São Paulo (SP) – O primeiro painel do 11º Fórum Abracorp, realizado nesta quinta-feira (28) no Hotel Grand Mercure São Paulo Ibirapuera, teve o tema “Mobilidade e Hospitalidade em movimento”. A programação reuniu representantes da Accor, Atlantica Hotels e Movida para debater os cenários e desafios de mobilidade e hospitalidade no mercado corporativo.
Ao abrir a discussão com um panorama do setor, André Sena, CCO das Américas da Accor, destacou o avanço da Accor no Brasil. “Temos hoje 443 hotéis com previsão de chegar em 600, tanto em capitais quanto no interior. Muitas unidades são focadas no corporativo, mas com atrativos de lazer, visto que clientes corporativos também precisam descansar”, pontua
Já Guilherme Martini, COO da Atlantica Hotels, comentou os impactos da instabilidade econômica internacional. “Sentimos já no mês de julho uma apreensão pelo impacto do ‘tarifaço’, mas em agosto já percebemos uma recuperação, pois ninguém aguenta segurar tanto. Foi mais um susto inicial, em que o mercado busca entender o que está acontecendo e quais serão os impactos”, declara.
Na visão de Jamyl Jarrus, diretor comercial da Movida, o desempenho do corporativo segue em alta. “O ano está bem, principalmente no corporativo. Temos percebido que as empresas estão trabalhando mais, nós estamos trabalhando mais. Então não tem sentido tirar o pé. Não tenho mais visto cair volume do corporativo, o que é um fato muito positivo. Não sentimos reflexo do que pode acontecer com o tarifaço. Por enquanto há uma estabilidade”, avalia.
Tarifas em debate
O tema da recomposição tarifária foi central na discussão. Jarrus pondera que “a recomposição de tarifa ainda não compensou a alta dos preços dos veículos do período de pandemia, mas o setor está reaquecendo”, aponta o diretor.
Martini explica que a pressão de custos também afeta a hotelaria. “Trabalhamos com ciclos anuais de revisão de tarifas. Tudo aumenta. Estamos tendo uma crise de mão de obra, forçando pagar mais para reter talentos em posições-chave. Procuramos fugir da discussão de preço e chegar na percepção de valor por parte do cliente”, afirma.
Sena reforça que o setor caminha para modelos mais dinâmicos de precificação. “Essa conversa tem que ir além do preço. Não somos apenas quartos de hotéis, mas parceiros dos gestores de viagens. Tínhamos só 15% dos hotéis com software de Revenue Management, agora é quase 100%, gerando uma variabilidade maior, resultando em preços mais baixos ou mais caros, buscando sempre agregar valor”, declara.
COP 30 e pressões de demanda
A Conferência do Clima da ONU (COP 30), que será realizada em Belém (PA) em 2025, também entrou na pauta. Martini avalia que a hotelaria tem sido alvo principal da discussão sobre preços. “A hotelaria foi pega pra Cristo numa discussão que é muito mais profunda, em um local incapaz de abrigar a quantidade de visitantes. Imagine o aparato de segurança, a retenção de colaboradores que podem ganhar mais em outros serviços, a necessidade de pessoas que falem inglês. É um custo enorme de adaptação”, afirma.
Jarrus lembra que o impacto ainda não chegou a outros setores. “A Movida é locadora oficial do evento, mas ainda não sentiu a alta na demanda. Estamos reforçando a frota para quando começarmos. Provavelmente só a hotelaria está sentindo isso”, observa.
Martini acrescenta que, em alguns casos, foram firmados acordos para limitar tarifas. “Por acordo com o governo, chegamos a vender tarifas de hotéis de alto padrão de até 100 dólares. É natural que haja aumento no preço por pressão de custos. Agora, abusos acontecem. Quando a demanda é absolutamente maior do que a oferta, os preços aumentam: é uma lei de mercado”, conclui.
Avanços tecnológicos
A tecnologia também foi discutida como motor de transformação. Jarrus destaca a personalização dos serviços a partir do uso de dados. “A mudança primordial é a utilização de dados em volumes nunca antes vistos. É uma revolução. O desafio é unificar tudo isso em uma única plataforma, que consiga integrar atrasos de aviões e outros imprevistos, além de maior personalização e facilidades”, explica.
Martini detalha iniciativas de automação na Atlantica. “Investimos num processo de automação de Request for Propostal (RFP)e buscamos retirar entraves da estrutura, como trancas de portas e totens para entrega de chaves, até chegar na retirada total das chaves da operação”, comenta.
Sena ressalta que a tecnologia precisa andar junto com o fator humano. “Tecnologia ajuda, mas não substitui, pois o valor humano é sempre o diferencial. Estamos focando na redução da fricção, eliminando elementos que não agregam valor e empoderando a linha de frente. Em dez anos, o processo será totalmente diferente do que é hoje. Temos que estar preparados para isso”, pontua.
Mão de obra e sustentabilidade
O tema da retenção de talentos também foi levantado. “Encontrar pessoas é difícil. Reter pessoas é ainda mais difícil. Treinamos, investimos e elas saem para uma empresa que paga quase nada a mais. Por isso, temos investido pesado em capacitação, revisitando todos os processos de contratação e benefícios, visto que a nova geração tem interesses muito diferentes”, avalia Sena.
Quanto à agenda ESG, Sena apresentou dados sobre a demanda do mercado. “64% dos clientes corporativos citam ESG como fator para o RFP, e 22% como obrigatórios. Eliminamos plásticos de uso único e implementamos técnicas como o ‘skip the clean’, que oferece pontos para clientes que abdicarem da limpeza diária dos quartos, entre outras medidas”, exemplifica.
Jarrus defende ainda maior proximidade entre gestores e fornecedores. “Conhecer o produto é extremamente importante, entender mais a necessidade do cliente, destravando vendas reprimida”, afirma.
Para Sena, o futuro do setor passa pela colaboração. “Precisamos trabalhar a rentabilidade com nossos investidores, entregar a previsibilidade que o cliente corporativo precisa e entregar valor para a cadeia como um todo. Para isso, é necessário transparência, dados e cocriação”, conclui.