O turismo médico tem se fortalecido como um dos setores mais promissores da economia global, movimentando cerca de 30 bilhões de dólares anualmente. Pacientes de diversas partes do mundo buscam tratamentos de qualidade a custos mais acessíveis, o que demanda por hospitais e clínicas especializadas em países como Tailândia, Índia, Turquia e México.

O Brasil tem ganhado destaque nesse cenário, ocupando a quinta colocação no ranking latino-americano de turismo médico. O Brasil é um dos líderes mundiais em cirurgia plástica, atraindo turistas médicos interessados em procedimentos como rinoplastia, lipoaspiração e aumento de mamas. O país também atrai estrangeiros principalmente para procedimentos de cardiologia e odontologia, oferecendo uma infraestrutura hospitalar de alto nível e profissionais renomados. Hospitais como Albert Einstein, Sírio-Libanês e Hospital das Clínicas são referências internacionais e recebem pacientes de diversos países.

São Paulo lidera esse mercado no Brasil, concentrando 35% do turismo médico nacional. Além dos hospitais de ponta, a cidade se destaca pela realização de grandes congressos médicos, que impulsionam o setor e geram impacto direto na hotelaria.

Outro fator que impulsiona o turismo médico é a crescente especialização de certos países em procedimentos específicos. A Índia e a Tailândia, por exemplo, se destacam em cirurgias cardíacas e ortopédicas, enquanto a Turquia se destaca pelos transplantes capilares e tratamentos instantâneos. Já países como Colômbia e México apostam na estética, oferecendo desde cirurgias plásticas até tratamentos dermatológicos avançados. Esse foco tem levado governos e instituições privadas a investir na qualificação de profissionais e na certificação hospitalar para atender pacientes estrangeiros.

No entanto, apesar do crescimento expressivo, o turismo médico levanta desafios para os sistemas de saúde locais. A priorização de estrangeiros em hospitais privados pode agravar a desigualdade no acesso a tratamentos para a população local, especialmente em países em desenvolvimento. Em alguns destinos, como Índia e China, médicos e recursos são cada vez mais direcionados para atender turistas, enquanto a infraestrutura pública enfrenta dificuldades para suprir a demanda interna. Esse desequilíbrio reforça a necessidade de políticas que garantam um crescimento sustentável do setor, sem comprometer a qualidade e a acessibilidade dos serviços de saúde para os cidadãos.

Essa preocupação também é crescente no Brasil, especialmente em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde a demanda por serviços médicos internacionais está em expansão. A regulamentação do setor e a criação de incentivos para equilibrar o atendimento entre turistas e a população local foram discutidas por autoridades e instituições médicas. Enquanto o país avança nesse mercado, o desafio é garantir que o desenvolvimento do turismo médico traga benefícios não apenas econômicos, mas também sociais, garantindo um atendimento de qualidade para todos os pacientes.

São Paulo: a capital brasileira do turismo de saúde

Com 35% do mercado de turismo médico nacional, São Paulo é o principal destino para pacientes em busca de tratamentos especializados. A cidade é sede de congressos e eventos médicos de grande porte, que impulsionam a economia e geram demanda para a hotelaria.

O turismo médico em São Paulo segue em ritmo acelerado, impulsionado pelo aumento de eventos na área da saúde. Em 2024, o número de eventos cadastrados cresceu 25% em comparação com 2023, refletindo o fortalecimento do setor. O número total de participantes também acompanhou essa alta, registrando um aumento de 25%, o que demonstra a relevância da cidade como centro de referência para congresso

Segundo Toni Sando, presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB), destaca: “São Paulo é considerada a capital da saúde, não só em termos de turismo, mas em um contexto mais amplo. A cidade se destaca na saúde preventiva, estética, tratamentos corretivos e outros segmentos. Ela tem uma infraestrutura de saúde robusta, com equipamentos médicos de alta qualidade e clínicas especializadas.”

O setor de eventos também se beneficia desse movimento, com São Paulo sediando 32% dos congressos e feiras do segmento médico. Esse volume reforça a capacidade da cidade em promover conhecimento e capacitação profissional, atraindo especialistas da saúde de diversas partes do mundo. A infraestrutura, aliada às instituições de referência, faz com que o destino seja um hub estratégico para estudos e pesquisas médicas.

