O Turismo tem sido um motor econômico vital em muitos países, contribuindo para o crescimento econômico e a criação de empregos. O alavancamento do setor é notório, impulsionado, sobretudo, pelo aumento da renda disponível, da melhoria da infraestrutura e da crescente facilidade de viagens. No entanto, mesmo com seu potencial promissor, a indústria enfrenta dificuldades significativas relacionadas à escassez de mão de obra qualificada.

O setor abrange uma variedade de segmentos, como hospedagem, alimentação, transporte e atividades turísticas. Cada um desses segmentos possui necessidades específicas de mão de obra, o que pode dificultar ainda mais a contratação e retenção de funcionários qualificados. Por exemplo, os hotéis podem enfrentar dificuldades em encontrar recepcionistas com habilidades linguísticas específicas, enquanto as empresas de transporte podem precisar de motoristas com licenças especiais.

Dados e estudos revelam que a escassez de mão de obra no Turismo é uma preocupação global. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), até 2030, a indústria do Turismo enfrentará um déficit de aproximadamente 14 milhões de empregos em todo o mundo. Isso representa uma lacuna significativa entre a oferta e a demanda de mão de obra qualificada.

De forma complementar, um estudo realizado pela Deloitte em parceria com a Caribbean Hotel and Tourism Association (CHTA) revelou que a escassez de mão de obra é um desafio premente no Caribe. O estudo apontou que 50% dos hotéis da região enfrentam dificuldades para contratar e reter funcionários qualificados. Além disso, 40% dos entrevistados mencionaram a falta de habilidades específicas, como fluência em idiomas estrangeiros, como uma das principais razões para a escassez de mão de obra.

Para a Europa, o cenário não é diferente. Um relatório publicado pelo Instituto de Estudos Turísticos (Istur) destacou a falta de trabalhadores qualificados como uma das principais barreiras para o crescimento do setor. O relatório mostrou que a escassez de habilidades em áreas como hotelaria, restauração e guias turísticos tem afetado negativamente a qualidade dos serviços e a competitividade dos destinos.

A alta rotatividade

Outra dificuldade enfrentada pelo setor é a alta rotatividade de funcionários. Devido às características do trabalho no Turismo, muitos funcionários deixam seus empregos após um curto período de tempo. Os longos horários de trabalho, a pressão para lidar com clientes exigentes e a natureza sazonal do setor podem contribuir para altas taxas de rotatividade, criando um ciclo contínuo de treinamento e contratação, o que pode ser oneroso e prejudicial para as empresas.

Em relação à alta rotatividade de funcionários, um estudo realizado pelo World Travel & Tourism Council (WTTC) constatou que a média global de rotatividade na indústria do Turismo é de cerca de 20%, sendo que, em alguns segmentos, como hospedagem e alimentação, esse número pode chegar a 30%. Esse movimento gera custos adicionais para as empresas, que precisam investir em treinamento e contratação constante de novos funcionários.

Além disso, um estudo conduzido pela Universidade do Estado da Flórida revelou que os salários baixos são um fator significativo na escassez de mão de obra qualificada. A pesquisa demonstrou que muitos profissionais qualificados optam por trabalhar em outros setores, onde podem receber salários mais altos, em vez de ingressar ou permanecer na indústria.

A escassez de mão de obra no Turismo também pode ter impactos negativos na qualidade do serviço oferecido. Funcionários sobrecarregados e mal treinados podem não conseguir atender adequadamente às expectativas dos turistas, o que pode levar a experiências negativas e prejudicar a reputação das empresas e destinos turísticos.

Excelência acadêmica

Uma área que sempre foi fragmentada e envolve entretenimento, alimentação, hotelaria, eventos, cultura e esporte, impactada por um período negativo de profissionalização após o surgimento exacerbado do número de instituições que ofereciam o curso.  É assim que Luiz Gonzaga Godoi Trigo, Professor do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, avalia o mercado. 

