O ano de 2024 encerrou com a cerimônia de pedra fundamental das obras de ampliação e modernização do Aeroporto de Congonhas, em Sâo Paulo (SP). O evento da Aena, responsável pela gestão do aeroporto desde 2023, reuniu diretores da concessionária, autoridades, lideranças do setor e a imprensa no terminal para a apresentação do cronograma de obras. O projeto inclui a construção do novo terminal de passageiros, pista de taxiamento, pátio de aeronaves e hangares, totalizando mais de R$ 2,4 bilhões de investimentos que serão entregues ao longo dos próximos anos, até 2028.
Maurici Lucena, presidente da Aena, deu início à solenidade reforçando a relevância do marco para o setor. “Hoje é um dia muito importante para o aeroporto, para a cidade de São Paulo, e em uma medida significativa, para todo o Brasil. É também motivo de orgulho para a Aena, pois é o projeto mais complexo que a companhia já fez fora da Espanha, tanto em questões técnicas, como operacionais”, declara o executivo.
O presidente destaca o sucesso nas reformas realizadas nos aeroportos nordestinos, em especial o de Recife, mas salienta que as obras no terminal paulista são de outra magnitude. “A importância do Aeroporto de Congonhas é incontestável. Só não é maior que o de Guarulhos, sendo que atende apenas o mercado doméstico. Tal operação, no entanto, é muito mais complexa em um país de dimensões continentais como o Brasil, ainda mais considerando as particularidades do terminal, que se encontra em um perímetro urbano de alta densidade”, explica.
Em seguida, Santiago Yus, presidente da Aena Brasil, assumiu o palco para apresentar os atuais problemas do aeroporto, as soluções previstas para 2028 e o cronograma de obras. “Avaliamos os principais desafios operacionais do aeroporto e, a partir disso, elencamos uma lista de obras que devem melhorar a capacidade e eficiência operacional do aeroporto, adaptar o terminal para receber aeronaves de maior porte, como o Airbus A321neo e o Boeing 737 Max 10, e ampliar o espaço e conforto dos passageiros”, conta o executivo antes de listar cada uma das principais obras:
- Readequação das pistas de táxi atuais
- Construção de uma saída rápida da pista 35L
- Novas pistas de táxi paralelas, com afastamentos adequados
- Nova pista de táxi dupla de acesso ao pátio de aeronaves
- Ordenamento do sítio aeroportuário, segmentando voos comerciais e executivos
- Novos hangares e pátios para aviação comercial
- Novo terminal de cargas
- Novo terminal de passageiros, integrado ao existente
Terminal de Embarque
Este último item, porém, merece uma lista própria, considerando o número de mudanças e melhorias em relação ao atual. O novo terminal terá mais de 100 mil metros quadrados, mais que o dobro do atual, além de 19 novas pontes de embarque, substituindo por completo as 12 atuais, além de 10 portões de embarque remoto, entre outras melhorias que visam agilizar os acessos. Entre elas, 13 leitores automáticos de cartão de embarque e aumento para até 17 canais e inspeção (raio-x).
Vale dizer que os espaços de embarque e desembarque serão separados e trocados entre si. “Reconhecemos que, ao chegar no aeroporto de carro, o desembarque vir primeiro que o embarque gera uma série de problemas logísticos. Por isso, invertemos suas posições, fazendo com que a área de embarque venha primeiro, com um novo e mais moderno salão de check-in e um píer mais amplo”, revela.
O atual terminal, tombado pelo Patrimônio Histórico, será preservado e revitalizado para acomodar o desembarque. Isso inclui um novo e mais eficiente sistema de processamento de bagagens, com mais esteiras de restituição, bem como novas salas VIP mais confortáveis e espaços corporativos, como escritórios e salas empresariais.
Para garantir ainda maior fluxo de veículos pelas vias de acesso, um problema habitual do terminal, a Aena também projetou uma nova praça pick-up com 72 vagas para carros de aplicativos. A área de meio-fio terá um incremento de 250 metros para embarque e desembarque dos passageiros, além de acesso direto à futura estação de metrô da linha Ouro.
Cronograma
Considerando a magnitude e complexidade do projeto, somada a continuidade das operações normais do terminal durante o período, as obras serão realizadas em seis etapas.
