Por Gabrielle Cotrim, Matheus Alves e Kamilla Alves

As fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul, com direito a granizo, tiveram início em 27 de abril. De lá para cá, são mais de 30 dias e 475 municípios atingidos por enchentes, afetando a vida de mais de 2,3 milhões de pessoas. Esta foi a maior tragédia que o estado já viveu, sendo uma das maiores que o País presenciou.

O Rio Grande do Sul desempenha um papel crucial no setor de turismo, contribuindo significativamente para a economia do estado e do país. Com milhares de hotéis, restaurantes e meios de transporte dedicados a atender os visitantes, o turismo emprega cerca de 200 mil pessoas.

Todo o impacto tem preocupado todo o setor, já que as chuvas resultaram também no fechamento do Aeroporto Internacional de Porto Alegre – que segue sem previsão de reabertura-, além do bloqueio das principais estradas até Gramado, a cidade que chegou a receber 8 milhões de visitantes em 2023, agora está praticamente deserta. A situação é preocupante, já que o estado enfrenta grandes desafios devido às enchentes e suas consequências. 

O Observatório de Turismo da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul, em colaboração com o Núcleo de Observação, Desenvolvimento e Inteligência Turística e Territorial da Universidade de Caxias do Sul (USC), realizou um levantamento abrangendo cerca de 46% dos municípios do estado (totalizando 232 municípios) no período de 15 a 20 de maio deste ano.

Essa pesquisa visa compreender o impacto das enchentes no setor de turismo e fornecer dados relevantes para a tomada de decisões e planejamento estratégico. Segundo levantamentos, mais da metade (55,5%) dos atrativos turísticos públicos sofreram danos consideráveis. 

Às hospedagens também enfrentam sua parcela de desafios, com cerca de 41,4% deles relatando danos diversos devido às intempéries. A recuperação das áreas atingidas está se mostrando uma tarefa árdua. Mais da metade (53,8%) dos municípios afetados preveem um processo de recuperação que se estenderá por mais de dois meses. Enquanto isso, um terço (33,2%) dos eventos programados tiveram que ser cancelados devido aos prejuízos causados pelas enchentes. 

Vale explicar que as chuvas foram resultado de uma combinação de fatores, entre eles uma massa de ar quente sobre a área central do País, que bloqueou a frente fria que estava na região Sul e fez com que a instabilidade permanecesse sobre o estado, causando chuvas intensas e contínuas.

Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio ainda tem influência do fenômeno El Niño, responsável por aquecer as águas do Oceano Pacífico, contribuindo também para que áreas de instabilidade ficassem sobre o estado. 

Voos e aeroportos

Submerso desde o dia 03 de maio e com atividades suspensas desde o dia 06 de maio, o Aeroporto Internacional Salgado Filho, segue inoperante e sem previsão de retornar às atividades. A medida, que garante a segurança de funcionários e passageiros diante do estado de calamidade provocado pelas chuvas fortes que atingiram o Rio Grande do Sul, foi anunciada pela Anac e confirmada pela Fraport Brasil, empresa que administra o terminal aéreo de Porto Alegre.

Em nota, a concessionária explicou a situação. “A Fraport Brasil informa que as operações no Porto Alegre Airport seguem suspensas por tempo indeterminado. Seguimos em contato com a Defesa Civil, autoridades e companhias aéreas para acompanhamento e avaliação da situação. Não há previsão de retomada”, diz o comunicado da empresa, que também pede para que passageiros com voos reservados para o aeroporto procurem a companhia aérea contratada.”

Diante desse cenário, companhias aéreas cancelaram todos os voos com chegada ou partida no no aeroporto de Porto Alegre e flexibilizaram as regras de remarcação e reembolso. Passageiros cujas passagens foram afetadas devem entrar em contato com a respectiva companhia aérea para realizar remarcação ou reembolso dos bilhetes com origem e/ou destino para a capital gaúcha sem que haja cobrança de taxa.

Como alternativa, empresas aéreas estão utilizando outros aeroportos da região para garantir o acesso ao Rio Grande do Sul. Um deles foi a base aérea de Canoas, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, que passou a receber voos comerciais. A autorização foi dada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e deve durar até a regularização do aeroporto de Porto Alegre e o fim do estado de calamidade pública no estado. Vale destacar que a base já conta com vendas de passagens aéreas pelas principais companhias que atuam em território nacional.