Uma tendência crescente no setor é a subsegmentação das especialidades médicas. “Antes, um médico poderia ser especializado apenas em cirurgia de mão; hoje, ele pode ser especializado em cirurgias dos dedos, das unhas ou das articulações. Essa evolução é muito positiva, pois abre espaço para eventos mais focados, muitas vezes menores, que podem ser realizados em diferentes locais, incluindo hotéis”, explica Sando.

 Esse processo também impacta a realização de congressos, criando oportunidades para encontros mais direcionados e personalizados, em complemento aos grandes eventos tradicionais do setor.

Além do crescimento no número de eventos, o apoio do SPCVB também se intensificou. Em 2024, houve um aumento de 8% no total de eventos médicos apoiados pela entidade, enquanto o número de participantes nesses encontros cresceu 2%. Dentre os eventos mais expressivos do ano, destacam-se o Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), que reuniu 105 mil participantes, e o Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, que atraiu 7,5 mil profissionais da área. Outros congressos relevantes incluem o Brasileiro de Nutrição (4 mil  participantes), o de Medicina Intensiva (3 mil), o de Medicina Geral da AMB (3 mil) e o da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

As projeções para 2025 indicam um crescimento ainda mais robusto. Até o momento, 42 eventos médicos já estão confirmados, totalizando 182.450 participantes esperados. Entre os principais encontros previstos estão a Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, que deverá receber 52 mil visitantes, a Semana Brasileira do Aparelho Digestivo, com 8 mil participantes, e a Sociedade Internacional para a Qualidade em Cuidados de Saúde, que reunirá 2.500 profissionais da área. A diversificação dos eventos e o aumento da demanda por turismo médico fortalecem a economia local, gerando oportunidades para hotéis, restaurantes e empresas especializadas em serviços de saúde e bem-estar.

A missão do Visit São Paulo é proporcionar aos visitantes mais do que apenas cuidados médicos ou conhecimentos adquiridos em eventos como congressos e feiras. A proposta é oferecer recomendações que ampliem a experiência da cidade, incentivando os turistas a explorarem sua riqueza cultural, gastronômica e de lazer, além dos aspectos mais formais de suas viagens. Isso implica em tornar São Paulo um destino completo, onde o visitante possa aproveitar tudo o que a cidade tem a oferecer, criando experiências memoráveis ​​e diversificadas

Sobre a segurança e a mobilidade urbana, o desafio é garantir que as pessoas possam se deslocar pela cidade com facilidade e confiança. “O grande desafio que enfrentamos nas grandes metrópoles é manter uma sensação de segurança, onde as pessoas possam se locomover com facilidade. A mobilidade urbana é um dos maiores desafios para nós”, destaca Toni Sando.

A adaptação da hotelaria para o turismo médico

A hotelaria no turismo de saúde desempenha um papel fundamental ao oferecer serviços especializados que vão além da simples acomodação. Com o aumento do turismo médico, os hotéis têm se adaptado para atender às necessidades específicas dos pacientes, como alimentação personalizada, conforto e apoio durante o período de recuperação. 

A certificação internacional tem sido um diferencial para garantir a qualidade no atendimento ao público hospitalar. O selo Joint Commission International (JCI), por exemplo, é um dos mais reconhecidos e atesta a excelência em serviços de saúde e hospitalidade. A busca por essas certificações é um passo essencial para consolidar o Brasil como um destino de referência no turismo médico.

A proximidade com centros médicos e hospitais de referência também é um fator decisivo para atrair esse público, que busca conveniência e segurança. Além disso, o atendimento humanizado e a infraestrutura voltada ao bem-estar dos pacientes contribuem para uma experiência mais satisfatória e tranquila durante a estadia.

“O turismo médico tem um impacto econômico maior, pois esses pacientes ficam mais tempo e gastam mais, considerando os custos com tratamentos médicos e passagens aéreas. A média de gasto é bem superior à dos congressos, que ficam por um período mais curto e gastam menos”, explica Gustavo Jarussi, diretor de Operações do Grupo na América do Sul do grupo Pestana.

