A Embratur sugeriu que o Sistema S financiasse a agência e a CNC é contra isso. Podemos começar falando sobre essa questão?
Como a Embratur se tornou agência e não pode receber aporte orçamentário, ela precisa se auto sustentar e buscar financiamento. Por isso, o Marcelo Freixo (presidente da Embratur) tentou conseguir recursos para a Embratur através do chamado Sistema S. Apesar do momento ser conturbado – admito que não é fácil estruturar uma questão orçamentária em patrocínios ou em acordos tão rapidamente, como foi feito no passado com o próprio Sebrae Nacional – o Freixo tentou uma jogada de tirar recursos do Sistema S, mas ele mexeu em um arcabouço que já financia as questões de formação profissional e o suporte social que o Sesc propicia em todo o Brasil, provendo Ensino Médio, assistência hospitalar, o Mesa Brasil, que distribui alimentos em comunidades carentes, entre outros. Houve uma leitura errônea por parte do Freixo, de que havia recursos sobrando no Sistema S, sem saber que estão todos alocados para obras futuras já contratualizadas. Ademais, os recursos do Sistema S são monitorados e acompanhados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O tribunal só libera para formação profissional no Senac e ações sociais do Sesc, além do Ensino Médio e do lazer para os funcionários. Nós fomos para o Congresso quando a medida provisória começou a transitar. Foi um embate, mas como nós tínhamos muita vantagem dos votos, sabíamos que seria derrotada. Houve uma leitura também errática de algumas partes da iniciativa privada, principalmente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), de que poderia comprometer o PERSE (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). O PERSE já estava aprovado e já era uma realidade legal, ou seja, ele não retroagiria. Quando o governo viu que ia perder e ser derrotado, propôs um acordo, por meio do senador Jaques Wagner. Ao invés dos 5% do Sistema S, que daria mais ou menos R$ 400 milhões por ano, o acordo era fornecer R$ 100 milhões por ano. Mas, então, existe um problema de novo. Para gastar fora do espectro do Sesc/Senac, para, por exemplo, patrocinar feiras, ainda seria necessário ter o aval do TCU. O que o presidente da CNC entendeu era que seria possível fazer esses R$ 100 milhões adicionais em PSG (Programa Senac de Gratuidade), ou seja, captar e formar mais pessoas para suportar isso. Provavelmente a solução vai estar no meio do caminho. Mediante um convênio com o aval do TCU, poderíamos eventualmente patrocinar algumas feiras e a CNC daria uma demonstração ao trade de que apoia a captação de eventos para fomentar a vinda de turistas estrangeiros do Brasil. Agora tem um problema. Quando se coloca uma questão dessa e o governo volta com a exigência dos vistos dentro daquela ótica tacanha do Itamaraty de reciprocidade, questionamos se vale a pena patrocinar feiras no exterior. Isso é totalmente contraditório.
De alguma forma, você acha que o Brasil perde na concorrência com outros destinos solicitando visto para seus viajantes?
Eu acho que uma política midiática lá fora é importante. Agora o quão seria efetivo isso face às notícias ruins que saem sobre o Brasil, eu não sei. O Brasil poderia, por exemplo, fazer uma campanha promocional na Inglaterra com a British Airways, o que seria muito mais barato do que fazer a contratação de uma agência e encher de outdoors os túneis do metrô. É preciso usar a criatividade. O turista internacional decide suas viagens baseando-se no que as operadoras estrangeiras vendem e o Brasil ainda está em poucas prateleiras. Estamos baratos, pois além do câmbio estar estabilizado, temos um preço muito competitivo.
Em relação ao crescimento no setor de serviços, cuja expectativa é de 13,9% para este ano. A que se deve esse crescimento?
Em qualquer economia com certo grau de desenvolvimento, o serviço acaba ocupando uma proeminência no aspecto do PIB, mesmo em economias mais centralizadas com muita dependência do governo é inexorável. Há uma divisão mundial da questão da industrialização, aliás nossa reforma tributária está indo em um viés errático em relação a isso, porque ela foi imaginada pela CNI há muitos anos e hoje ela proclama uma verdade que não é crível. A indústria no mundo se tornou muito mais competitiva, muito menos empregadora e se reveste de um de um caráter de que tem que ter tecnologia de ponta. O Brasil não tem isso. São Paulo é um caso à parte, mas não vamos resolver o problema da indústria brasileira transferindo ônus tributário para comércio e serviços. Isso prova que nós tivemos muitos anos de crescimento nos serviços, mas, se a reforma for implantada do jeito que está, teremos um decréscimo muito grande nos serviços. O Brasil está crescendo muito em serviços, porque é o natural de uma economia que se desenvolve, e o Turismo vai ocupar um papel importante. A expectativa é boa, mas temos que ver como será essa questão dos impostos.
E sobre a geração de empregos, que também aumentou no setor?
Nós somos os grandes absorvedores de mão de obra do Turismo e conseguimos espraiar investimentos hoteleiros no Brasil afora. Nós somos fundamentais para essa integração de mão de obra qualificada. Por melhor que seja o trabalho do Senac, o problema é cultural e educacional. Nossa política educacional é um caos e não tem investimento para isso. Espero que o novo ministro da Educação, que tem uma experiência no Ceará muito importante e exitosa, consiga fazer uma política nacional que mude o eixo disso. É uma área que exige um investimento muito forte. O setor de restaurantes, seguido pelos hotéis, nas últimas pesquisas do CAGED deixa claro que nós somos disparados os maiores empregadores, muito acima de qualquer indústria. Está sendo discutido no Senado a desoneração da folha de 17 setores, a hotelaria deveria estar ali porque exige um investimento pesado. Devemos pagar sobre o faturamento bruto em vez dos 20% da contribuição previdenciária. Vai ser difícil a gente se inserir agora quando existe somente a renovação do processo, pode ser que no âmbito da reforma tributária a gente possa lutar por isso.
Quais são as principais pautas do Cetur no momento?
Temos pautas específicas, por exemplo, como a questão do aéreo e como podemos baixar os preços das passagens aéreas. Eu brinco que a tabela de preço da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) é tão complexa que lembra o cálculo da água na época da Cedae. Eu também não consigo entender como é que as companhias chegam nessa precificação, eu acho que é o fato de nós temos poucas companhias aéreas no Brasil. Só três é pouco para um país desse tamanho. O Brasil é complexo em termos de implantação de companhias internacionais, incluindo questões como a tabela, as regras de bagagens, etc. Ninguém está falando sobre as plataformas de venda. O Airbnb e similares é uma loucura. Entendo que, de início, as plataformas geravam renda para as famílias de classe média. Mas, hoje, em São Paulo existem construções feitas para aluguel no Airbnb. Quando um prédio desses é construído, há um impacto de lixo, barulho, segurança, pois são pessoas transitórias, mas que habitam como moradores. O mesmo acontece com os aplicativos de entrega. Sei que eles são importantes e foram uma grande alternativa na pandemia, mas eles cobram taxas exorbitantes dos restaurantes. Precisamos de um meio termo nessa história. Hoje, já é proibido o Airbnb em regiões centrais de Paris e em São Francisco. Então, eu acho que as prefeituras têm que trabalhar para limitar e regular a atuação dessas plataformas.
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