Viajar sozinho é como embarcar em uma jornada de autodescoberta, uma aventura em que você é tanto o explorador quanto o explorado. É uma experiência que desafia confortos e expande horizontes, uma oportunidade de se perder para se encontrar novamente. A modalidade é uma das muitas tendências que vêm se consolidando no setor de Turismo, em especial após a pandemia de Covid-19, atendendo a uma variedade de perfis de viajantes – desde jovens solitários até mulheres casadas de terceira idade.
Para quem ainda não está convencido desse fenômeno, o relatório Global Travel Insight da Visa, divulgado pelo Ministério do Turismo (MTur) em março, aponta que é esperado um aumento de 35% nesse estilo de turismo até 2030. A expectativa é que cerca de 580 milhões de pessoas no mundo passem a aderir a esse perfil. Corroborando com esses dados, o Skyscanner’s Travel Trends 2023 Report apurou que 54% dos viajantes estadunidenses estavam buscando se aventurar sozinhos no ano seguinte.
Vale acrescentar que o levantamento da Visa também apontou o Rio de Janeiro como o quarto destino mais procurado por viagens solo nas Américas, sendo o único destino brasileiro a figurar no ranking. A capital fluminense fica atrás apenas de Lima (Peru), Medellín (Colômbia), Tijuana (México) e Santo Domingo (República Dominicana).
Os fatores condicionantes para tal tendência são diversos. Entre eles, o nomadismo digital, que é outra tendência que ganhou bastante força com a digitalização e o crescimento do trabalho remoto, e a crescente procura por experiências únicas, aventura e aperfeiçoamento cultural. Há também o maior anseio por conexões sociais, dado que a epidemia de solidão acomete um em cada quatro idosos e entre 5% a 15% de todos os adolescentes do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Vale ressaltar também que o número de lares compostos por um único membro tem crescido significativamente ao longo dos anos, tanto no Brasil quanto na maioria dos países do mundo. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 11,8 milhões de pessoas moram sozinhas no País – o que corresponde a 15,9% dos domicílios em 2022, maior número da série histórica iniciada em 2012. Na Alemanha, esse percentual chega na casa dos 40%, refletindo em uma enorme e crescente parcela de consumidores do segmento de viagens solo.
Perfis de viajantes
As gerações mais novas, em especial jovens mulheres, têm demonstrado cada vez maior interesse por viagens solo internacionais, em busca de autonomia, autodescoberta, empoderamento, aventura e novas experiências, segundo levantamentos da StudentUniverse e da Flight Centre. Entretanto, o perfil que mais tem impulsionado buscas por viagens nesta modalidade, no entanto, são de mulheres casadas acima de 50 anos de idade, de acordo com a Flight Centre e Road Scholar. Esta última organização aponta ainda que os motivos são predominantemente falta de interesse do cônjuge em viajar e interesses de viagem diferentes.
Com o aumento no número de mulheres viajando sozinhas, surge outra questão: a segurança. O problema em si não está no ato de viajar, mas em ser mulher em uma sociedade machista. As notícias de violência contra a mulheres viajantes são inúmeras, principalmente no Brasil, considerado pelo Women Danger Index em 2019 como o segundo lugar do mundo mais perigoso para esse perfil de viajante. No estudo da Money Transfer em 2023, o Brasil aparece como o terceiro destino mais perigoso, atrás da África do Sul e do Peru.
Diante desse cenário, torna-se imperativo o desenvolvimento de iniciativas e medidas específicas que proporcionem maior atenção e segurança para as mulheres que viajam sozinhas, como a plataforma “Elas Viajam Sozinhas”, que fornece dicas de viagem para este tipo de perfil e serve como uma comunidade de mulheres que se apoiam nessa empreitada. Uma alternativa também se encontra na formação de grupos de viagem exclusivos para mulheres organizados por algumas operadoras de viagem e startups, como a Pinguim.
Solo, mas em Grupo
A importância deste segmento para o mercado e o aumento da demanda por viagens solo ao redor do mundo são indiscutíveis. Contudo, ainda existem muitos aspirantes a viajantes que nem sequer cogitam embarcar nessa aventura devido à falta de companhia. Dessa lacuna, surgiu a Pinguim, plataforma cuja finalidade é unir pessoas com o objetivo comum de viajar. Fundada no final de 2019, a startup sobreviveu a pandemia, foi eleita pela Phocuswright como a melhor traveltech da América Latina em 2023 e agora busca alçar voo sobre novos horizontes, como o segmento corporativo.
Renata Franco, fundadora e CEO da Pinguim, conta que a concepção da plataforma se deu em virtude de sua sede por inovação. “Tenho mais de 30 anos de experiência no setor de Turismo, com foco no segmento corporativo e viagens de incentivos, e tenho sempre a necessidade de estar fazendo algo novo. A ideia do aplicativo surgiu justamente ao perceber que o Turismo mudou muito pouco desde o início de minha carreira, então eu decidi sair do grupo que eu trabalhava e era sócia para pensar em algo diferente para o setor”, conta a executiva.
