Faltando menos de três meses para a COP30, apenas 47 dos 196 países membros da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) têm hospedagem confirmada em Belém, segundo dados da Casa Civil da Presidência da República. O número representa 24% do total e acende um alerta para a logística do evento que deve reunir milhares de pessoas na capital paraense.
A informação foi apresentada nesta quinta-feira (21) pela secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e pelo secretário-extraordinário para a COP30, Valter Correia, após reunião com o bureau da UNFCCC. “Nós faremos chamadas bilaterais com todos os países para fechar o conjunto de ofertas já feitas, priorizando as nações em desenvolvimento”, afirmou Belchior.
Segundo Correia, a questão de leitos não é mais um problema. O governo já mapeou 33 mil quartos, equivalentes a mais de 53 mil leitos, quando a Onu havia solicitado cerca de 24 mil para garantir a realização da conferência. O desafio, agora, é o preço.
“Temos quartos dentro do praticado em outras COPs. Mas os países precisam sair um pouco da sua zona de conforto, porque não é possível oferecer diárias a US$ 100 em hotéis vizinhos ao evento”, disse Correia, destacando que a maioria dos países que já confirmou hospedagem são nações desenvolvidas, com maior orçamento.
Segundo apurado pelo jornal O Globo, parte das reservas foi feita por meio da plataforma oficial, que concentra preços controlados. Outras oito delegações, porém, recorreram ao mercado livre, arcando com diárias até dez vezes mais caras que o normal.
Se a situação dos diplomatas tende a ser contornada, representantes de ONGs, academia, comunidades tradicionais e setor privado ainda enfrentam incertezas. O Observatório do Clima alerta para o risco de a COP30 se tornar a conferência “mais excludente da história”, devido à disparada nos preços de hotéis em Belém.
Em comparação a outras edições da COP, onde as tarifas costumam dobrar ou triplicar, na capital paraense há registros de valores até dez vezes acima do normal. Isso pode restringir a participação de grupos que historicamente marcam presença nos debates. O Brasilturis já havia conversado com Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), sobre os preços praticados para o período do evento.
Diante da pressão, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) abriu investigação para apurar possíveis práticas abusivas. “Já acionamos todos os hotéis e plataformas pedindo informações. Quem for caracterizado como cometendo abuso sofrerá as consequências legais. A liberdade de mercado existe, mas não pode haver abuso”, ressaltou Correia.
O governo espera que, após a rodada de ligações bilaterais com as delegações, haja um aumento no número de países com hospedagem confirmada, reduzindo os riscos de gargalos logísticos às vésperas da COP30.