Connection, as atividades foram divididas em dois locais. Na Rua Coberta foi realizada a Alameda Terroir, uma exposição que apresentou ao público a vasta diversidade e riqueza dos terroirs brasileiros. Produtos como vinhos, espumantes, cafés, queijos, mel, melado, cacau, uvas, erva-mate, bordados e muitos outros estiveram em exposição e à venda. Vale ressaltar que cada item exposto carrega consigo as características únicas de sua região de origem, moldadas pelo solo, clima e saber-fazer das comunidades locais.

Enquanto isso, no Cine Embaixador, o evento trouxe uma programação robusta de palestras, com mais de 15 especialistas que abordaram temas como o desenvolvimento do Turismo a partir dos produtos de origem, transformação de territórios e estratégias de marca. Conexões internacionais também receberam destaque, como a relação entre Brasil, Portugal e Argentina, além de debates sobre turismo regenerativo, sustentabilidade, inovação e inclusão produtiva.

Para entusiastas do agroturismo, turismo rural e amantes de produtos com Indicação Geográfica (IG), é interessante anotar no calendário a data do Connection Terroirs do Brasil 2025, que será realizado entre os dias 21 e 24 de maio.

Fortalecimento do turismo rural incentiva o turismo interno

Pequenos agricultores rurais podem ser caracterizados como produtores turísticos e integrar, assim, o Cadastur. A informação foi repassada por Milton Zuanazzi, secretário de Planejamento, Sustentabilidade e Competitividade do Ministério do Turismo, durante painel no Connection.

A iniciativa caracteriza turismo rural como o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas em compromisso com a produção agropecuária, para agregar valor a produtos e serviços e promover o patrimônio cultural e natural da comunidade, como folclore e festejos, especialmente os da agricultura familiar.

Segundo Zuanazzi, o pequeno produtor deve mudar a mentalidade de seu negócio e passar a atrair turistas para sua propriedade, em vez de levar sua produção para vender em outras localidades. “Estamos diante de uma grande oportunidade do agroturismo, da agroindústria turística. Não há como buscar desenvolvimento sem o Turismo envolvido”, pontuou.

Para Milton, a solução pode ser mais barata do que aparenta. O secretário acredita que a mudança de estratégia e utilização de políticas públicas para receber turistas em propriedades rurais é um caminho para a ascensão do turismo em determinadas regiões, incentivando o turismo interno. “Precisamos mostrar a riqueza do nosso Brasil para os brasileiros, não só para o visitante internacional. É necessário um esforço para andar pelo país e conhecer a história de cada localidade”, pontuou Zuanazzi, que complementou: “Por vezes temos dificuldade em vender o país lá fora devido à grande riqueza de cultura e diversidade, e utilizamos fotos e vídeos para destacar as regiões. Com o turismo interno é o mesmo, é preciso andar para conhecer”, incentivou.

Por último, Milton pediu que estratégias sejam repensadas e que produtores incluam o Turismo em seus objetivos. “Espero que minhas palavras estimulem vocês a pensar de forma mais estratégica sobre nossas atitudes acerca do setor mais essencial no século XXI: o Turismo. Não há desenvolvimento sem ele”, concluiu.

Retomada do turismo em Gramado

Durante sua palestra no Connection Terroirs, Ronaldo Santini, secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, fez uma retrospectiva de retomadas pelas quais o estado passou desde a pandemia e destacou a riqueza e diversidade do território. É importante pontuar que o estado tem o turismo como forte componente do PIB e vê, aos poucos, o setor voltando ao patamar habitual após as enchentes ocorridas em maio deste ano.

“Após a pandemia, o estado sofreu muito e trabalhei na reconstrução do turismo, com a missão de trazer turistas que soubessem que o Rio Grande do Sul era um lugar seguro naquele momento. E isso nos oportunizou, talvez, a nossa maior virada de chave aqui no estado”, contou o secretário, que completou logo em seguida: “Descobrimos a grandeza do nosso estado.”

Ainda de acordo com Santini, mais de 80% dos habitantes não conhecia o seu estado, de fato, além de Gramado e região. “Iniciamos, ali, o programa Turismo em Todas as Regiões, que contou com mais de R$ 13 milhões investidos em infraestrutura turística”, disse.

Santini ressaltou, ainda, uma mudança de cultura por parte do setor, esperada pelo estado. “Turismo não é mais só diversão e lazer. É sinônimo de emprego e geração de renda. Rio Grande do Sul tem agora, a partir de tudo que viveu, a oportunidade de oferecer o que tem de melhor aos moradores e seus visitantes”, concluiu.

Olhando para o futuro, Ricardo Bertolucci Reginato, secretário de Turismo de Gramado, mantém boas perspectivas para os próximos meses. Em entrevista ao Brasilturis, ele falou que além da retomada de operações no Aeroporto Salgado Filho, prevista para outubro, o mês também marca o início da 39ª edição do Natal Luz, evento que envolve toda a cidade de Gramado e atrai milhares de visitantes anualmente. Nesta edição, algumas novidades irão chamar a atenção dos turistas: o Grande Desfile de Natal, que antes acontecia em espaço fechado, ocorrerá na Avenida das Hortênsias, com acesso liberado por ingressos comercializados.

Outra novidade é que, todas as noites, o espetáculo de acendimento das luzes na via principal começará uma hora mais cedo. Agora, o espetáculo começa às 20h, e não mais às 21h, dando mais fôlego ao comércio local.

“Gramado já vem apresentando bons números de ocupação hoteleira, superando a meta de 50% no mês de julho, o que mostra uma retomada do setor, mesmo antes do retorno completo das operações do aeroporto. Eventos como o Natal Luz, o Festival de Cinema de Gramado, e novos eventos, como o festival alusivo à cultura gaúcha, também são alicerces que ajudam a fortalecer a imagem da cidade e do estado do Rio Grande do Sul”, pontuou Bertolucci.

Vale pontuar que eventos são pilares para a economia local, visto que o turismo em Gramado é movido por uma rica agenda de eventos públicos e privados. Uma forma de trazer mais capilaridade ao turismo é, segundo o secretário, explorar mais o turismo rural e o agroturismo na região. Como justificativa, ele destacou a diversidade de produtos e serviços oferecidos na cidade e como esses elementos se interligam para oferecer uma experiência turística completa.

Por último, o secretário fez uma referência ao conceito de terroir, destacando a resiliência e criatividade do gramadense como o DNA da cidade. “O evento traz uma temática que ainda não é muito conhecida por nós, inclusive, e eu acho muito genuíno que seja debatido em Gramado porque a cidade conseguiu se tornar o que é a partir dessa organicidade, da sua colonização, das tradições do povo e isso tem muito a ver com nossa cultura local. O DNA de Gramado é o nosso terroir”, afirmou.