O alerta de “não viajar” emitido em 20 de julho de 2025 pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido para 31 países causou um abalo imediato nas engrenagens do turismo internacional. A medida, motivada por riscos geopolíticos, sanitários e de segurança, impõe uma nova cartografia para viajantes, operadores turísticos e economias que dependem diretamente da atividade turística. A orientação oficial impacta na prática desde férias em família até investimentos em infraestrutura e políticas de estímulo ao setor.
Entre os países que passaram a integrar a lista estão Rússia, Bielorrússia, Ucrânia, Afeganistão, Somália, Iêmen, Haiti, Venezuela, Irã, Nigéria, Síria, Coreia do Norte e Mianmar. Muitos deles, já frágeis do ponto de vista econômico ou social, enfrentam agora um golpe que afeta diretamente sua principal fonte de receita externa: o turismo. “Reservar férias em um país ‘proibido viajar’ é como ir para um país onde você não tem proteção”, alertou o órgão britânico, reforçando que nem mesmo seguros de viagem terão validade em destinos com esse nível de risco.
O impacto é ainda mais profundo considerando o timing do alerta: pleno verão no hemisfério norte, auge da temporada de férias no Reino Unido. Segundo o Departamento de Transportes britânico, cerca de 35% das viagens internacionais partindo do país ocorrem entre julho e agosto. Com isso, operadores enfrentam cancelamentos em massa, remanejamento de pacotes e escassez de oferta em destinos tidos como “seguros” — caso de Portugal, Canadá, Croácia, Grécia e Nova Zelândia, agora sob pressão por aumento de preços e sobrecarga de infraestrutura.
Os prejuízos são particularmente severos em destinos em desenvolvimento. No Haiti, por exemplo, o turismo representa entre 2% e 3% do PIB. No Iêmen, regiões costeiras que vinham retomando atividades voltadas ao turismo local estão novamente isoladas. A Venezuela, que apostava em ações de retomada com voos charter e pacotes promocionais, vê seus planos suspensos. E no Nepal, que já sofreu em crises anteriores, o colapso de reservas em trekking gerou queda de até 25% no emprego local — um reflexo direto do efeito dominó provocado pelos alertas.
Com a mudança no fluxo de viajantes, destinos como África do Sul, Tanzânia e Quênia observam retomada de interesse, especialmente no segmento de experiências. Ao mesmo tempo, cresce o temor de “overtourism” em cidades menores e mal preparadas. A demanda redirecionada pressiona sistemas locais e obriga governos a reverem estratégias para acomodar esse novo perfil de fluxo concentrado.
O alerta também mexe com o mercado de seguros. Reguladas pela Autoridade de Regulação Prudencial (PRA), as seguradoras do Reino Unido já revisam coberturas, excluem regiões de alto risco e impõem tarifas mais elevadas para viajantes insistentes. Além disso, países vizinhos aos alertados — mesmo que não estejam na lista — também sofrem com restrições indiretas.
Enquanto isso, órgãos internacionais, como a Organização Mundial do Turismo (OMT), defendem uma resposta coordenada para mitigar impactos e proteger empregos no setor. Entre as medidas discutidas estão a diversificação de mercados emissores, fortalecimento da comunicação de risco e ampliação da cooperação bilateral para garantir estabilidade mínima às economias turísticas locais.
A recomendação britânica, embora compreensível do ponto de vista da segurança, reposiciona destinos e escancara as desigualdades no setor. Se por um lado países seguros recebem um fluxo extra de viajantes, por outro, milhares de trabalhadores do turismo veem suas perspectivas de renda e estabilidade evaporarem.