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Felipe Lima
Felipe Lima
Chefe de Redação - E-mail: felipe@brasilturis.com.br

Novo patamar corporativo

Levantamento da FecomercioSP e Alagev mostra que o turismo corporativo movimentou R$ 71 bilhões no primeiro semestre, mantendo ritmo de alta e consolidando sua importância estratégica na economia brasileira

O turismo corporativo brasileiro começou 2025 com fôlego e resiliência, segundo dados do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), estudo mensal realizado pela FecomercioSP em parceria com a Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev). O levantamento tem se consolidado como o principal termômetro do segmento, reunindo dados do IBGE — por meio da Pesquisa Anual de Serviços e da Pesquisa Mensal de Serviços — para calcular o volume financeiro movimentado por empresas em viagens, hospedagens, locações, eventos e outros serviços associados à atividade de negócios.

 

Com base nas ponderações estatísticas e na atualização dos valores pelo IPCA, o LVC indica que o setor encerrou o primeiro semestre de 2025 com faturamento recorde de R$ 70,8 bilhões, o maior valor da série histórica iniciada em 2011. O número representa um crescimento real de 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado, confirmando a continuidade do ciclo de expansão observado desde 2023.

 

Mesmo diante de um cenário macroeconômico desafiador, com juros elevados e custos de serviços ainda pressionados, o turismo corporativo manteve desempenho vigoroso. Somente em junho, as empresas brasileiras destinaram R$ 12,6 bilhões a deslocamentos, hospedagens e eventos, resultado 4,7% superior ao de 2024, o que demonstra estabilidade após meses de forte aceleração.

 

O ambiente econômico mais amplo também contribui para esse desempenho. O PIB brasileiro cresceu 3,4% em 2024, e, no primeiro trimestre de 2025, avançou 1,4%, puxado sobretudo pela agropecuária e pela expansão dos serviços, de acordo com o IBGE. A combinação de setores dinâmicos e a retomada de feiras, congressos e visitas comerciais ampliaram a circulação de profissionais e empresas, especialmente a partir de março, quando o calendário corporativo volta a operar em plena capacidade.

 

Mesmo com a taxa Selic próxima de 15%, que encarece o crédito e reduz a margem de investimentos, as companhias seguem priorizando viagens de negócios como ferramenta estratégica. A maturidade na gestão orçamentária e a adaptação a preços mais altos reforçam a capacidade do setor em absorver variações de custos sem comprometer suas atividades.

Crescimento contínuo e recordes mensais 

A trajetória das viagens corporativas ao longo de 2025 confirma o vigor do setor e a consistência da retomada observada desde o ano passado. Entre janeiro e junho, todos os meses registraram resultados positivos em relação a 2024, com novos recordes de faturamento e variações acima da média histórica do levantamento.

Em janeiro, tradicionalmente um mês de menor movimentação por conta do período de férias e da ausência de grandes eventos, o setor surpreendeu ao alcançar R$ 8,1 bilhões, um avanço de 6,1% frente ao mesmo mês do ano anterior. Segundo o LVC, parte desse resultado decorre da demanda aquecida em sintonia com o crescimento da economia, mas também do encarecimento dos serviços turísticos, como tarifas aéreas e hospedagens, que subiram mais de 10% em média.

O ritmo se intensificou em fevereiro, quando o levantamento apontou R$ 11,6 bilhões em gastos corporativos, crescimento de 7% sobre o mesmo período de 2024 e o maior volume já registrado para o mês desde o início da série histórica. O desempenho foi impulsionado por um efeito calendário favorável, já que o Carnaval ocorreu em março, deixando o mês com mais dias úteis, além de uma economia em expansão, sustentada pelo agronegócio e pela resiliência dos serviços.

Com a retomada plena do calendário corporativo, março consolidou a tendência de alta. O setor movimentou R$ 12,8 bilhões, avanço de 7,2% em relação ao mesmo mês de 2024. Esse foi o primeiro mês do ano em que o segmento voltou a operar em ritmo total, após as férias e os feriados, marcando o início do ciclo mais forte de eventos, congressos e viagens técnicas no país.

