O uso de inteligência artificial (IA) no planejamento de viagens de lazer tem crescido globalmente, com destaque para mercados emergentes, segundo levantamento da consultoria BCG (Boston Consulting Group). A pesquisa, realizada com cerca de cinco mil viajantes de 11 países, incluindo China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Vietnã, Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, também analisou dados de viagem de 68 nações entre 2014 e 2024, com projeções até 2040.
O relatório, divulgação pelo Phocuswire, estima que o mercado de viagens de lazer deve passar de US$ 5 trilhões para US$ 15 trilhões até 2040, com protagonismo de países emergentes. Segundo o estudo, China, Índia, Arábia Saudita e Vietnã devem liderar esse crescimento, em contraste com mercados tradicionais como Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
Usuários desses países são também os que mais utilizam ferramentas baseadas em IA para planejar suas viagens — com destaque para China (65%), Índia (59%), Vietnã (51%) e Indonésia (58%). No entanto, mesmo nesses contextos, a interação humana ainda é considerada essencial para a experiência de planejamento, o que aponta para a necessidade de integração equilibrada entre tecnologia e atendimento humano.
“Plataformas que combinarem simplicidade via IA com personalização, relevância cultural e engajamento híbrido terão vantagem competitiva”, aponta o relatório da BCG.
Mike Coletta, gerente sênior de pesquisa e inovação da Phocuswright, observa que os dados são consistentes com os levantamentos da consultoria. “Achei especialmente relevante a correlação entre o uso intenso de IA e a valorização do contato humano nos países da Ásia-Pacífico”, declara Coletta. “Esse equilíbrio entre interações digitais e humanas é um campo que a Phocuswright seguirá investigando, buscando entender como a descoberta se transforma em reserva para o viajante.”
O estudo também chama atenção para a expectativa crescente dos consumidores em relação a ferramentas baseadas em IA generativa. Segundo a Phocuswright, houve crescimento de três a quatro pontos percentuais no uso de IA generativa por viajantes dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha. Embora apenas um terço confie totalmente nas respostas geradas por IA, entre 25% e 37% dos entrevistados esperam que os sites de viagem ofereçam essa funcionalidade — e até mesmo permitam reservas dentro da própria interface conversacional.
Ameaça ou oportunidade?
A BCG destaca que essa transformação pode representar uma ameaça ao modelo tradicional de venda das empresas do setor. “A IA generativa pode eliminar intermediários e direcionar os usuários diretamente para ofertas relevantes”, afirma o relatório. “Embora o ritmo dessa mudança ainda seja incerto, as empresas precisam se adaptar”, acrescenta.
Entre as recomendações, a BCG sugere que empresas invistam em visibilidade nas buscas feitas por modelos de linguagem, desenvolvam seus próprios assistentes virtuais e integrem essas ferramentas a seus canais digitais, incluindo redes sociais. O relatório cita o uso de mensagens via SMS e WhatsApp em campanhas promocionais no Catar, além do emprego de recursos de realidade aumentada e virtual para pré-experiência dos destinos.
O estudo também menciona o projeto Qiddiya, na Arábia Saudita, que está desenvolvendo uma plataforma digital integrada baseada em IA, análise de dados e computação em nuvem para oferecer experiências personalizadas aos visitantes.
“O perfil do viajante está mudando — quem são, com quem viajam, o que esperam e como tomam decisões”, afirma Lara Koslow, diretora-geral e sócia da BCG, coautora do estudo. “Para se manterem relevantes, as empresas de turismo precisarão se antecipar a essas mudanças — ou ficarão de fora do roteiro”, conclui.
Como alertou Brígida Perrella, fundadora do IAI Lab, durante sua apresentação no Expo Fórum Visite São Paulo 2025, “IA não é tendência, é urgência”.