O presidente da Cop30, André Corrêa do Lago, afirmou que diversos países têm pressionado o Brasil a transferir a conferência climática da ONU de Belém para outra cidade em razão do aumento expressivo nas diárias dos hotéis durante o evento, previsto para acontecer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.
Corrêa do Lago, que chefia a conferência, disse que a situação está gerando insatisfação internacional. “Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à Cop por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou. Segundo ele, em alguns casos, o valor das hospedagens foi multiplicado por 15, motivando pedidos formais de transferência da sede do evento.
“De fato, os preços de Belém estão completamente abusivos. São mais de 10 vezes mais caros, 15 vezes o valor que os hotéis normalmente cobram em Belém. E há um esforço muito grande do governo para conseguir convencer os hotéis para baixar o preço, porque a legislação brasileria não pode impor isso aos hotéis. Acredito que talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que estão provocando”, declarou.
O presidente da Cop30 destacou que o impasse ganhou nova dimensão após entrevista do negociador africano Richard Muyungi à Reuters, na qual foi revelado que países chegaram a solicitar oficialmente a mudança da conferência. “Ficou público que países estão pedindo para o Brasil tirar a Cop de Belém”, acrescentou Corrêa do Lago.
A Cop30 será a primeira conferência climática da ONU na Amazônia e deve reunir chefes de Estado, ministros, diplomatas e representantes da sociedade civil de mais de 190 países. Em reunião de emergência do “Cop bureau”, realizada na terça-feira (29), o Brasil se comprometeu a apresentar até 11 de agosto um relatório com soluções para as questões de hospedagem.
Muyungi declarou que os países africanos não pretendem reduzir suas delegações por questões de custo. “Não estamos prontos para reduzir os números. O Brasil tem muitas opções em termos de ter uma Cop melhor, uma boa Cop. Por isso, estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse.
Outro diplomata ouvido pela Reuters afirmou que as reclamações sobre os preços em Belém vieram tanto de países ricos quanto de países em desenvolvimento.
Para atender à demanda, o governo anunciou a disponibilização de dois navios de cruzeiro com 6 mil leitos e reservas prioritárias para países em desenvolvimento, com diárias de até US$ 220. No entanto, o valor ainda é superior ao auxílio-moradia da ONU para algumas nações, de US$ 149 por noite.
Diplomatas de países africanos e europeus afirmaram à Reuters que ainda enfrentam dificuldade para garantir hospedagem, com tarifas chegando a US$ 700 por pessoa por noite. As autoridades brasileiras responsáveis pela organização da cúpula garantiram repetidamente que os países mais pobres terão acesso a acomodações que possam pagar.
Alguns governos estudam reduzir suas delegações ou, em casos extremos, avaliar a participação no evento caso a situação não seja solucionada. Krzysztof Bolesta, O vice-ministro do Clima da Polônia, afirmou à Reuters em julho: “Não temos acomodações. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo.”