“O curso de Turismo teve um inchaço a partir de 1996 e durou até 2010. Eram centenas de faculdades com a graduação no Brasil, sendo a maior parte destas instituições particulares e muito ruins. Eu fui do Ministério da Educação na comissão de especialistas e acompanhei este cenário. Claro que a maioria fechou e, atualmente, a maioria dos cursos estão na rede pública, como institutos federais ou estaduais. Algumas poucas privadas mantêm o curso. Então é uma área de quem tem poucos cursos, porque vários dos trabalhos ou não precisam de curso superior ou exigem outros cursos superiores além de Turismo”, pontua o professor. 

Combinado com este setor fragmentado, Trigo afirma que atualmente as novas tecnologias trazem um novo desafio de constante atualização do mercado de trabalho. “Com a ascensão das novas tecnologias, sobretudo a inteligência artificial turbinada, a área volta com toda força agora após a pandemia e vem exigindo novas características e preparos”, declara. 

Apesar do movimento de mudanças, algumas características permanecem como obrigatórias para os profissionais, ainda segundo o professor da USP. São elas: pensamento crítico, pensamento analítico, liderança, curiosidade e capacidade de aprender durante sua vida.

Mais uma vez, a necessidade de saber outro idioma entra em pauta. “O inglês não é mais um diferencial, é algo obrigatório, caso o profissional queira uma carreira mais ampla. Ele pode até atuar de forma mais regional, mas se quiser ter maior alcance, tem que compreender o inglês e alguma outra língua”, reforça Trigo, sem deixar de lado a importância de ter também o conhecimento do próprio português. “Nossos alunos da USP tem muita exigência de texto e escrita e, por isso, muitas empresas preferem pelas contratações de nossos estudantes”, comenta. 

No pós-pandemia, muitos profissionais também ficaram mais exigentes. “Não é todo mundo que está disposto a trabalhar no fim de semana, e isso não é só no Brasil. A Europa teve um sério problema com isso. O profissional voltou, mas quer ter fim de semana, quer um salário e condições melhores e menos abusivas de trabalho”, ressalta.

Trigo também afirma que hoje é possível dividir os estudantes do setor em dois perfis: aqueles que já conhecem a graduação, pois já realizaram curso técnico, e aqueles que ainda se frustram com o mercado. “Muitos entram porque acreditam que vão viajar e isso não é assim, necessariamente. Quem trabalha em hotel, por exemplo, raramente viaja”, comenta o profissional.

Além disso, ele destaca que áreas de atuação que atraem mais os estudantes: parques e organizações públicas ligadas a lazer social e segmento corporativo ligado principalmente à gestão. “Tem essa parte mais ligada com o mercado, com o poder público e com a área de cultura”, complementa. 

Assim como qualquer outro setor, o investimento constante em aperfeiçoamento e profissionalização é necessário. “Primeiramente, é preciso entender onde mais gosta de atuar e, depois, apostar nisso. Depois, fazer uma especialização, graduação complementar, pós-graduação ou cursos livres. Há muitas ofertas. Dentro das universidades há muitas alternativas”, conclui. 

Investimentos do setor público

Para enfrentar esses desafios, é necessário um esforço conjunto entre as empresas, governos e instituições educacionais. O poder público pode desempenhar um papel importante ao incentivar a educação e o treinamento no setor do Turismo, bem como ao implementar políticas que apoiem a contratação e retenção de funcionários qualificados. 

Daniela Carneiro, ministra de Turismo, destaca a importância da qualificação dos profissionais do turismo e enfatiza que a oferta de cursos gratuitos é uma oportunidade valiosa para fortalecer o setor. “É muito importante que os profissionais do Turismo estejam sempre qualificados e atualizados com os temas do setor. Para isso, o MTur oferta cursos gratuitos e de amplo acesso, pois sabemos que a qualificação é um dos pilares que ajudam a trazer mais qualidade para o nosso setor. Todos saem ganhando com profissionais capacitados”, declara a executiva. 

Recentemente, o Ministério do Turismo (Mtur) anunciou que está investindo na qualificação de profissionais do setor turístico. Serão oferecidas 742 vagas em cursos de qualificação gastronômica nos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná e Rio de Janeiro. O objetivo é aprimorar as competências dos interessados para que possam atuar de forma mais eficaz no segmento gastronômico.

