São Paulo (SP) – Luizomar de Moura, técnico do Osasco Voleibol Clube e da Seleção Queniana de Voleibol Feminino, marcou presença 4º Abav Meeting, realizada nos dias 10 e 11 de dezembro no Meliá Paulista. O treinador começou a palestra “A rede que une sonhos: esporte, trabalho, viagens e propósito” com um convite ao público para refletir sobre os atributos associados ao esporte, em um exercício de “aquecimento”, como definiu.
A partir dessa lista, o treinador destacou que os valores elencados pelo público também fazem parte da rotina de profissionais de outros setores. “Vocês também convivem com esses atributos. A diferença é que nós vivemos desses atributos”, afirma. Ele reforça que foco, sacrifício, excelência, objetivo e motivação estão presentes em cada decisão de um técnico, que recebe do clube e dos patrocinadores a missão de entregar resultados consistentes.
Luizomar também comentou a própria trajetória na modalidade e a convivência com referências do voleibol nacional. “Eu aprendi durante muito tempo que você pode ser um bom camisa 10 em um mundo que tem dois Pelés de voleibol: Zé Roberto e Bernardinho. Eu me considero um grande camisa 10 por tudo que fiz na minha trajetória”, declara.
Em seguida, narrou o episódio em que sua esposa, ao explicar em uma festa escolar que ele era técnico de vôlei, ouviu a comparação imediata com Bernardinho. “Quando ela me contou essa história, eu falei: ‘Poxa, será que eu nunca botei meu espaço?’”, relata, antes de completar que precisou desenvolver seu próprio estilo para “sobreviver sendo camisa 10 e não sendo Pelé”.
Três atributos centrais
A partir daí, o treinador selecionou três atributos centrais para relacionar ao ambiente corporativo: entusiasmo, trabalho em equipe e espírito campeão.
Entusiasmo
O primeiro ponto surgiu de uma lembrança de sua juventude, quando ouviu de seu treinador no Corinthians que seu melhor fundamento era a vibração. “Eu falei: ‘Vai para o inferno, Toninho. Vibração?”’. Eu queria tanto que ele falasse bloqueio ou ataque”, recorda. Ao longo do tempo, porém, compreendeu o peso do entusiasmo para a dinâmica de um grupo. “Todo time precisa de um cara como você”, relembra ter escutado.
Hoje, utiliza esse parâmetro ao selecionar atletas. “Quando tenho duas pessoas com qualidade técnica semelhante, o entusiasmo e a força de vontade têm um peso muito grande na decisão”, conta. Para ele, líderes devem identificar em suas equipes quem cumpre esse papel de sustentação emocional e de energia, o equivalente ao “rádio” que impulsiona o conjunto.
Trabalho em equipe
O segundo atributo, trabalho em equipe, foi ilustrado pela experiência à frente da Seleção Queniana de Voleibol Feminino em Tóquio 2021. Ele relatou que a Federação Internacional solicitou a preparação da equipe nos moldes das grandes seleções olímpicas e pediu que mantivesse o treinador responsável pela classificação, o coach Paul, no grupo de trabalho.
“Ele falou assim: ‘Luís, eu concordo que não é o melhor sentimento, mas pelo desenvolvimento do voleibol queniano, eu tenho que colocar a minha vontade de lado e seguir’”, conta. A postura de seu colega reforçou, segundo ele, que “ninguém é maior do que o time”. “Não me interessa quem vai colocar a bandeira em cima da montanha, desde que a bandeira seja do nosso time”, afirma.
Luizomar destacou ainda a necessidade de cada membro da equipe compreender sua função, inclusive nas tarefas menos visíveis. Citou ainda o profissional que calibra diariamente as bolas de treino e outro responsável por conferir a altura da rede, além da funcionária que prepara o café no ginásio em Osasco. “Conhecer a sua equipe e levar a importância do trabalho de cada um é muito importante”, destaca.
O treinador também relatou um episódio em que uma mudança tática sugerida por seus assistentes reverteu um jogo. Após perder os dois primeiros sets por grandes diferenças, decidiu manter inicialmente a formação planejada, até aceitar a proposta do time técnico e virar a partida.
“No outro dia no jornal: ‘Luizomar, gênio’. Na realidade, quem teve o insight foi o meu staff”, afirma. No vestiário, pediu uma salva de palmas aos auxiliares, reforçando a importância do reconhecimento. “Eles fariam o seu trabalho de qualquer maneira, mas o reconhecimento do líder gera um ambiente muito legal”, salienta.
Espírio campeão
O terceiro e último atributo, espírito campeão, foi definido como a disposição de enfrentar desafios mesmo quando o cenário é desfavorável. “Não é o espírito de campeão, é o espírito campeão. É saber que vai ser difícil, que muitas vezes você não vai ter êxito, mas você querer estar dentro de quadra”, explica.
Para ele, essa mentalidade é restrita a poucos. “Muita gente, quando sabe que não vai ganhar, fala: ‘Eu não vou colocar minha cara lá’. Mas o prazer de estar no momento, o prazer de tentar mesmo quando a derrota é certa, para mim é sempre muito importante”, finaliza.