O segundo trimestre manteve o fôlego. Em abril, o faturamento atingiu R$ 12,5 bilhões, representando crescimento de 9,5%, a maior variação em dois anos. O avanço refletiu o desempenho do PIB do primeiro trimestre, que subiu 1,4%, puxado pela boa safra agrícola e pela ampliação dos negócios tanto públicos quanto privados.

O mês seguinte manteve o mesmo patamar: maio registrou também R$ 12,5 bilhões, alta de 8,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado foi favorecido pela redução das tarifas aéreas médias, conforme dados da Anac, que permitiu uma realocação dos gastos corporativos — menos despesas com passagens e mais investimentos em hospedagem e eventos.

Por fim, junho consolidou o semestre com R$ 12,6 bilhões, crescendo 4,7% e levando o total acumulado de janeiro a junho a R$ 70,8 bilhões, alta de 7,4% no comparativo anual. Embora o ritmo de crescimento tenha sido ligeiramente menor, especialistas destacam que o resultado representa estabilidade em um patamar elevado, reflexo direto da maturidade do setor e da manutenção da agenda de eventos e reuniões corporativas já programadas.

Economia aquecida e gestão madura

Os recordes registrados pelo Levantamento de Viagens Corporativas (LVC) ao longo do primeiro semestre de 2025 não são fruto do acaso. Por trás do crescimento consistente, há um conjunto de fatores econômicos, estruturais e comportamentais que sustentam a expansão do turismo de negócios no país.

Entre os principais vetores está o desempenho da economia brasileira, que segue em trajetória positiva mesmo diante de um cenário de juros elevados. O Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresceu 3,4% em 2024 e manteve o impulso nos primeiros meses de 2025, com alta de 1,4% no trimestre inicial, conforme dados do IBGE. O agronegócio foi um dos grandes responsáveis por essa tração, beneficiado por uma safra excepcional de milho e trigo, o que gerou reflexos positivos sobre toda a cadeia produtiva e estimulou o deslocamento de equipes técnicas, fornecedores e investidores.

O setor de serviços também exerceu papel fundamental no desempenho do turismo corporativo. A retomada integral das feiras e congressos, muitos programados ainda em 2024, garantiu uma movimentação intensa em centros de convenções e hotéis nas principais capitais do país. Em abril e maio, mesmo com a incidência de feriados prolongados, o mercado manteve-se aquecido, reforçando o entendimento de que a sazonalidade tradicional do calendário corporativo vem se diluindo.

Além da demanda aquecida, o LVC aponta mudanças relevantes no comportamento das empresas. O crescimento do segmento reflete maior eficiência na gestão das viagens e uma reavaliação das políticas corporativas. Os gestores, mais experientes após anos de ajustes e crises, têm conseguido equilibrar custos e necessidades operacionais, priorizando deslocamentos estratégicos e ampliando a produtividade dos investimentos.

O transporte aéreo, segundo a Anac, apresentou queda média nas tarifas em maio e junho, o que proporcionou maior flexibilidade orçamentária. Esse movimento permitiu que muitas empresas aumentassem a frequência de viagens ou redistribuíssem recursos para outras áreas do turismo corporativo, como hospedagens e eventos. Já a hotelaria manteve a tendência de alta nos preços. O Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) registrou aumentos superiores a 15% em algumas regiões, mas a alta taxa de ocupação, que ultrapassou os 60% no início do ano, reforça que o mercado segue aquecido.

Outro ponto que contribui para a expansão é o investimento público e privado em eventos e ações comerciais. O aumento dos gastos do governo federal e o otimismo entre empresas de médio e grande porte geraram uma cadeia virtuosa: mais feiras, congressos e encontros corporativos, e, consequentemente, mais deslocamentos e contratações de serviços turísticos.

Alerta para o segundo semestre

Apesar da força do primeiro semestre, os dados do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC) também apontam para um ambiente mais desafiador nos próximos meses. A sequência de recordes, que levou o setor a movimentar R$ 70,8 bilhões entre janeiro e junho, convive com indicadores que sugerem moderação do ritmo de crescimento, especialmente a partir do segundo semestre de 2025.

