O terceiro trimestre de 2024 apresentou um panorama diversificado para as principais companhias aéreas que operam no Brasil. Enquanto a Latam Airlines colhe frutos de sua reestruturação com um lucro expressivo e perspectivas otimistas, a Azul celebra recordes históricos em receita e margens, mas ainda enfrenta prejuízos. Já a Gol continua a navegar por um cenário desafiador, com perdas e dívidas crescentes, em meio a um esforço contínuo de reestruturação.
Com trajetórias marcadas por estratégias distintas, os resultados refletem um setor ainda em busca de estabilidade após a pandemia, mas com oportunidades de crescimento impulsionadas pela retomada da demanda e expansão operacional.
Mas a alta temporada de verão está chegando e, com ela, o aumento da demanda no setor. No último trimestre veremos como as companhias vão lidar com os desafios econômicos e operacionais que ainda pairam no horizonte. O céu da aviação no Brasil continua marcado por contrastes – com voos de conquistas e turbulências ainda por superar.
A Latam Airlines consolidou sua posição de liderança na América do Sul ao apresentar um lucro líquido de US$ 301 milhões no terceiro trimestre e US$ 705 milhões no acumulado de 2024. O aumento de 7,6% nas receitas operacionais, que somaram US$ 3,3 bilhões, e a margem operacional ajustada de 14% refletem o sucesso de sua estratégia pós-recuperação judicial.
O crescimento da capacidade, medido em assentos por quilômetro disponível (ASK), foi de 15,1%, com destaque para o segmento internacional, que avançou 22,4% e alcançou uma taxa de ocupação de 86,1%. Esse crescimento ocorreu em um momento estratégico para a Latam, que refinanciou grande parte da dívida vinculada ao processo do Chapter 11. Esse movimento reduziu pela metade o custo financeiro e adiou os vencimentos até 2028, resultando em um impacto único de US$134 milhões nas contas do quarto trimestre.
“Esses resultados são fruto do trabalho dos últimos anos, que proporcionou um crescimento sustentado e rentável”, afirmou Ramiro Alfonsín, CFO do grupo, durante coletiva de divulgação dos resultados da cia. Ele ressaltou ainda a redução do custo por ASK, excluindo combustível, para US$ 0,04, e a projeção de um crescimento de capacidade entre 15% e 16% até o final do ano.
Com base no desempenho do trimestre, a Latam revisou suas estimativas para o ano, projetando um crescimento de capacidade entre 15% e 16% e um EBITDAR ajustado de até US$3,15 bilhões. A empresa também espera reduzir sua alavancagem líquida ajustada para uma faixa entre 1,6x e 1,7x até o final do ano.
Com relação a passageiros transportados, a Latam movimentou 21,1 milhões de passageiros no trimestre, refletindo uma alta de 7,1% e consolidando sua posição como a maior companhia da América do Sul e a décima maior do mundo, com 164 destinos em 31 países. Com uma frota de 341 aeronaves, a Latam garantiu uma encomenda de mais de 120 aviões até 2030, que inclui 106 narrow-body e 19 wide-body, fortalecendo sua capacidade de atender à crescente demanda por voos na região.
Mantendo o avanço em seus balanços, a Azul S.A. registrou uma receita recorde de R$ 5,1 bilhões no trimestre, o que representa um crescimento de 4,3% em relação ao mesmo período de 2023. O EBITDA alcançou R$ 1,7 bilhão, com margem de 32%, e o EBIT atingiu R$ 1 bilhão, com margem de 20%. Embora o prejuízo líquido ajustado tenha sido de R$ 203 milhões, isso representa uma redução de 76,2% em comparação ao ano anterior.
“O esforço dos nossos tripulantes foi essencial para alcançar esses números. Superamos desafios com inovação e foco no cliente”, afirmou John Rodgerson, CEO da Azul, enquanto divulgava os resultados da companhia.
Os negócios complementares, como Azul Cargo e Azul Viagens, desempenharam papéis importantes neste montante. A Azul Viagens registrou um aumento de 42% nas vendas, enquanto o segmento de cargas cresceu 23%. O programa Azul Fidelidade também apresentou expansão significativa, encerrando o trimestre com quase 18 milhões de membros e um crescimento de 80% nas vendas diretas.
A Azul também destacou a estabilidade do índice CASK, que ficou em R$ 34,28 centavos, um reflexo da gestão de custos eficiente, mesmo com o aumento do combustível e a desvalorização do real. O CEO da companhia enfatizou, ainda, as iniciativas para otimizar os custos, como a ampliação do uso de aeronaves de última geração e a redução no número de funcionários equivalentes, o que resultou em uma melhoria de 11,3% no FTE por ASK.
