Bruno Giovanni Reis é Diretor de Marketing Internacional, Negócios e Sustentabilidade da Embratur. Formado em Turismo pela UPIS, com estudos complementares em marketing e administração na Southern Cross University (Austrália) e em inovação em Barcelona, iniciou sua trajetória na própria Embratur como estagiário entre 2004 e 2007, passando por funções de analista, coordenador e gerente de mercados. Também presidiu a Emprotur, no Rio Grande do Norte, e esteve à frente de ações de promoção durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Ana Clévia Guerreiro é coordenadora de Projetos no Sebrae Nacional, mestre em Gestão de Negócios Turísticos pela Universidade Estadual do Ceará e especialista em Marketing Digital pela FGV. Com longa trajetória na instituição, atua no fortalecimento de pequenos negócios, no desenvolvimento territorial e na integração do turismo à economia criativa, contribuindo para a inserção de destinos brasileiros no mercado internacional.
O Plano Brasis nasceu da união entre Embratur e Sebrae com a proposta de reposicionar o turismo brasileiro no cenário internacional de forma mais estratégica e organizada. A iniciativa prevê uma mudança de mentalidade no trade, estimulando inovação, sustentabilidade e diversidade como pilares, ao mesmo tempo em que valoriza a governança local e dá espaço para os pequenos negócios no processo de internacionalização.
Com entregas previstas até 2027, o projeto já começa a provocar ajustes em planos estaduais e aponta caminhos para que o Brasil alcance entre 8,1 e 8,5 milhões de visitantes estrangeiros nos próximos anos. Para detalhar esse trabalho e seus impactos, o Brasilturis conversou com Bruno Reis, diretor de Marketing Internacional, Negócios e Sustentabilidade da Embratur, e Ana Clévia Guerreiro, coordenadora de Projetos do Sebrae Nacional, que explicam as metas, os desafios e o legado esperado. Confira!
Qual é o grande diferencial do Plano Brasis em relação a iniciativas anteriores de promoção do Brasil no exterior?
Bruno Reis (Embratur): “A maior inovação está em promover uma verdadeira transição de mentalidade no trade turístico brasileiro. Antes, tínhamos uma promoção mais generalista, que tentava atender a todos ao mesmo tempo. Agora, o plano estrutura prioridades, com foco em negócios, inovação, sustentabilidade e diversidade. Pela primeira vez, incorporamos o Sebrae em todo o processo, trazendo a realidade da ponta e envolvendo diretamente secretarias estaduais de Turismo. Essa visão local nos permite criar diagnósticos mais precisos e induzir mudanças práticas nos destinos.”
E como o Sebrae tem atuado dentro dessa estratégia de internacionalização do turismo brasileiro?
Ana Clévia Guerreiro (Sebrae Nacional): “O Sebrae já tem quase três décadas de trabalho com turismo, mas a parceria com a Embratur ampliou a escala e a efetividade. Nosso papel é abrir espaço para os pequenos negócios nesse movimento de internacionalização. Isso significa apoiar pousadas, restaurantes, receptivos e atrativos locais para que estejam aptos a receber turistas internacionais, jornalistas, operadores e influenciadores. Também atuamos com consultorias e rodadas de negócios para aproximar esses empreendedores do mercado global. A ideia é garantir que o desenvolvimento não fique restrito aos grandes players, mas que chegue também às comunidades e territórios.”
Os estados já começam a sentir os impactos desse plano?
Bruno Reis (Embratur): “Sim. Em vários casos, observamos reações imediatas. No Amazonas, por exemplo, a Secretaria de Turismo alterou o calendário promocional de 2025 logo após a apresentação. O Rio Grande do Sul ajustou seu plano estratégico, e a Paraíba revisou os mercados prioritários. Esses movimentos mostram que o Plano Brasis não é apenas diagnóstico, mas também indutor de mudanças. O que antes era feito de forma centralizada em Brasília, hoje parte de uma leitura local, incorporando os atores que surgiram ou se transformaram nos últimos anos.”
A governança local tem sido um dos pontos mais destacados no Plano Brasis. Por quê?
Bruno Reis (Embratur): “Porque onde a governança é forte, os resultados aparecem muito mais rápido. Quando secretarias de Turismo, Sebrae estadual, empresários e trade local trabalham de forma conjunta, a performance é muito melhor. Esse alinhamento é essencial para que o plano não fique apenas no papel, mas seja implementado com efetividade. Temos visto isso em estados como o Rio Grande do Sul e o Amapá, onde lideranças políticas e empresariais se reuniram em peso para debater os diagnósticos e já iniciar ajustes.”
O Sebrae também reforça esse olhar da governança a partir da sua experiência com pequenos negócios?
Ana Clévia Guerreiro (Sebrae Nacional): “Sem dúvida. A governança local é a base para que os pequenos empreendedores consigam se inserir na cadeia do turismo internacional. Quando o Sebrae estadual trabalha junto com as secretarias e o trade, criamos condições reais para que esses empresários tenham acesso a consultorias, rodadas de negócios e oportunidades de capacitação. Além disso, conseguimos conectar experiências de base comunitária, economia criativa e empreendimentos locais com mercados nacionais e internacionais, trazendo impacto econômico e social.”
O plano também menciona a criação de ferramentas inéditas, como o glossário de produtos estratégicos. Qual é a função desse material?
