É fácil reparar o quanto é incômodo para uma criança quando avôs, tios, tias, vizinhos e/ou amigos da família vem, quase todos ao mesmo tempo (especialmente em ocasiões especiais, como aniversários e Natal), para enchê-la de beijos lambuzados e abraços super-apertados; ou quando um artista ou um esportista famoso (por mais que apreciem e gostem da fama que conquistaram) se sentem importunados ao serem assediados, simultaneamente, por centenas de fãs aparentemente enlouquecidos. Até pessoas “normais” como nós, mesmo estando devidamente apaixonadas, sentem um certo desconforto frente a um parceiro ou uma parceira, que nos esmaga com gestos e/ou palavras de carinho, perseguição descontrolada de amor e/ou de muito querer. Beijos podem, vez ou outra, quando em excesso, serem um tanto sufocantes!
E é bem isso que constato (talvez seja apenas eu) que está acontecendo com o sucesso de um grande número de núcleos geográficos. O êxito mercadológico de um núcleo (isto é, quando este conquista o agrado e/ou a preferência de uma quantidade significativa de turistas, vindos dos quatro cantos deste mundo) pode, eventualmente, não ser tão desejado e/ou apreciado como imaginamos (especialmente em épocas de férias, feriados ou das chamadas altas temporadas, quando o fluxo é ainda maior). Vejo, ao lado dos aspectos positivos deste sucesso (questões econômicas que envolvem, entre muitas outras, desde o aumento nas oportunidades de trabalho até o desenvolvimento do núcleo em questão), enormes consequências que eu catalogaria como bem negativas. Hoje, apesar da alegria daqueles que vivem através da comercialização de diversos tipos de produtos e serviços oferecidos nestes núcleos, qualquer sucesso exagerado pode vir, eventualmente, ameaçar a felicidade do seu futuro. Além do enfoque que poderia incluir um compreensível choque de cultura, a descomunal afluência de visitantes vem, provavelmente, colocar em risco o bem-estar do núcleo em referência e causar danos irreparáveis, tanto ao seu meio-ambiente como, também, ao seu patrimônio humano, social e cultural. Olho, com séria preocupação, ao que acontece com Veneza, Paris, Amsterdã, Roma, a cidade do Vaticano, Nova York, Londres, Jerusalém, as ilhas Gregas, inúmeros sítios arqueológicos e muitos outros importantes núcleos turísticos. Muitos deles já perceberam e se conscientizaram com as possíveis consequências deste “excesso de beijos” e boa parte já está procurando soluções para enfrentar este eminente perigo que vem, dia após dia, tomar proporções sem precedentes. Frente à uma estiagem, é certo que pedimos chuva. Mas, definitivamente, não rezamos por um dilúvio! Quem sabe deveríamos pensar em um jeito de refletir melhor sobre este tema.
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