Excesso é uma das possíveis explicações para a ansiedade que vivemos em nossos tempos.

Excesso de opções, de informações, de experiências e ruídos. Isso porque temos um medo imenso de perder, o que é natural nas decisões, e o excesso de opções nos obriga a fazer escolhas que nos fazem sofrer.

É claro que a poluição das águas e da atmosfera são preocupantes e devem ser discutidas e enfrentadas urgentemente.

Mas a poluição de dados, ruídos sonoros e estética não só é dramática, mas passa despercebida causando estrago imenso em nossa saúde mental, do mesmo modo que uma bactéria entra em nosso corpo, sem nos darmos conta, causando desequilíbrios em nossa saúde física.

Ora, quem não se estressou diante das inúmeras opções de filmes e séries nas diferentes plataformas streaming? Ou se irritou, ainda que levemente, no momento de escolher um prato diante de muitas opções em um cardápio?

Mesmo uma corrida rápida pela tela do smartphone tem causado desconforto pelo excesso de informações.

Como resposta a essas tensões, ganham espaço dois movimentos atuais

aparentemente desconectados, mas no fundo imensamente interligados: um deles é o essencialismo e o outro é a estética old money.

O essencialismo é uma versão 5.0 do minimalismo. E, ao contrário do que se pensa, não tem nada a ver com escassez. Um dos erros de quem aderiu ao minimalismo, sobretudo nos anos 1990 e 2000, foi a falsa ideia de que precisamos ter o mínimo para sobreviver. Nesse movimento vieram hotéis tão horrorosos quanto caríssimos, espartanos, em que o lobby parecia um hospital. Já o essencialismo é diferente, porque essencial não é o mínimo, mas o que é necessário.

Nesse movimento surge a estética old money. Trata-se de uma tendência de valorizar o bom gosto à moda antiga.

Não se trata de conservadorismo, porque muita gente progressista aderiu a essa onda.

A estética old money procura se livrar dos excessos. Vem de carona no quiet luxury, que abordei em um texto na edição passada do Brasilturis. Não só a privacidade é sinal de luxo (adeus escândalos e biscoitagens), mas todo excesso de mensagens, imagens e sons é condenado à vulgaridade.

No caso do Turismo, em especial o de alto padrão, tais movimentos se manifestam de diferentes formas: a hotelaria oriental, suíça e francesa recuperam o espaço perdido. O excesso de experiências perde pontos nos roteiros propostos por travel designers e os destinos consolidados (Europa, Norte da África, Ásia e Caribe) seguem com muito prestígio.

Em um mundo de muitos sons, o silêncio volta a valer ouro. É surpreendente como alguns dos mais elegantes e exclusivos hotéis e restaurantes são discretos em sua comunicação.

Tudo comunica uma mensagens e valores, inclusive a discrição e o silêncio.

Os novos influenciadores do turismo de luxo são os insiders que falam para seus pares.

A lógica de Louis Vuitton que vende chaveiro para quem não pode comprar um jogo de malas, ou da Chanel que vende batom para quem não tem cacife para adquirir um vestido não se aplica aos hotéis e agências.

A estratégia do turismo de alto padrão é muito exclusiva e exige reflexão.

Na próxima edição vamos tratar de exclusividade e raridade e o paradoxo do luxo nos dias atuais que precisa crescer sem se massificar. Mas, até lá, proponho um mês de reflexão sobre o que é essencial em seu negócio e também um tanto de silêncio, ouvindo o mercado e o seu cliente. Talvez seus consumidores estejam saturados de tantas mensagens e queiram muito mais marcas que queiram escutá-los. Tudo sem ansiedade.