A empresa avança em sua reestruturação financeira, incluindo a conversão de R$ 3,1 bilhões em dívidas para ações preferenciais e um financiamento prioritário de até US$ 500 milhões. “Esse acordo é um voto significativo de confiança dos nossos parceiros em nosso negócio e em nosso futuro”, afirmou o CEO. Essas iniciativas visam reduzir significativamente a dívida da companhia, que foi elevada durante a pandemia, e potencialmente eliminar mais de R$ 5 bilhões em dívidas, reduzindo a alavancagem pró-forma de 4,8x para 3,4x.
Com os resultados recordes e a reestruturação financeira em andamento, a Azul reforça seu compromisso com o sucesso a longo prazo e a eficiência operacional. “Estamos realmente preparando a Azul para o sucesso de longo prazo, com um modelo de negócios exclusivo, lucratividade e geração de caixa crescentes e um balanço patrimonial otimizado”, concluiu Rodgerson, ressaltando o otimismo da companhia para a alta temporada de verão.
Por outro lado, a Gol Linhas Aéreas enfrenta um cenário mais adverso. No terceiro trimestre, a companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 830 milhões, uma redução de 36% em relação ao mesmo período de 2023. A receita líquida total cresceu 6,3%, mas a margem EBITDA caiu para 24%, frente aos 26,8% do ano anterior.
O endividamento segue sendo um desafio. A dívida líquida alcançou R$ 27,582 bilhões, um aumento de 43,4% em um ano. A relação dívida líquida ajustada/EBITDA subiu para 5,5 vezes, contra 4,2 vezes em 2023.
“Apesar das condições desafiadoras, seguimos comprometidos com o progresso na nossa reestruturação”, comunicou a Gol, que está em recuperação judicial nos Estados Unidos.
Ao longo do 3T24, a companhia devolveu cinco aeronaves e recebeu dois novos 737-MAX, encerrando o trimestre com 138 aeronaves em sua frota contratada. Apesar de atrasos significativos no cronograma de entrega das aeronaves Boeing, a Gol conseguiu aumentar sua frota operacional em cinco aeronaves frente ao último trimestre (107 vs 102 no 2T24), devido principalmente ao plano de recuperação de aeronaves dentro do plano de reestruturação da companhia. Vale ressaltar que essa estratégia possibilitou aumentar a oferta total de assentos e mercados atendidos pela Gol.
Neste terceiro trimestre, a base de clientes Smiles, o programa de fidelidade da companhia, cresceu 6,6%, enquanto o faturamento do programa aumentou 14% em comparação ao 3T23. Além disso, o número de clientes do Clube Smiles atingiu mais de 1,1 milhões, um aumento de 9,3% em relação ao 3T23, demonstrando o sucesso das iniciativas para aumentar o valor percebido pelos membros do Clube.
Etapas do Chapter 11 aproximam Gol de uma estrutura financeira mais sólida
A Gol avançou nas etapas de seu processo de reorganização no âmbito do Chapter 11, com foco em renegociações contratuais e redução de passivos. Desde junho de 2024, foram firmados aditivos contratuais com arrendadores de aeronaves, ajustando fluxos de pagamento, reservas de manutenção e outras condições. Em setembro, a empresa concluiu negociações com arrendadores remanescentes, resultando em acordos de reestruturação aprovados pelo Bankruptcy Court, abrangendo 139 aeronaves e 58 motores sobressalentes.
O prazo para apresentação do plano de reorganização foi estendido até 21 de outubro de 2024, com votação prevista até 20 de dezembro. Em novembro, a Gol firmou um Acordo de Apoio ao Plano de Reestruturação (PSA) com o Abra Group Limited e o Comitê de Credores Quirografários, definindo as bases para a reorganização financeira. Entre as medidas previstas, destaca-se a conversão de até US$ 1,7 bilhão em dívidas em ações ou outros mecanismos e a redução de US$ 850 milhões em obrigações adicionais.
A empresa também obteve aprovação judicial para acordos com bancos brasileiros, incluindo uma linha garantida para cessão de recebíveis. Esses avanços consolidam o planejamento financeiro da Gol, que planeja submeter seu plano de reorganização ao tribunal até o fim de 2024 e concluir o processo em abril de 2025, fortalecendo sua estrutura de capital e operacional.
Com a implementação do plano de reorganização, a Gol espera otimizar suas finanças e concentrar esforços em estratégias futuras de crescimento. A administração acredita que o processo será essencial para garantir maior estabilidade e competitividade no mercado aéreo, reforçando sua capacidade de atender às demandas do setor de forma sustentável.
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