A cidade francesa de Nice é o mais recente destino a anunciar que proibirá cruzeiros de atracarem em seu porto. O prefeito Christian Estrosi assinou um decreto esta semana impedindo que navios com capacidade superior a 900 passageiros atraquem nos portos de Nice e da vizinha Villefranche-sur-Mer (que faz parte do município de Nice) a partir de 1º de julho.
O prefeito, que há muito tempo se manifesta contra os impactos do turismo de cruzeiros na cidade, também solicitou a redução do número de travessias de balsas entre a cidade e a ilha francesa da Córsega por razões ambientais. Ao contrário de muitos outros portos do Mediterrâneo, os portos de Nice ficam em frente a ruas residenciais, em vez de grandes complexos portuários isolados, como ocorre em cidades vizinhas, como Marselha.
O decreto ainda precisa ser aprovado pelas autoridades regionais. Nice faz parte da região francesa de Provence-Alpes-Côte d’Azur. Se a proibição for aprovada, as companhias de cruzeiro terão que buscar alternativas. Mudanças de última hora nos portos podem irritar os passageiros, colocando as empresas em uma posição difícil.
Nice e Villefranche-sur-Mer são portos populares para cruzeiros, e muitas companhias, incluindo Celebrity, Oceania Cruises, Cunard, Royal Caribbean, Princess, Viking e Holland America Line, já programaram escalas nesses locais para a temporada de verão de 2025. Essas companhias, que já venderam cabines com base em um itinerário que inclui Nice, teriam que encontrar portos alternativos ou substituir a escala por um dia de navegação caso não possam mais parar na cidade.
Em entrevista à France Télévision, o prefeito também citou o overtourism (turismo excessivo) e preocupações com a biodiversidade marinha como razões para a medida. Ele repetiu essas preocupações em um discurso aos moradores de Nice explicando a decisão. “Turismo, sim; turismo excessivo, não. Os cruzeiros que poluem e despejam sua clientela de baixo custo, que não consome nada, mas deixa seu lixo para trás… esses cruzeiros não têm lugar entre nós.”
A Câmara de Comércio e Indústria de Nice estima que os passageiros de cruzeiros gastam, em média, 38 euros durante suas visitas à cidade, enquanto os visitantes de conferências gastam 180 euros, embora não esteja claro se o custo da hospedagem está incluído nos gastos dos turistas que não vêm de cruzeiros.
A Cruise Lines International Association (Clia), grupo que representa a indústria de cruzeiros, respondeu com decepção à proposta do prefeito. “Lamentamos os comentários feitos pelo prefeito de Nice, que estigmatizam injustamente tanto os profissionais do turismo quanto nossos passageiros. Ficamos ainda mais surpresos, pois nenhum grande navio de cruzeiro está programado para atracar no Porto de Nice em 2025. Além disso, apenas três grandes navios de cruzeiro e 34 navios de médio porte devem ancorar ao largo de Villefranche-sur-Mer durante 2025. A Clia e suas empresas associadas continuarão trabalhando em estreita colaboração com portos e municípios que compartilham nosso desejo de desenvolver um turismo cada vez mais sustentável”, afirmou a associação.
Nice, localizada na costa mediterrânea da França, próxima à fronteira com a Itália, é a segunda cidade mais visitada do país, depois de Paris, recebendo cerca de 5 milhões de turistas por ano. Tanto a cidade quanto a região ao seu redor são há muito tempo populares no cinema e na televisão. O filme Tarde Demais para Esquecer (1957), estrelado por Cary Grant, inclui uma escala de navio em Villefranche-sur-Mer. A cidade também foi retratada recentemente na série da Netflix Emily em Paris.
Cidades da região da Côte d’Azur há muito tempo são acusadas de elitismo no setor do turismo. A península de Saint-Jean-Cap-Ferrat, que tem vista para o porto de Villefranche-sur-Mer, onde atracam os maiores cruzeiros, abriga os imóveis mais caros da França. Já restaurantes em Saint-Tropez, a oeste de Nice, foram acusados de “wealth-screening”—ou seja, de recusarem mesas para clientes que consideram não ricos o suficiente, após uma busca na internet.
A cidade vizinha de Cannes também está considerando proibir grandes navios de cruzeiro, seguindo o exemplo de cidades europeias como Veneza e Barcelona, que impuseram restrições exigindo que os maiores navios atraquem mais longe do centro urbano.
Nem todas as cidades europeias, no entanto, são contra o aumento do turismo de cruzeiros como Nice. O porto de Copenhague espera bater um recorde no verão de 2025, recebendo pela primeira vez mais de um milhão de passageiros de cruzeiros.
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