Dois meses após a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) encerrar definitivamente as operações da Voepass, a aviação regional brasileira enfrenta uma retração significativa. O segmento, agora praticamente concentrado na Azul Conecta — subsidiária regional da Azul —, registra números bem abaixo dos apresentados no mesmo período do ano passado.
De acordo com relatório da Anac, em julho de 2025 a Azul Conecta transportou apenas 5.208 passageiros. No mesmo mês de 2024, a Voepass havia atendido cerca de 99,4 mil viajantes, operando sob as marcas MAP e Passaredo. A queda representa 34,6% na comparação anual, segundo informações publicadas pela Folha de São Paulo.
A Azul, que já atravessa um processo de reestruturação após entrar com pedido de Chapter 11 nos Estados Unidos em maio deste ano, vem enxugando sua malha. Entre janeiro e março, foram encerrados voos em 14 cidades, como Campos (RJ), Mossoró (RN), Três Lagoas (MS) e Ponta Grossa (PR). Desde julho, a aérea também reduziu frequências e eliminou mais de 50 rotas consideradas deficitárias. A companhia justifica as medidas citando alta do dólar, custos operacionais crescentes, limitações de frota e os ajustes ligados ao processo judicial.
Enquanto a Azul diminui presença, outras companhias regionais tentam ocupar espaço. A Abaeté Aviação, sediada na Bahia, anunciou em agosto que ampliará sua oferta para a alta temporada, entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026. Serão 460 voos e 4.140 assentos disponibilizados, um crescimento de 16% em relação ao mesmo período no ano anterior. A empresa opera duas rotas estratégicas, Salvador–Morro de São Paulo e Salvador–Boipeba, ambas em destinos turísticos consolidados no estado.
Segundo o CEO Héctor Hamada, o aumento é reflexo da maior conectividade internacional de Salvador. “Em março registramos aumento de 50% no número de estrangeiros em nossas rotas. Voos como Paris–Salvador, da Air France, ajudam nesse resultado. O verão é naturalmente o período de maior procura e conseguimos responder rapidamente à demanda”, afirmou.
Em julho, a Abaeté transportou 556 passageiros, alta de 43% sobre o mesmo mês de 2024. Apesar do crescimento, a participação ainda é mínima: apenas 0,006% dos cerca de 9 milhões de passageiros transportados no mercado doméstico no período.
Na tentativa de reverter o cenário de retração, o Ministério de Portos e Aeroportos lançou, em junho, o programa AmpliAR, que prevê a concessão de 19 aeroportos regionais da Amazônia Legal e do Nordeste. A ideia é atrair operadores privados para investir em infraestrutura e estimular a aviação regional. A abertura das propostas está marcada para novembro, com expectativa de melhorar a conectividade em áreas hoje pouco atendidas.