A hotelaria é uma peça fundamental para todo setor de turismo, afinal o serviço de hospedagem é imprescindível quando se está longe de casa. Como os demais segmentos turísticos, a hotelaria sofreu tremendo impacto durante o período de isolamento social da pandemia. Em 2022, o setor começou a apresentar os primeiros sinais de recuperação, mas, apenas neste ano, os números de desempenho de todo o mercado alcançaram os patamares pré-pandêmicos de 2019.
Visando garantir o pleno desenvolvimento da indústria hoteleira, diversas associações desempenharam papel importante durante a retomada do setor, como o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) Nacional e Resorts Brasil. Para compreender melhor a atual situação em que se encontram os hotéis e resorts dos mais variados segmentos, a reportagem do Brasilturis conversou com representantes dessas entidades e debateu os principais tópicos, ações e políticas que cercam o tema.
“A pandemia foi brutal para a economia, mas devastadora para o Turismo”, salienta Manoel Linhares, presidente da ABIH Nacional, que representa mais de 90% da indústria. “Por dois anos ficamos com mais de 80% da hotelaria fechada. Esses outros 20% estavam praticamente só recebendo profissionais de saúde, funcionários de companhias aéreas ainda operantes, mas com ocupação de no máximo 8%. Lembrando que o ponto de equilíbrio dos hotéis é entre 50% e 60% de ocupação”, ressalta.
Os primeiros meses de 2023 corroboraram com a recuperação das taxas de ocupação iniciada em 2022. Agora, portanto, a indústria hoteleira tem apresentado taxas iguais ao período pré-pandemia, segundo Orlando Souza, presidente do FOHB. No caso dos resorts, o último relatório do Radar Resorts Brasil, publicado em janeiro deste ano, revela que o indicador de ocupação chegou a 60% em 2022, crescimento de 10% em relação ao ano de 2019.
Ainda que os níveis de 2019 sejam um bom comparativo, atingi-los não significa necessariamente que o mercado tenha se normalizado por completo, já que se trata de um patamar de cinco anos atrás. Isso também se deve ao fato de que o fim da pandemia não foi instantâneo, mas um processo gradual. Ao mesmo tempo que a demanda retornava, novos desafios foram surgindo ou sendo intensificados, como a escassez de mão de obra qualificada, acúmulo de dívidas, alta nos preços dos insumos e das passagens aéreas.
“Precisamos refletir conjuntamente em como melhorar a atratividade do setor de turismo para os profissionais”, comenta Juliana Salles, nova diretora executiva da Resorts Brasil. “Além disso, muitos resorts estão lidando com os prejuízos financeiros da pandemia, pois durante os meses mais difíceis da quarentena, acumularam dívidas expressivas. Estima-se que levarão cerca de cinco anos, em média, para cobrir os prejuízos”, revela.
Souza aponta que o mesmo aconteceu com os empreendimentos associados do FOHB, que costumam ser hotéis urbanos com forte atuação no mercado corporativo. “O grande desafio é conseguir evoluir o valor das diárias médias e receitas, de modo a fazer face a quebra de caixa. Há ainda muitos hotéis com os caixas comprometidos por terem sido obrigados a gastar muito para sobreviver e fazer investimentos durante a pandemia”, destaca o presidente do fórum.
Muitos profissionais do setor afirmaram que a adoção de meios digitais para realização de reuniões corporativas resultaria na perda permanente de pelo menos 20% desse mercado para os hotéis no pós-pandemia. “Isso não passa de pura especulação, o que sempre evitamos no FOHB por trabalharmos com dados reais. É evidente que houve uma recalibração, alterações nas formas de viver, trabalhar e viajar, mas não há nenhuma comprovação empírica dessa perda permanente do segmento”, reforça Souza.
Ainda assim, é notável que o segmento de lazer contou com forte recuperação no pós-pandemia, em virtude da demanda reprimida e tendências como revenge travel (turismo de vingança). “Houve muita demanda e ocupação, em especial por parte das viagens em família. Além disso, os brasileiros demonstraram maior entusiasmo com viagens curtas e aprenderam a conhecer seus estados e outras regiões do próprio país”, alega Souza.
Esse fenômeno foi responsável por garantir que o segmento de lazer registrasse números iguais ou até superiores que os períodos anteriores à pandemia. “Isso se deve ao grande gargalo do Brasil que é a malha aérea”, pontua Linhares. “Estamos vivendo como nos anos 1970, época em que haviam apenas três companhias aéreas, além da alta de 40% nos custos de combustível. Precisamos incentivar a vinda de companhias estratégicas e a redução da alta carga tributária que afeta a chegada de investimentos ao setor”, complementa.
A questão aérea também impacta diretamente na chegada de turistas internacionais. “Em nosso último relatório, acompanhamos o volume de passageiros internacionais e observamos que o total ainda está cerca de 20% abaixo do volume de 2019, quando analisamos o primeiro trimestre do ano. Ainda é um segmento que está retomando e isso inclui tanto a vinda de turistas internacionais para o Brasil como também a saída de brasileiros para destinos internacionais”, revela Juliana.
“Sobre os estrangeiros em resorts, o estudo da JLL, Hotelaria em Números, aponta que em 2021, os resorts receberam cerca de um quarto do total de estrangeiros de 2018”, continua a presidente executiva da Resorts Brasil. “Os números de 2022 ainda não saíram, mas acreditamos que tenhamos recuperado um pouco mais e para 2023, a expectativa é atingirmos pelo menos metade da quantidade de estrangeiros pré-pandemia”, acrescenta Juliana.
Questionados sobre as projeções para 2023, os três representantes revelaram que, até então, o crescimento tem sido consideravelmente semelhante ao de 2023. Quanto a temporada de julho, especialmente importante para hotéis e resorts dedicados ao lazer, os porta-vozes mencionaram a tradicional falta de antecipação nas reservas por parte dos brasileiros, que se intensificou ainda mais após a pandemia “Hoje, o grosso das reservas só começa a aparecer 15 a 20 dias antes das estadias”, reforça Linhares.
Agenda