O turismo de São Luis (MA) acaba de ganhar mais uma atração: a mostra inédita Elke, que vai ocupar o Centro Cultural Vale Maranhão até 30 de setembro, e reverenciar uma das figuras mais icônicas e enigmáticas da cena artística brasileira.
Com curadoria de Gabriel Gutierrez e Ubiratã Trindade, a exposição histórica é uma homenagem e agradecimento ao legado deixado por Elke Maravilha em diversos campos da criação humana: na moda, na indumentária, na cultura popular, no teatro, no cotidiano, na fé e nas lutas de gênero e das minorias. A exposição sublinha a filosofia e ética que a artista propôs para a vida. Para isso, todo acervo fotográfico da artista foi digitalizado, trazendo ao público imagens inéditas, que só os mais próximos tiveram acesso.
“Da criação estética explícita de Elke, nasce uma ética construída para dar luz a tudo que pudesse ter um significado. Esta exposição é um tributo a essa visão, focada enquanto artista e pensadora. Ela propôs uma forma de estar no mundo única. E para além, compartilhou e esclareceu de forma generosa seu pensamento sobre temas diversos como a morte, o masculino e o feminino, o papel da comunicação de massa e a criação estética para quem quisesse ouvir. Também colocava a percepção das coisas de cabeça para baixo, e assumia o lugar de farol, já que se expressava sobre assuntos que, em sua época, eram considerados tabus”, afirma Gabriel.
Suas indumentárias, que foram minuciosamente restauradas, ocupam boa parte dos espaços da exposição e prometem mexer com o imaginário do público. Elke se inspirava no Carnaval, nas travestis e drag queens, no reino das crianças e dos animais, no circo, nas culturas distantes, e em tudo o que pudesse significar, para se montar dos pés à cabeça com maquiagem, peruca, roupas, adereços, movimentos, feições e, principalmente, palavras. Seja por meio de retratos pintados, gravuras, fotografias ou vídeos, Elke gostava de destacar o que há de mais expressivo no corpo: a cabeça. Os closes se fechavam no rosto, onde estão as emoções do maravilhamento e do desagrado, onde o olhar atrai a todos.
Entre os itens, peças criadas com a colaboração de gerações de estilistas, maquiadores, cabeleireiros, aderecistas e fornecedores que mantinham uma relação íntima de amizade e troca com a artista: Zuzu Angel, Clodovil, Markito, Fernando Pires, Silvinho, Breno Beauty, Walério Araújo e tantos outros.
Do início na moda aos júris na televisão
A exposição traz mais de 210 fotos da carreira de Elke, desde o começo na moda – com desfiles dos estilistas Guilherme Guimarães e Zuzu Angel, e editoriais para revistas –, passando por sua presença no Carnaval, pela carreira no teatro e no cinema, até os programas de auditório de Chacrinha e Silvio Santos. Entre as imagens, também há registros de Elke pertencentes ao Instituto Moreira Salles, feitos pelo fotógrafo David Zingg, que capturou com maestria a essência poética da atuação da artista. Além do conteúdo fotográfico, vídeos de entrevistas e de participações na TV, e trechos do show “Elke canta e conta” – produzido em comemoração aos 70 anos da artista – compõem a mostra.
Outro destaque é o altar que Elke Maravilha manteve durante sua vida, sem distinção de credo ou religião. Para ela, o altar sempre foi o reflexo do que somos e de como nos enxergamos e nos apresentamos ao mundo. Por isso, uniu objetos e imagens contraditórias, que, juntos, expressam a visão da artista. Dos gnomos aos colares que ora adornavam seu peito, de Jesus Cristo à chaleira da avó, de Chacrinha a Buda, da boneca Emília a Exu, cada objeto foi matéria que alimentou e constitui o gene da artista.
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