Prestes a completar um ano, o programa Voa Brasil, lançado pelo governo federal com a promessa de vender até 3 milhões de passagens aéreas por R$ 200 o trecho, ainda não decolou. De julho de 2024 a maio de 2025, apenas 41.165 bilhetes foram comercializados, segundo dados do Ministério de Portos e Aeroportos — o equivalente a apenas 1,37% da meta. A baixa adesão, somada à queda na oferta mensal e a críticas de especialistas, revela os desafios de democratizar o transporte aéreo com efetividade.
A iniciativa foi pensada para beneficiar aposentados do INSS que não viajaram de avião nos últimos 12 meses. No entanto, fatores como o modelo de acesso via plataforma do governo, a limitação de datas e horários oferecidos pelas companhias aéreas e a renda apertada da maioria dos aposentados inviabilizam a participação de grande parte do público-alvo. Atualmente, cerca de 70% dos aposentados ganham até um salário mínimo (R$ 1.518), o que dificulta a inclusão de despesas como tarifas de embarque, transporte terrestre e hospedagem.
De janeiro a maio deste ano, o volume de passagens emitidas caiu de 5.308 para 2.604. Em maio, a Gol, por exemplo, vendeu apenas dez bilhetes — número atribuído a falhas no sistema da empresa, já que ela liderava emissões. A Latam, que lidera as emissões, somou 1.851 passagens no mês, seguida pela Azul, com 743. Para as companhias, a oferta depende de disponibilidade de assentos ociosos, principalmente em períodos de baixa temporada, o que limita a regularidade do programa.
Na avaliação de especialistas, como o advogado André Soutelino, o Voa Brasil apresenta falhas estruturais. “É uma boa ideia mal executada. A tarifa de R$ 200 por trecho não inclui taxa de embarque, e o público-alvo tem renda limitada e dificuldades com plataformas digitais. O governo deveria investir em voos regionais com apoio orçamentário, o que estimularia tanto turismo quanto negócios em regiões com baixa conectividade aérea”, analisa.
A proposta de ampliação do programa para estudantes do Prouni, anunciada no lançamento, ainda não foi concretizada. O Ministério de Portos e Aeroportos afirma que aguarda os dados do Ministério da Educação para implementar essa etapa, ampliando o alcance do benefício. Por enquanto, o programa segue restrito aos aposentados do INSS.
Apesar dos números baixos, o Ministério sustenta que o Voa Brasil tem valor social, ao facilitar o acesso ao transporte aéreo por um público que historicamente está à margem desse modal. Segundo a pasta, os 3 milhões de assentos eram uma projeção baseada na capacidade estimada pelas companhias aéreas.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que, em abril, a tarifa média dos voos domésticos foi de R$ 588,38. Mais da metade dos bilhetes vendidos no período custou até R$ 500, evidenciando que, com antecedência e planejamento, é possível encontrar passagens abaixo da média do mercado, o que pode tornar o Voa Brasil menos atrativo do que promoções regulares já disponíveis.
Para o setor de turismo, a baixa efetividade do programa é vista com cautela. Operadoras e agências destacam que iniciativas como o Voa Brasil têm potencial para impulsionar a demanda em baixa temporada e estimular o turismo interno, mas precisam de ajustes para realmente atingir seus objetivos. A expectativa é que, com a reestruturação prometida e eventual ampliação para novos públicos, o programa possa ganhar tração e se tornar uma ferramenta relevante de inclusão no turismo brasileiro.