Um dos principais fatores de pressão é a taxa Selic, próxima de 15% ao ano, patamar que encarece o crédito e inibe novos investimentos. Embora o impacto sobre o turismo corporativo não seja imediato, o ambiente financeiro mais restritivo tende a afetar o planejamento orçamentário das empresas, principalmente no médio prazo. De acordo com o LVC, a menor variação mensal em junho (4,7%) já reflete essa transição gradual, com companhias adotando uma postura mais cautelosa diante de custos elevados e incertezas macroeconômicas.

A inflação de serviços é outro desafio relevante. O setor hoteleiro, por exemplo, segue registrando aumentos expressivos: o Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) apontou elevação média superior a 15% nas tarifas, enquanto o IBGE registrou alta de 11,6% nas hospedagens em abril. Esses reajustes, somados à valorização do transporte rodoviário interestadual (+5,68%), pressionam as despesas das empresas e reduzem margens de eficiência.

No cenário externo, a atenção se volta para o chamado “tarifaço americano”, política de aumento de alíquotas comerciais adotada pelo governo dos Estados Unidos e que pode afetar exportações brasileiras. Embora o impacto direto sobre o turismo corporativo ainda seja incerto, analistas alertam que eventuais desacelerações na economia global podem refletir-se na redução de viagens internacionais de negócios e na revisão de rotas comerciais.

Além disso, o reforço da base de comparação é outro fator que tende a desacelerar o crescimento percentual nos próximos meses. Em 2024, o segundo semestre registrou altas mais expressivas (cerca de 7%), o que torna mais difícil repetir taxas semelhantes sobre uma base tão elevada. Como resultado, mesmo que o faturamento siga em expansão, a tendência é de crescimentos mais moderados e próximos à estabilidade.

Ainda assim, os especialistas destacam que essa desaceleração não representa retração. O turismo corporativo tem demonstrado capacidade de adaptação e planejamento, sustentada por uma agenda de feiras, congressos e eventos já confirmados até o fim do ano. Além disso, o câmbio mais estável e a redução nas tarifas aéreas médias, observada pela Anac, contribuem para equilibrar custos e manter o dinamismo do mercado.

Estabilidade e continuidade 

Os números recordes do primeiro semestre reforçam que o turismo corporativo brasileiro alcançou um novo patamar de maturidade. A partir de agora, o desafio passa a ser manter o ritmo de crescimento em meio a um cenário econômico mais exigente e a um ambiente global incerto.

 

Segundo análises do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), a tendência é que o segundo semestre de 2025 mantenha desempenho positivo, ainda que em velocidade mais contida. O volume de eventos e feiras já programados até dezembro, muitos com planejamento iniciado em 2024, deve assegurar a continuidade da movimentação de viagens de negócios, especialmente nas capitais e polos regionais.

Para o curto prazo, o setor deve se beneficiar de variáveis conjunturais favoráveis, como câmbio mais estável, redução das tarifas aéreas médias e expansão gradual das conexões domésticas. Essas condições permitem que as empresas mantenham deslocamentos estratégicos sem comprometer seus orçamentos. Ao mesmo tempo, a resiliência da demanda mostra que as viagens corporativas já são tratadas como investimento essencial, não mais como despesa contingente.

No médio prazo, o LVC projeta um cenário de estabilidade com crescimento sustentável, impulsionado pela consolidação de práticas de gestão mais eficientes. As empresas seguem aprimorando suas políticas de viagens, negociando tarifas corporativas, ampliando o uso de tecnologia e priorizando deslocamentos de maior retorno comercial. Essa profissionalização tende a equilibrar custos e manter o segmento competitivo mesmo diante de oscilações econômicas.

Já no longo prazo, fatores externos permanecem no radar. O impacto do tarifaço norte-americano, a eventual desaceleração da economia global e as incertezas fiscais domésticas podem interferir nas projeções para 2026. Ainda assim, há oportunidades: novos acordos bilaterais e o fortalecimento de setores exportadores, como o agronegócio e a tecnologia, podem gerar novas rotas comerciais e maior volume de viagens internacionais de negócios.

 

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