Confira a seguir o cronograma preliminar de obras, com a duração e as principais atividades de cada fase:
Fase 1 (16 meses)
- Entrega de hangares provisórios para as companhias aéreas
- Demolições de edificações da área do pátio remoto
- Novos terminais de carga
- Intervenções nas pistas de taxiamento de aeronaves
- Construção de hangares definitivos
Fase 2 (cinco meses)
- Início da construção do píer do novo terminal de passageiros
- Revitalização e adaptação do hangar tombado
- Instalação de duas novas esteiras de bagagens
Fase 3 (cinco meses)
- Início da montagem de pontos de embarque do novo píer
- Início da montagem do novo sistema de controle e processamento de bagagens
- Conclusão da saída rápida da pista 35L
- Instalação de quatro novas esteiras de bagagens
Fase 4 (cinco meses)
- Finalização de obras no pátio remoto
- Instalação da sétima esteira de restituição de bagagens
- Finalização da ampliação da área de desembarque
Fase 5 (seis meses)
- Finalização das obras do novo terminal de passageiros
- Entrega de 16 das 19 novas pontes de embarque
- Conclusão das obras no pátio do pavilhão de autoridades
- Finalização da repavimentação das pistas de taxiamento
Fase 6 (seis meses)
- Homologação da Anac
- Instalação das companhias aéreas, lojas e restaurantes
- Início das operações do novo terminal
Algumas obras, porém, já tiveram início, como explica Kleber Meira, diretor do Aeroporto de São Paulo – Congonhas. “Com tantas demandas, não podemos esperar até 2028 para fazer todas as entregas. Existem muitas questões que podem ser resolvidas no curto prazo. Algumas, inclusive, já foram entregues neste primeiro ano e muitas serão entregues nos próximos meses”, conta o executivo.
Entre as melhorias entregues, está o reordenamento das vias e meio-fios, além do recapeamento das ruas de acesso, implementação de um bolsão de carros de aplicativos, nova área de embarque e lounge de espera para carros de aplicativo. Tais mudanças, conforme demonstrou o diretor, resultaram em uma redução de 46% no trânsito do subsolo e de 25% no térreo.
O diretor conta ainda que as equipes de limpeza, segurança e inspeção foram reforçadas, bem como os elevadores inoperantes foram recuperados. O aeroporto também revitalizou as esteiras de bagagens, a sinalização horizontal e o pavimento do pátio, aumentou o número de assentos e pontos de energia (tomadas) do terminal, além de reformar os banheiros. A Aena também adquiriu dez ônibus 100% elétricos para as pontes de embarque remoto, reduzindo a emissão de poluentes, entre outras ações.
Quanto às obras em andamento, com prazo de entrega para os próximos meses, estão um novo espaço comercial no píer, revitalização da fachada, retrofit do sistema de ar condicionado, revitalização das pistas de táxi M e L, duas novas salas VIP e o aumento total de 40% nas áreas de embarque. Para março de 2025, já está prevista a ampliação da área de embarque remoto, que vai passar de 1,5 mil para 3,4 mil metros quadrados.
“A ampliação e modernização de Congonhas refletem a missão global da Aena de oferecer infraestrutura aeroportuária de excelência, conectando pessoas e promovendo o desenvolvimento sustentável. Este projeto reafirma nossa confiança no Brasil e nosso compromisso de entregar soluções inovadoras para o transporte aéreo”, declarou o presidente da Aena.
A cerimônia, que terminou com o ritual de pedra fundamental, também contou com a presença de Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos, Tomé Franca, secretário nacional de Aviação Civil, Felicio Ramuth, vice-governador de São Paulo, Roberto de Lucena, secretário de Viagens e Turismo do estado de São Paulo, e Elisabete França, secretária de Urbanismo e Licenciamento da Prefeitura de São Paulo, além de representantes de companhias aéreas da alta direção da Aena da Espanha e do Brasil.
Alta de atrasos e cancelamentos
É importante relatar, no entanto, que o Aeroporto de Congonhas enfrentou crises operacionais no mês de novembro, com alta de reclamações sobre obras, lotação de espaços, além de atrasos e cancelamentos de voos. A situação, operando com 60,7% de pontualidade (abaixo de 15 minutos), ficou ainda mais crítica em relação aos voos da Gol, que registrou uma pontualidade quase 18 pontos abaixo de Azul e Latam.