No entanto, o segmento de turismo médico também apresenta desafios para os hotéis que desejam se especializar nesse nicho. “O principal desafio é entender as necessidades específicas de cada tipo de cliente. Cada especialidade médica exige um atendimento personalizado. Por exemplo, um paciente pós-cirurgia plástica tem necessidades diferentes de um paciente em tratamento odontológico ou transplantado. O acolhimento, a alimentação personalizada e o cuidado com o bem-estar são essenciais para atender esse público”, aponta Jarussi

Para ele, a criação de pacotes integrados, que incluam transporte, hospedagem e serviços médicos, é uma grande oportunidade de crescimento para o setor. “Embora não exista uma integração formalizada entre hotéis e hospitais, os pacientes muitas vezes precisam de apoio completo durante sua estadia e tratamento, o que poderia ser explorado de forma mais organizada”, sugere.

Jarussi também vê grandes oportunidades para o turismo médico no Brasil, com algumas áreas precisando de ajustes para melhorar a experiência do turista. “Uma melhoria importante seria reduzir a burocracia, como facilitar os vistos para tratamentos médicos e melhorar a cobertura dos planos de saúde internacionais para turistas”, comenta.

Além disso, ele acredita que a falta de informações centralizadas é um desafio a ser superado, e a criação de pacotes mais completos poderia oferecer aos turistas uma experiência mais fluida, desde a chegada até o retorno ao seu país de origem. Para ele, o futuro do turismo médico no Brasil é promissor, e o país está bem posicionado para seguir crescendo nesse mercado global, com a cirurgia plástica sendo uma das áreas que mais se destacam.

A hotelaria voltada ao turismo médico tem se adaptado para atender a um público específico, com necessidades diferenciadas durante sua estadia. O Hotel Pestana, localizado em São Paulo, é um exemplo disso, oferecendo uma infraestrutura estratégica próxima a hospitais de referência na cidade. Isso torna o hotel uma opção preferencial para pacientes que viajam para tratamentos médicos especializados, como cirurgias plásticas, tratamentos clínicos e até transplantes. A proximidade com centros médicos facilita a logística dos hóspedes e contribui para uma experiência mais tranquila e segura, essencial para quem está em recuperação.

Além da localização, o Hotel Pestana se destaca pelo atendimento personalizado, que vai muito além de uma simples hospedagem. “Oferecemos cardápios específicos para as necessidades dos pacientes, pois muitos ficam conosco por longos períodos, como 15 dias, para acompanhamento médico”, explica Jarussi. O hotel tem se preparado para esse público, proporcionando cuidados especiais com a alimentação e suporte para qualquer necessidade emergencial.

 “O que diferencia nosso atendimento é a atenção especial ao paciente e à sua família, com alimentação personalizada e cuidados durante toda a estadia”, completa Jarussi. A atenção aos detalhes e o foco no bem-estar dos pacientes têm sido um diferencial para garantir que a estadia de turismo médico seja o mais confortável possível.

“O Pestana possui uma grande área de eventos, com mais de mil metros quadrados, e cerca de 25% a 30% de nossos hóspedes são participantes de convenções e congressos médicos. Esses eventos podem aumentar a ocupação hoteleira da cidade em até 40%, dependendo do evento, como ocorre nos congressos de cardiologia”, afirma Jarussi.

Para atender a um público crescente, a rede hoteleira tem investido em infraestrutura diferenciada. Hotéis próximos a hospitais oferecem quartos adaptados, alimentação especializada e serviços exclusivos para pacientes em recuperação. A parceria entre hospitais e hotéis tornou-se cada vez mais comum, garantindo conforto e segurança para pacientes e acompanhantes.

Já o Transamerica International adota uma abordagem inclusiva e personalizada para atender diferentes perfis de hóspedes. Segundo Itanajara Halinski, gerente de Mercado do hotel: “Não fazemos uma segmentação clara entre hóspedes hospitalares, médicos e turistas tradicionais, pois muitos chegam de forma anônima ou por meio de agências. No entanto, todos são tratados com o mesmo nível de excelência. Para pacientes e acompanhantes que necessitam de cuidados especiais, contamos com uma equipe preparada para garantir que a estadia seja o mais confortável possível.”

Com o aumento do número de pacientes internacionais que buscam tratamentos médicos em São Paulo, Ita destaca: “O Brasil e, em especial, São Paulo, são reconhecidos mundialmente como polos de referência em tratamentos médicos e estéticos. Recebemos muitos hóspedes internacionais que vêm ao país especificamente para realizar cirurgias médicas e estéticas.”