Designada como responsável pela operação a partir da Base Aérea de Canoas, a Fraport Brasil cuidou dos detalhes para garantir a infraestrutura e a segurança necessárias para realização dos voos e transporte dos passageiros. 

“A estrutura do ParkShopping Canoas fará parte desta operação, onde a Fraport receberá os passageiros para os procedimentos de segurança e embarque, antes do deslocamento via terrestre até a Base Aérea de Canoas. Os detalhes sobre horários dos pousos e decolagens, bem como rotas, podem ser consultados com as companhias aéreas”, divulgou a concessionária em comunicado.

Além disso, também foi criada uma malha aérea emergencial no interior do estado, para atender a população que precisa acessar as cidades gaúchas ou sair do RS. Foram retomados voos regionais com destino a Santa Maria, Uruguaiana, Caxias do Sul, Passo Fundo e Santo Ângelo. Assim como foi estabelecida uma rota de ônibus ligando o aeroporto de Florianópolis até Porto Alegre. O consórcio que administra o aeroporto da capital catarinense começou a operar uma malha emergencial com seis viagens diárias, sendo três saídas de cada cidade.

No dia 16 de maio, Renan Filho, ministro dos Transportes, sobrevoou o terminal aéreo e verificou que o local ainda estava submerso e a pista debaixo d’água. De acordo com o ministro, o governo só deve ter um prognóstico de quando o aeroporto deve ser reaberto quando as águas baixarem, e informou que a equipe do Ministério de Portos e Aeroportos se esforça para ter uma previsão de reabertura “no menor tempo possível”.

No dia 28 de maio, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) emitiu um Notice to Airman (Notam), documento reconhecido internacionalmente, que tem a finalidade de divulgar alterações e restrições temporárias que possam ter impacto nas operações aéreas. De acordo com o documento, o Aeroporto Internacional de Porto Alegre seguirá interditado – pelo menos – até o dia 10 de agosto.

Totalmente alagado e com prejuízos ainda incalculáveis, o terminal agora terá pouco mais de 70 dias para tentar se recuperar e adiantar o reinício das operações que estavam previstas para começar apenas em setembro.

Segundo a Fraport Brasil, as operações continuam suspensas por tempo indeterminado. “A concessionária informa ainda que as operações no Porto Alegre Airport seguem suspensas por tempo indeterminado. No momento, não temos uma estimativa dos danos causados pela enchente. Após as águas baixarem, teremos condições de avaliar em detalhes os impactos na infraestrutura aeroportuária”, informou.

Check-in interrompido

Quanto à hotelaria gaúcha, muitos empreendimentos foram diretamente impactados pelas enchentes, forçando-os a encerrar as operações. Os demais, que conseguiram manter-se abertos, enfrentam desafios logísticos e operacionais. É o caso da rede Atrio Hotel Management, que do total de 12 empreendimentos no Rio Grande do Sul, cinco chegaram a fechar as portas. Desde então, o ibis Styles Porto Alegre Centro e o ibis Canoas retomaram as operações, enquanto os outros três seguem fechados.

“Nos momentos mais difíceis, os hotéis abertos seguiram com desafios operacionais, especialmente aos insumos e serviços de utilidade pública, como os de mobilidade de hóspedes e colaboradores”, afirma Aleandro Lemos, gerente Sênior de Operações da Atrio Hotel Management para a região Sul. “Neste momento, nós temos três hotéis em fase de avaliação de retomada. Isso significa que estão sendo feitos criteriosos processos de avaliação elétrica e de limpeza, além de inventário de perdas e aquisição de novos insumos.

Do ponto de vista comercial, a recomendação geral da indústria é que as viagens sejam remarcadas, segundo Lemos. “Essa, claro, é uma premissa que apoiamos porque nós queremos seguir contribuindo para fomentar o incentivo de viagens ao destino. Sabemos que é um caminho desafiador, mas o nosso hóspede tem a oportunidade de escolher e utilizar outros hotéis administrados pela Atrio no estado”, complementa.

Rafael Peccin, sócio-diretor do Grupo Casa Hotéis, conta quais foram as primeiras medidas da rede em relação às reservas. “Logo no início, nós adotamos uma política de remarcação para quem teve sua viagem impactada, e sugerimos, em nossa comunicação, que os hóspedes não cancelassem as viagens e sim adiassem. 85% de todas as reservas que tínhamos para o período, principalmente para maio, foram mantidas, dados que demonstraram confiança na melhoria da situação”, pontua.