A Aena e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), bem como as companhias aéreas que operam no terminal, atribuem o problema a condições meteorológicas, como fortes chuvas e ventos, fenômenos que tendem a piorar frente à crise climática. “Nos últimos dias, tivemos muitos impactos na operação, em função do clima, não só de São Paulo, mas também dos locais de origem dos voos que chegavam”, explica Santiago Yus, presidente da Aena Brasil.
A administradora aeroportuária nega que as obras de ampliação e modernização do terminal sejam responsáveis pelo atrasos e cancelamentos. “No início de nossa gestão, o Aeroporto de Congonhas veio atuando 44 operações por hora, das quais 36 delas são de operação comercial. Recebemos o terminal com uma taxa de pontualidade, abaixo de 15 minutos, de 64%. Nos meses de junho e julho deste ano, passamos a performar como o Aeroporto mais pontual da categoria em todo o mundo, chegando a um patamar de 88% de pontualidade”, conta Yus.
A Gol, que já vinha enfrentando problemas de pontualidade no mesmo período do ano passado, teve um desempenho ainda pior em novembro deste ano, com apenas 51% dos voos chegando no horário previsto (pontualidade de 15 minutos). Já Azul e Latam, que também operaram abaixo da média, tiveram uma pontualidade de 69,4% e 68,2%, respectivamente.
“A infraestrutura aeroportuária depende de uma série de fatores, é um ecossistema que inclui o espaço aéreo, as companhias aéreas, os prestadores de serviço no pátio, entre muitos outros atores”, comenta Yus. “Por este motivo, optamos por trabalhar em um modelo de governança colaborativa, no qual fazemos uma série de análises, compartilhamos os resultados e tomamos decisões conjuntas para performar cada vez melhor”, declara o presidente da Aena Brasil.
Capacidade máxima
O mais recente Relatório do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), posicionou o Aeroporto de Congonhas entre os terminais com a pior pontualidade. O levantamento afirma que “há momentos de baixa demanda e outros em que a utilização da capacidade máxima é plenamente atingida”, em especial nos horários de pico e em estações mais chuvosas.
O relatório também argumenta que o funcionamento perto da capacidade máxima, de 44 operações por hora (80% do total de 55 voos por hora), “exige maior coordenação entre os diversos atores envolvidos na operação e reitera que condições adversas, como mudanças climáticas significativas possam impactar mais rapidamente o fluxo das operações em qualquer aeroporto”. Tais ocorrências em um terminal importante como o de Congonhas também tem o potencial de gerar um “efeito cascata”, impactando toda a malha aérea brasileira ao mesmo tempo.
Durante a cerimônia de lançamento da pedra fundamental das obras, Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos, também cobrou comprometimento da Aena e das companhias aéreas em implementar melhorias na governança conjunta do terminal, embora compreenda as dificuldades financeiras do setor no pós-pandemia. “Há casos que não temos controle, mas em situações normais, as empresas devem se comprometer a criar um ecossistema balanceado. Não podemos tolerar que a aviação de Congonhas tenha problemas de governância”, pontua.
Durante o período de obras, que prometem ampliar a capacidade e eficiência operacional, bem como o conforto dos passageiros, haverá um número ainda menor de operações por hora, com a redução de quatro operações por hora da aviação executiva. Segundo a direção da Aena, a medida garantirá maior fôlego e o terminal continuará operando normalmente.
Aena no Brasil
A Aena é responsável pela gestão de 79 aeroportos e dois heliportos em seis países. A companhia também é líder no Brasil, onde administra 17 aeroportos em nove estados, respondendo por 20% da malha aérea nacional e pela operação de Congonhas, o segundo maior em embarques e desembarques.
Desde 2020, gere os aeródromos de Recife (PE), Maceió (AL), João Pessoa (PB), Aracaju (SE), Juazeiro do Norte (CE) e Campina Grande (PB). Em 2023, assumiu Congonhas (SP), Campo Grande (MS), Uberlândia (MG), Santarém (PA), Marabá (PA), Montes Claros (MG), Parauapebas (PA), Uberaba (MG), Altamira (PA), Ponta Porã (MS) e Corumbá (MS).
Os dois blocos são administrados por diferentes sociedades de propósito específico: Aeroportos do Nordeste do Brasil (ANB) e Bloco de Onze Aeroportos do Brasil (BOAB).
Na Espanha, a Aena opera 46 aeroportos e 2 heliportos. É acionista controlador, com 51%, do aeroporto de Londres-Luton no Reino Unido, além de participar na gestão de 12 aeroportos no México, dois na Jamaica e um na Colômbia.
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