BRL - Moeda brasileira
EUR
6,38
USD
5,45
Felipe Lima
Felipe Lima
Chefe de Redação - E-mail: felipe@brasilturis.com.br

LUXO É SINÔNIMO DE ENCANTO com Camila Barreto

Camilla Barreto assumiu em outubro de 2024 o cargo de CEO da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), sucedendo Simone Scorsato após assembleia que definiu o board para o biênio 2025/26. Com mais de 25 anos de experiência no turismo de luxo, Camilla construiu sua trajetória em empresas como Vail Resorts, IHG, Emiliano São Paulo e Barracuda Hotel & Villas, onde atuou como diretora de Operações e Desenvolvimento Estratégico. 

Formada em Direito pela PUC‑SP e em Hotelaria pelo Senac‑SP, é fluente em três idiomas e reconhecida por sua atuação estratégica na promoção da sustentabilidade e da autenticidade no turismo premium brasileiro.

Em um ano marcado por expectativas elevadas e ajustes estratégicos, o turismo de luxo brasileiro segue se consolidando como um segmento resiliente e em expansão. 

À frente da associação, Camilla acompanha de perto essa movimentação e reforça a importância de se entregar excelência, personalização e autenticidade para um público cada vez mais exigente e menos tolerante a propostas genéricas. Em entrevista exclusiva ao Brasilturis, a executiva compartilha insights sobre o desempenho do primeiro semestre, a atuação das operadoras, os desafios de posicionar o Brasil como destino de alto padrão e as tendências que devem nortear o mercado nos próximos meses.

Quais eram as principais expectativas do segmento de luxo no início de 2025? As projeções se confirmaram até agora?

Iniciamos o ano com uma perspectiva bastante positiva para o turismo de luxo no Brasil, especialmente em razão dos dados crescentes de recuperação do turismo internacional. 

Havia uma expectativa real de aumento no número de viajantes estrangeiros buscando experiências sofisticadas e autênticas, e essa previsão se confirmou de forma expressiva. O Brasil tem aparecido com frequência cada vez maior no radar de mercados estratégicos como Estados Unidos, França e Espanha, o que reforça a consolidação do país como um destino de luxo em ascensão.

Do ponto de vista do comportamento do consumidor, percebemos uma ampliação das exigências em relação à personalização das experiências, ao impacto positivo das viagens nos territórios visitados e à originalidade dos roteiros. 

O viajante de alto padrão valoriza menos o luxo material e mais a capacidade que o destino tem de emocionar, de surpreender e de proporcionar vivências memoráveis. Esse novo olhar exige que toda a cadeia turística se reinvente constantemente, e as operadoras precisam estar na vanguarda desse processo.

O primeiro semestre trouxe alguma surpresa para o setor?

Sim, tivemos surpresas importantes de ambos os lados. A mais relevante positivamente foi a amplificação da imagem do Brasil como destino autêntico e transformador na imprensa internacional. 

Publicações como Le Figaro, El País, Forbes, Wanderlust e outros veículos de renome dedicaram espaço ao país com ênfase na originalidade, diversidade e nas experiências de conexão com a natureza e com as culturas locais. Essa exposição qualificada tem um impacto direto na demanda e contribui para a valorização da nossa oferta turística junto aos principais mercados emissores de alto padrão.

Por outro lado, algumas decisões governamentais acabaram gerando incertezas, como a retomada da exigência do visto para turistas americanos e o aumento do IOF sobre transações cambiais. Embora essas medidas possam gerar efeitos mais significativos no médio e longo prazo, é importante ressaltar que o público do turismo de luxo tende a ser menos afetado por essas variáveis. Isso não elimina a necessidade de atenção, mas mostra que há resiliência. O impacto mais preocupante, na verdade, recai sobre a previsibilidade e a confiança dos parceiros internacionais, que precisam de estabilidade para planejar ações e vender o Brasil com segurança.

Como as operadoras têm se adaptado à crescente demanda por personalização, exclusividade e sustentabilidade?

Há um movimento claro de adaptação e amadurecimento por parte das operadoras brasileiras. Personalização, exclusividade e sustentabilidade deixaram de ser diferenciais e se tornaram exigências básicas do consumidor de luxo. 

Isso significa que os modelos de atendimento tradicionais, baseados em pacotes engessados e propostas padronizadas, já não têm mais lugar nesse segmento. A nova lógica de consumo demanda fluidez, empatia, escuta ativa e autonomia para ajustar a experiência de acordo com o perfil e os desejos de cada cliente.

As operadoras que estão se destacando são aquelas que vêm investindo em capacitação contínua de suas equipes, desenvolvendo processos internos mais dinâmicos e aprimorando seu repertório cultural e técnico. Elas entendem que vender luxo não é vender ostentação, e sim entregar profundidade. Um operador que deseja atuar neste mercado precisa entender o destino em sua essência, conhecer os fornecedores locais, respeitar o território e ter sensibilidade para construir jornadas que encantem e provoquem transformação.

O aumento do IOF influenciou o turismo de luxo emissivo? Isso redirecionou o interesse para experiências nacionais?