Marcelo Marinho, diretor executivo da ICH Administração de Hotéis, relata que hoje a situação está mais normalizada. “É importante salientar que o estado se encontra operacional em todos os sentidos, inclusive com voos das companhias Gol, Azul e Latam, para a base aérea de Canoas. É óbvio que as áreas afetadas pelas chuvas e enchentes estão sendo limpas, porém, foram criadas rotas alternativas de acesso que não impedem a circulação de pessoas. Com os voos chegando na base aérea e check in no Belo Shopping Park Canoas, os turistas acessarão a Serra Gaúcha mais rapidamente”, detalha.

Marinho destaca que os hotéis de Gramado estão operando plenamente, pois a região foi pouco afetada. Já em Porto Alegre, dos quatro hotéis da ICH, dois estão funcionando normalmente, que são o Piazza Navona Flat e o Intercity Cidade Baixa. “Os hotéis que ficam em Canoas e São Leopoldo fecharam temporariamente por falta de utilities, mas já estão a todo vapor, assim como nossa unidade de Caxias do Sul, que é outra porta de entrada do estado. Em Caxias, nunca pausamos as operações”, conta o executivo do ICH, rede que também ofereceu cancelamento gratuito e crédito para remarcações.

“Apesar das fortes chuvas que causaram danos em todo o estado, Peccin ressalta que a infraestrutura turística da Serra Gaúcha não foi afetada. “Em Gramado, onde parte dos estabelecimentos fecharam por alguns dias devido ao baixo fluxo de turistas, está retomando a todo a vapor já nesse próximo feriado de Corpus Christi”, relata o sócio-diretor do Grupo Casa Hotéis.

“A expectativa é que junho já demonstre fortes sinais de retomada com grande movimento em julho, já que a cidade é o destino preferido dos brasileiros no inverno. Já Cambará do Sul não foi atingida com gravidade pelas chuvas e todos os atrativos, como os cânions Itaimbezinho e Fortaleza estão funcionando normalmente”, complementa.

Vale destacar que, no auge da tragédia, o setor hoteleiro prestou um papel fundamental em apoio às vítimas das enchentes. A Accor, por exemplo, chegou a ativar o fundo global ALL Heartist Fund e promoveu doações de suprimentos, além da flexibilização da política de cancelamentos.  Já as unidades da Blue Tree Hotels em Porto Alegre e Caxias do Sul tornaram-se pontos de coleta de doações para as vítimas, com o apoio das demais unidades pelo Brasil, que recolheram água potável, alimentos, roupas, itens de higiene e materiais de limpeza para assistência às pessoas afetadas pela catástrofe.

No caso do ICH, a rede criou uma campanha de doações aos colaboradores que sofreram com perdas severas de bens. “Também disponibilizamos parte dos apartamentos dos hotéis em operação para receber médicos, voluntários e os próprios colaboradores, que necessitam de ajuda com moradia temporária”, acrescenta Marinho.

O Grupo Casa Hotéis também foi responsável por encabeçar ações solidárias, como a campanha Acolhimento de Casa, que arrecadou quase R$ 700 mil e doou mais de 25 mil cobertores para as famílias necessitadas e ONGs. “Também estamos trabalhando ativamente no Plano de Retomada Sócio-Econômica, ao lado de outros empresários, para encontrar soluções macros para o setor do turismo, não só da Serra Gaúcha, mas também para todo o Estado”, completa Peccin.

Vetor de retomada da economia

Apesar de todas as tragédias que atingiram as regiões próximas, a Serra Gaúcha sofreu poucos impactos decorrentes das chuvas e segue de portas abertas para receber visitantes com a segurança necessária. Secretários de Turismo de Canela, Gramado e Nova Petrópolis reforçam que os atrativos turísticos, a hotelaria e o comércio não foram afetados, permanecendo totalmente operacionais e prontos para a temporada de inverno.

“Embora algumas áreas rurais tenham sido afetadas por deslizamentos de terra e fechamento de vias, esses problemas não interferiram nos principais pontos turísticos de Canela. A única questão que restringiu, mas que agora já está praticamente normalizado, é o acesso até Canela e Gramado e estamos totalmente prontos para receber visitantes,” afirmou Gilmar Ferreira, secretário de Turismo de Canela.