Além disso, o MTur, em parceria com a Universidade Federal de Tocantins (UFT), lançou os cursos “Especialização Técnica em Atrativos Culturais” e “Especialização Técnica em Atrativos Naturais” voltados para as regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil. 

Ao todo, foram 400 vagas distribuídas de forma equitativa entre os dez estados que integram as duas regiões e o Distrito Federal. Esses estados são Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O objetivo dessas especializações técnicas é atender guias de turismo habilitados no Cadastur como “Guia Regional” dos estados das macrorregiões Norte e Centro-Oeste.

O plano de qualificação do MTur, desenvolvido no âmbito do projeto de 100 dias, visa fortalecer os profissionais do Turismo, promovendo parcerias com instituições públicas e privadas e fornecendo os conhecimentos necessários para atuar no mercado de trabalho. O plano contempla cinco eixos principais: diálogo, sustentabilidade e mudanças climáticas, carnaval, estruturação de destinos e redução do preço das passagens aéreas.

Com essas iniciativas de qualificação e capacitação, o setor busca superar as dificuldades de mão de obra qualificada, preparando os profissionais para atender às demandas crescentes do mercado e promovendo um turismo de excelência para os visitantes brasileiros e estrangeiros.

Apoio corporativo

Investir nas empresas vai além de apostas em produtos e serviços; é necessário também focar nos colaboradores. Esta é a filosofia da CVC Corp, que possui uma área dedicada somente a isso e soma mais de 83 mil currículos em seu banco de dados (com alcance de mil currículos por dia). Paula Domingues, diretora executiva de Gente e Sustentabilidade do grupo, ressalta que este tipo de iniciativa é da cultura da empresa e que os profissionais alinhados com seus valores ganham cada vez mais destaque.

“Operamos com transparência, norteados pela sustentabilidade, honramos nossos compromissos, orgulhosos em servir. Sobre esse último, reforço que somos 100% focados no cliente e aficionados por encantar. Essa é uma competência imprescindível para quem quer trabalhar na companhia. Temos avaliações recorrentes no nosso Ciclo de Mérito, que ocorre duas vezes ao ano, e ela é baseada nesse alinhamento aos nossos valores, com atitudes que os demonstram na prática. Procuramos profissionais apaixonados em ‘aproximar as pessoas e seus sonhos, eternizando memórias’, que é o nosso grande propósito, e que tenham muita disposição e vontade de realizar milhares de sonhos de viagens dos clientes e trilhar uma carreira com muito aprendizado e oportunidade de crescimento”, detalha. 

Apesar de possuir diferentes frentes, há requisitos que são considerados indispensáveis pela CVC Corp, incluindo boa comunicação, empatia, organização e familiaridade com o meio digital (seja em maior ou menor grau, dependendo da vaga. “Como se diz, ‘contrate caráter, treine habilidade’. Com certeza vamos valorizar os profissionais que demonstrem que têm valores, que estão alinhados aos nossos, que têm apetite em aprender e muita vontade de fazer acontecer, além de valorizar a nossa atividade diária que é apoiar na realização de sonhos”, afirma Paula. 

Além disso, a CVC Corp trabalha com o desenvolvimento de seus colaboradores por meio de programas educacionais promovidos pela cvccorp.edu, que facilita a aprendizagem e viabiliza ações gratuitas subsidiadas por parceiros em diferentes áreas do conhecimento. Os colaboradores também recebem vale-viagem como incentivo para que façam, futuramente, indicações bem-sucedidas de profissionais externos que queiram também atuar no grupo como parte do programa Deu Match. 

“Além de viabilizar estas iniciativas, também estamos sempre atentos a eventos e congressos do mercado, sobre temas que possam interessar às nossas pessoas colaboradoras, e compartilhamos entre nós, para que os interessados possam participar e, em alguns casos, inclusive representar a companhia, levando nossos cases”, complementa a profissional.