O aumento do IOF certamente gerou preocupação no mercado como um todo, especialmente em segmentos mais sensíveis à variação cambial. No entanto, no turismo de luxo, esse impacto foi bastante atenuado. Isso ocorre porque o cliente de alto padrão não toma suas decisões com base apenas em valores absolutos, e sim no valor percebido da experiência. Desde que o serviço entregue seja de altíssima qualidade, um acréscimo de 1% a 3% na taxa cambial não é determinante para o abandono de uma viagem internacional.

Por outro lado, não podemos ignorar que esse contexto acaba impulsionando o interesse por experiências nacionais, especialmente quando o Brasil oferece produtos à altura das expectativas desse público. Destinos brasileiros com infraestrutura de luxo, narrativa autêntica e vivências exclusivas têm se beneficiado desse cenário. O crescimento do mercado doméstico não é resultado apenas da alta do dólar, mas de uma maturidade da oferta brasileira, que passou a dialogar de forma mais sofisticada com o viajante premium.

Que produtos ou destinos tiveram desempenho acima das expectativas em 2025? 

Os produtos que mais se destacaram foram aqueles com forte identidade local, apelo sustentável e foco em experiências imersivas. Percebemos uma valorização crescente de destinos mais remotos, onde o luxo se expressa pela simplicidade, pela conexão com a natureza, pela exclusividade e pelo silêncio. 

O viajante de luxo busca hoje aquilo que o dinheiro não compra facilmente: tempo de qualidade, descanso mental, experiências genuínas e memórias afetivas. A lógica do “sentir” superou a do “ter”.

Ainda assim, é impossível não citar o Rio de Janeiro como um destaque absoluto. A cidade continua sendo a principal porta de entrada do Brasil, com grande conectividade internacional e um imaginário cultural extremamente poderoso. Apesar dos desafios estruturais, o Rio segue no topo da preferência, especialmente como ponto de partida para roteiros mais aprofundados que combinam grandes centros urbanos com experiências imersivas em outros territórios.

Qual o papel das operadoras na promoção do turismo de luxo brasileiro no exterior? Ainda há desafios nessa ponte?

As operadoras inbound têm um papel vital na internacionalização do Brasil como destino de luxo. Elas são o elo que conecta os fornecedores locais aos buyers e agentes internacionais. Para que essa engrenagem funcione, é essencial que as operadoras estejam bem preparadas, conheçam profundamente os produtos que vendem, participem de feiras internacionais de luxo e atuem em parceria com entidades como a Embratur e a BLTA.

Entre os principais desafios, destaco a necessidade de desenvolver narrativas mais claras sobre o Brasil como destino premium. O país ainda é visto por muitos mercados emissores de forma estereotipada, e cabe às operadoras ajudar a desconstruir essa imagem. 

É preciso apresentar o Brasil como um mosaico de experiências sofisticadas e diversas, com alto valor agregado, excelência em serviços e autenticidade. Isso demanda estratégia, capacitação e, principalmente, articulação entre os diversos atores do trade.

Você acredita que as operadoras estão conseguindo se posicionar como curadoras de experiências no mercado de luxo?

Algumas sim, mas ainda há um longo caminho a percorrer. As operadoras que vêm se destacando são aquelas que compreenderam a necessidade de criar núcleos específicos para o atendimento premium. Esse tipo de atendimento exige outra mentalidade: o foco não está em vender um pacote, mas em construir uma história junto com o cliente. É necessário oferecer autonomia, adaptação, empatia e conhecimento profundo do destino e do viajante.

No turismo de luxo, o atendimento ultrapersonalizado é regra. O cliente quer se sentir único, reconhecido e compreendido. Isso exige tempo, atenção aos detalhes, flexibilidade e repertório. Mais do que seguir um script, o operador precisa ter sensibilidade para perceber o que o cliente deseja — mesmo que ele ainda não tenha verbalizado. Essa capacidade de antecipar necessidades e superar expectativas é o que transforma uma boa viagem em uma experiência inesquecível. Encantar, e não apenas atender, é o novo padrão.

Quais caminhos as operadoras devem seguir no segundo semestre para atender às novas demandas do turismo de luxo?

As operadoras precisam, antes de tudo, entender que o consumidor atual tem o mundo na palma da mão. A concorrência é global e a experiência de compra precisa ser fluida, confiável e personalizada. Não basta oferecer bons produtos; é necessário facilitar o processo, reduzir fricções e entregar soluções com agilidade e inteligência.

No segundo semestre, vejo como prioridade o fortalecimento das relações com fornecedores locais, a curadoria de roteiros que combinem centros urbanos com destinos de natureza e o reforço da presença internacional em eventos do setor. Também é essencial investir na formação de equipes com perfil consultivo e culturalmente preparado, capazes de atuar como verdadeiros anfitriões da marca Brasil.

O futuro do turismo de luxo é relacional. As operadoras que entenderem isso sairão na frente. Trata-se menos de vender destinos e mais de construir vínculos com o cliente, com o território e com o propósito da viagem.

LEIA MAIS NOTÍCIAS

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, 
necessariamente, a opinião deste jornal

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

MAIS LIDAS

NEWSLETTER

    AGENDA

    REDES SOCIAIS

    PARCEIROS