“Trabalhamos em parceria com alguns hospitais da região e, embora saibamos que o paciente que recebe alta já está apto para estar em sociedade, seguimos protocolos rigorosos de limpeza e higienização para garantir a segurança e o bem-estar desses hóspedes”, finaliza a gerente.

Desafios e oportunidades no turismo médico

Apesar do grande potencial de crescimento, o turismo médico no Brasil ainda enfrenta desafios, como a escassez de agências especializadas que ofereçam suporte completo a pacientes internacionais. Muitos viajantes que buscam tratamento no país encontram dificuldades com agendamentos, tradutores e serviços de suporte, revelando uma oportunidade de mercado ainda pouco explorada.

A B.treat tem se destacado como uma assessoria de saúde que abre novas possibilidades para agentes de viagens interessados no turismo médico. A empresa oferece um suporte completo para pacientes internacionais que escolhem o Brasil para seus tratamentos. Inicialmente, seu foco era atender pacientes de Angola, que chegavam ao país sem assistência, mas rapidamente expandiu sua atuação para proporcionar um acompanhamento integral em todas as etapas do processo.

A iniciativa foi criada por Carolina Uip, filha do infectologista e ex-secretário estadual de Saúde David Uip, em parceria com duas sócias, Roberta Pfifer e Tamyres Seabra. A Brazilian Treatment and Medical Solutions (B.Treat) se posiciona no segmento premium, oferecendo desde transporte aéreo adaptado até serviços personalizados, como reservas em hotéis e restaurantes, tradução, traslados terrestres e suporte durante consultas médicas. Além do atendimento clínico, a empresa cuida de detalhes que tornam a experiência mais confortável, incluindo até a organização de eventos privados, como aniversários.

O turismo médico enfrentou desafios com a pandemia de Covid-19, mas também viu crescer a demanda de pacientes de outras regiões do Brasil em busca de atendimento em hospitais renomados de São Paulo, como o Sírio-Libanês, Einstein e Vila Nova Star. Diante desse cenário, a B.treat passou a atuar na desospitalização, auxiliando na recuperação de pacientes em ambientes controlados, como hotéis e apartamentos, garantindo suporte médico, fisioterapêutico e de enfermagem.

Benefícios para agências de viagem

De acordo com a B.treat, o turismo médico tem se transformado, com um aumento na procura por tratamentos no Brasil por parte de pacientes internacionais, principalmente de Angola, Uruguai e Estados Unidos. “O Brasil tem uma medicina reconhecida por sua qualidade e custos mais acessíveis. Para as agências de viagem, isso representa uma grande oportunidade de diversificação”, destaca Roberta Pfifer, sócia da Btreat.

As agências que desejam atuar nesse nicho podem expandir seus serviços, indo além do turismo tradicional e oferecendo uma experiência mais completa. “Nós não só organizamos a viagem, mas também cuidamos de toda a logística médica, como agendamento de consultas, exames e transporte acessível. Para as agências, isso significa oferecer um atendimento diferenciado, garantindo suporte especializado aos clientes”, explica a Btreat.

Além da demanda de pacientes de outros estados, a B.treat tem observado um aumento no número de pacientes internacionais, principalmente dos EUA. Muitos deles buscam o Brasil para realizar procedimentos como cirurgias plásticas e tratamentos dermatológicos a um custo mais acessível. Esse cenário abre novas oportunidades para as agências de viagem, que podem atuar diretamente na captação desse público e na organização de pacotes especializados.

Outro diferencial para as agências que ingressam no turismo médico é a possibilidade de colaboração com hospitais renomados, como o Sírio-Libanês e o Einstein, e com médicos de diversas especialidades. Essa conexão direta garante que os pacientes recebam os melhores cuidados médicos, enquanto as agências ampliam seu portfólio de serviços.

Para as agências de viagens, atuar no turismo médico significa oferecer um serviço mais personalizado e atrair um novo público. Além disso, a parceria com hospitais e médicos renomados pode se tornar um diferencial competitivo, especialmente em um momento de crescimento da demanda por procedimentos estéticos, check-ups e tratamentos de alta complexidade.