Bruno Reis (Embratur): “Esse glossário é fundamental porque, pela primeira vez, temos uma definição clara de quais produtos devem ser considerados estratégicos e como cada um deve ser trabalhado. Isso nos permite alinhar ações com companhias aéreas,
operadores e destinos de forma mais assertiva. Por exemplo, conseguimos identificar produtos que já estão na prateleira do B2B, mas que ainda não são conhecidos pelo B2C, e vice-versa. Essa clareza ajuda a estruturar campanhas e investimentos de forma colaborativa.”
Há regiões do Brasil com maior potencial para apresentar novos produtos ao mercado internacional?
Ana Clévia Guerreiro (Sebrae Nacional): “O Brasil inteiro é uma caixa de surpresas. Temos estados já consolidados, mas que ainda escondem produtos ligados à produção associada ao turismo, como azeites, vinhos e queijos, que podem ganhar escala no mercado internacional. O Nordeste tem uma identidade cultural única e um potencial enorme. O Norte, em muitos aspectos, está apenas começando sua jornada turística, mas já demonstra experiências autênticas. O Centro-Oeste, com sua diversidade de biomas e forte vocação rural, tem um perfil distinto, enquanto o Sudeste concentra tanto grandes centros urbanos quanto experiências culturais e gastronômicas diversificadas. A diversidade é nossa maior força.”
O Plano Brasis estabelece uma meta de até 8,5 milhões de visitantes internacionais até 2027, podendo chegar a 10 milhões em um cenário mais otimista. Como vocês avaliam essa projeção?
Bruno Reis (Embratur): “É uma meta racional, construída a partir de dados de mercado. Embora exista otimismo no setor, preferimos trabalhar com uma base realista. O plano projeta 8,1 milhões de visitantes até 2027, com possibilidade de chegar a 8,5 milhões. Claro que, se a demanda reprimida se confirmar, podemos até superar os 10 milhões. Mas o importante não é apenas bater números, e sim garantir que o país esteja preparado, com produtos qualificados e destinos organizados para receber esse fluxo.”

E para o Sebrae, qual o maior desafio de inserir os pequenos negócios nesse cenário de crescimento?
Ana Clévia Guerreiro (Sebrae Nacional): “O grande desafio é sensibilizar e preparar os empreendedores para padrões internacionais de qualidade. Muitos já têm produtos incríveis, mas ainda não estão estruturados para competir em mercados mais exigentes. O Sebrae atua exatamente nesse ponto: oferecendo consultorias, capacitação e inserindo esses negócios em feiras, rodadas de negócios e press trips. É um processo contínuo e desafiador, mas fundamental para que o Brasil cresça de forma inclusiva.”
Que tipo de legado o Plano Brasis pode deixar para além dos números de visitantes?
Bruno Reis (Embratur): “O maior legado é a mudança de mentalidade. Durante muitos anos, a promoção internacional foi feita de forma generalista, sem diferenciação. Agora, conseguimos estruturar estratégias específicas para cada estado, com base em dados e diagnósticos. Isso induz mudanças reais: destinos ajustando seus calendários promocionais, estados repensando mercados prioritários, e produtos que antes não estavam na prateleira agora ganhando visibilidade.”
E sob o olhar do Sebrae, qual seria esse legado?
Ana Clévia Guerreiro (Sebrae Nacional): “Eu diria que o legado está em fortalecer a governança e em incluir os pequenos negócios no processo de internacionalização. Além disso, é uma oportunidade de valorizarmos nossa diversidade cultural e social. Experiências de base comunitária, quilombolas e indígenas, por exemplo, ganham visibilidade e passam a ser reconhecidas não só economicamente, mas também socialmente. Isso reforça a identidade do Brasil como um país único, com vários “Brasis” dentro de um só.”
Para concluirmos, que mensagem vocês gostariam de deixar para o trade e para as lideranças locais que acompanham essa transformação?
Bruno Reis (Embratur): “O momento é único. Temos uma janela de oportunidade para colocar novos produtos brasileiros no mercado internacional de forma organizada, estruturada e colaborativa. Mas isso só será possível com a participação ativa das lideranças estaduais, do trade e da iniciativa privada. A Embratur e o Sebrae oferecem ferramentas, diagnósticos e suporte, mas a implementação depende da governança local. Onde essa governança é forte, os resultados aparecem com mais rapidez. Portanto, o recado é claro: precisamos trabalhar juntos, com objetivos comuns, para transformar essa oportunidade em resultados concretos para o turismo brasileiro.”
Ana Clévia Guerreiro (Sebrae Nacional): “Eu reforço essa ideia de trabalho conjunto. Cada liderança, seja pública ou empresarial, precisa refletir sobre o papel que está desempenhando nesse processo. O Plano Brasis não é apenas uma diretriz técnica, é um convite à corresponsabilidade. Estamos em um mundo cada vez mais conectado, mas ao mesmo tempo com forte demanda por relações humanas e experiências autênticas, e o Turismo é o espaço perfeito para conciliar essas dimensões. O que eu diria aos gestores, empresários e atores do trade é: aproveitem esse momento, fortaleçam suas redes de governança e pensem em como potencializar seus territórios. O Brasil é diverso e cheio de oportunidades. Cabe a todos nós transformar esse potencial em resultados duradouros.”