Apesar do desfavorável cenário durante a concepção da startup, a Pinguim soube aproveitar o período de isolamento social para estudar o público, aprimorar tecnologias e traçar estratégias. “Foi o maior desafio da minha vida, mas como era uma empresa que estava nascendo e tinha uma equipe enxuta, conseguimos nos estabelecer e sobreviver a pandemia. Começamos realizando estudos de perfil e análise de comportamento das pessoas que entravam na plataforma. Com a impossibilidade de viajar, o aplicativo tornou-se uma plataforma para pessoas se conectarem e sonharem juntas sobre a próxima viagem. Estávamos ajudando as pessoas a se relacionarem em um momento solitário”, relata Renata.
Com o retorno das viagens, a Pinguim já estava estrategicamente posicionada para se consolidar no mercado de Turismo. Até o início deste ano, a empresa registrou mais de 120 mil usuários únicos no aplicativo e uma interação média de quatro mil usuários ativos semanalmente. “Com a plataforma consolidada, passamos a dar um foco maior no mercado B2B, em viagens de incentivo. Fizemos uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) para desenvolver e melhorar nossa tecnologia para melhor atender esse segmento”, conta a fundadora.
Incentivo para ir longe
A percepção de Renata sobre a falta de inovação no Turismo é ainda mais acentuada no segmento de viagens de incentivo. “Participei de uma com meu marido e fiquei impressionada em como se manteve tudo igual, não mudou nada. Então, comecei a pensar em inovar e levar o segmento para essa plataforma diferenciada no mercado, ainda mais que estávamos criando diversas comunidades de viagens. Foi assim que nasceu a Pinguim Incentive Travel & Tech”, revela a CEO.
Ainda segundo ela, grande parte das empresas não conhecem seus clientes, fornecedores e colaboradores a fundo e é exatamente nisso que a plataforma pode auxiliar. “Com dados fornecidos pela própria empresa, a Pinguim Incentive permite ao empresário visualizar melhor os gostos e interesses de quem ele procura agradar, o perfil de cada um dos seus clientes, convidados e funcionários. Com o auxílio de Inteligência Artifical (IA), conseguimos dizer quais são as tendências do mercado, determinar preferências dos clientes, sejam eles fornecedores ou consumidores finais, personalizar roteiros e até ajudar na produção de campanhas de Marketing mais assertivas e efetivas”, explica Renata.
Atualmente, a Pinguim Incentives já está atendendo grandes empresas de diversos setores, como financeiro, alimentício, cosméticos, indústrias, seguradoras e de transporte, proporcionando experiências exclusivas em diversos destinos nacionais e internacionais. “Queremos fazer com que nossa plataforma seja cada vez mais útil para nossos clientes, auxiliando na área de eventos e viagens de incentivo, fornecendo uma quantidade crescente de dados para o segmento”, afirma Renata.
Ao coletar e manipular dados compartilhados por grandes empresas, a CEO da Pinguim ressalta que os dados são muito bem tratados e assegurados, tudo de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Trabalhamos com muita seriedade a questão de segurança e estamos desenvolvendo isso com o apoio da FURG”, conta Renata.
O mesmo vale para os clientes B2C, em que a plataforma disponibiliza diversas dicas e tutoriais para evitar qualquer tipo de assédio ou problema relacionado durante as viagens. “O que tem mais tem dado resultado são grupos de viagem, em que levamos mais de 30 mulheres para eventos e destinos turísticos. Estamos montando outro junto com a Escola Saint Paul de Negócios, levando um grupo de 60 mulheres para a China. O grupo trás mais segurança, em especial para as mulheres de idade mais avançada”, explica Renata.
Por fim, a fundadora da empresa revela as tendências de mercado e suas expectativas para o segmento. “Esse ano tem sido bastante movimentado, pois as verbas das empresas para viagens de incentivo aumentaram bastante desde o fim da pandemia. O que as pessoas mais querem é viajar, muito mais do que adquirir bens materiais, principalmente em busca de experiências mais inusitadas e sustentáveis, em lugares pouco explorados por brasileiros, em contato com a natureza ou que tem agregam em conteúdo, como o festival SXSW em Austin, nos Estados Unidos”, conta Renata.
“Esse é o nosso propósito como empresa. Levar conhecimento e cultura, investindo cada vez mais em experiências locais, sustentáveis e em contato com a natureza. Conhecimento que as pessoas muitas vezes não têm acesso”, sintetiza Renata. “Tudo isso viajando em grupo, assim como fazem os pinguins”, finaliza a executiva, ressaltando a simbologia por trás do nome da empresa.
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