Na era da automação e da inteligência artificial, a figura do mordomo permanece como um dos maiores símbolos de exclusividade e atenção personalizada na hotelaria de luxo. Mais do que um serviço, ele representa a materialização da hospitalidade refinada, da antecipação de desejos e da discrição impecável. Em hotéis como o Heritance Aarah, nas Maldivas, ou em marcas europeias tradicionais como The Ritz London, The St. Regis e os palacianos da Dorchester Collection, o butler é a extensão do hóspede — um facilitador silencioso do conforto absoluto.
A palavra “mordomo” vem do francês antigo bouteiller, que significava “porteiro da adega”, responsável pelos vinhos nas casas nobres da Idade Média. Com o tempo, essa função evoluiu e, no século XIX, tornou-se figura central nas mansões vitorianas, coordenando a equipe doméstica e garantindo a precisão cerimonial. Esse legado foi absorvido pela hotelaria de alto padrão, onde o mordomo passou a ser sinônimo de atendimento que vai além da excelência: tão invisível quanto indispensável.
Hoje, o mordomo não apenas desfaz malas ou serve champanhe. Ele organiza jantares privativos, planeja surpresas românticas, cuida de reservas concorridas, desenha experiências sob medida e, acima de tudo, conhece o hóspede antes mesmo da chegada. No Heritance Aarah, por exemplo, cada vila conta com um butler pessoal que atua como anfitrião exclusivo durante toda a estadia. Treinados com rigor, esses profissionais combinam empatia, discrição e eficácia — seja num piquenique à beira-mar, um banho aromático ao pôr do sol ou a curadoria de atividades conforme o perfil do viajante.
Já em marcas como o St. Regis, o butler ainda serve café da manhã com luvas brancas, escreve cartões à mão e embala malas com técnica impecável. Na Dorchester Collection, hotéis como o Plaza Athénée e o Hotel Eden mantêm protocolos históricos e savoir-faire clássico aliados à inovação contemporânea. No universo da hospitalidade de luxo, onde o serviço é fator decisivo entre experiências memoráveis ou apenas agradáveis, o mordomo é um diferencial estratégico. Em tempos em que o cliente valoriza tempo, personalização e autenticidade, ele entrega exatamente isso: um serviço sem fricções, com rosto humano e atenção minuciosa.
Em uma indústria voltada à criação de memórias únicas, o mordomo é quem transforma uma simples estadia em um capítulo inesquecível. Longe de ser um vestígio anacrônico da aristocracia europeia, ele é hoje um pilar sofisticado da hotelaria de luxo. Do charme dos palácios franceses às águas cristalinas das Maldivas, o butler contemporâneo é guardião da arte de servir com elegância e alma. Em tempos de experiências customizadas e busca por significado, ele ressurge como protagonista de uma hospitalidade atemporal, onde cada gesto carrega uma intenção e cada detalhe, um toque de magia.
Já dizia Odete Roitman em 1988: mordomo com luva branca no Brasil é o suprassumo da cafonice. Mas a figura em si continua essencial — ainda que vestida de camisa polo e calça cáqui.