Embora o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, siga com operações suspensas e sem previsão de voltar a operar voos comerciais, o fluxo de pessoas na região não sofreu muita alteração. Gilmar pontuou que apenas 30% dos visitantes de 2023 chegaram à Canela por meio do terminal e que grande parte do público que visita a serra gaúcha é proveniente de um raio de 500km, sendo Santa Catarina um grande destino emissor. E, para aqueles que vêm de outros estados e regiões do País, é importante salientar que alternativas estão sendo desenvolvidas, incluindo o uso da base aérea de Canoas. Outra opção considerada é o aeroporto de Caxias do Sul, que, apesar de exigir um desvio maior, permanece como uma alternativa viável para os visitantes.

“Canela recebeu 7,2 milhões de pessoas em 2023 e estávamos projetando 8 milhões para 2024. O mais importante agora é a retomada. Temos muitas esperanças que em junho, com a normalização das estradas e acessos, tudo estará pronto,” disse o representante.

Nova Petrópolis também foi uma das cidades que sofreram baixos impactos, como deslizamentos de terra em algumas áreas e, como consequência, também precisou lidar com bloqueios parciais e totais nos principais acessos da cidade – que logo foram resolvidos. “Nova Petrópolis segue operando em toda sua estrutura, desde gastronomia, como atrativos turísticos, para receber bem o turista”, explicou Mayara Senna dos Reis, secretária interina de Turismo, Indústria e Comércio.

No Dia do Abraço, celebrado em 22 de maio, a cidade lançou a campanha “Abrace Nova Petrópolis”. Com um abraço coletivo na Praça das Flores, a ação convida os turistas de todo país a também abraçarem a cidade e manterem os planos de prestigiarem a região.“A cooperação entre todos faz com que a gente consiga seguir fortes para superar mais este obstáculo”, destacou a secretária.

Entre as ações desenvolvidas na campanha estão a divulgação de diversos conteúdos que reforçam a condição segura da cidade. Além de divulgar amplamente as formas de acesso à região, que foram adaptadas diante dos bloqueios de rodovias do estado.

Gramado passou por situação semelhante, tendo apenas áreas residenciais e do interior da cidade sendo atingidas devido às chuvas, comprometendo alguns passeios de agroturismo. No entanto, no que diz respeito à área central da cidade, onde estão localizados restaurantes, hotéis e principais atrativos do destino turístico, nada mudou. “A nossa máquina turística continua funcionando a pleno”, afirmou  Ricardo Bertolucci Reginato, secretário de Turismo de Gramado.

Um comitê foi criado para traçar necessidades que precisam ser tratadas para a retomada do Turismo na região. O primeiro passo foi atuar na desobstrução e limpeza das vias, permitindo a circulação de pessoas. Em seguida, tem a expansão da malha aérea, que já aconteceu com o uso da base Aérea de Canoas operando voos comerciais. Além disso, existe uma demanda muito forte para que o aeroporto de Caxias do Sul passe por uma requalificação e consiga operar mais voos, incluindo internacionais. “E, por fim, existe uma construção que já é solicitada há um certo tempo e sabemos que não é para agora, mas estamos reativando a campanha para a construção do aeroporto das Hortênsias, que seria um aeroporto aqui na região de Gramado e Canela, visto que somos a maior oferta turística do estado do Rio Grande do Sul”, destacou Ricardo.

“A região da Serra Gaúcha já está trabalhando para além destas questões estruturais e pensando em linhas de crédito e desenvolvimento, assim como reforçar a imagem de destino seguro para os visitantes. Nesse primeiro momento é muito importante olhar para dentro e preservar a vida das pessoas. Mas, a partir do momento que conseguirmos a retomada do Turismo será preciso fazer uma campanha para mostrar que o destino está seguro”, frisou o secretário. 

Para ele, Gramado e outros destinos da Serra Gaúcha terão papel fundamental na reconstrução da economia do estado. “O turismo pode ser um grande vetor de retomada da economia do Rio Grande do Sul. Talvez seja o setor que está mais preparado para retomar suas articulações e atividades, pois somos o grande case do estado e estamos prontos para trabalhar de novo.”

E se tratando de economia a expectativa é grande para a temporada de inverno, considerada alta estação para os destinos turísticos da Serra Gaúcha com a realização de eventos que costumam atrair milhares de visitantes. Se a situação não se normalizar até junho, o prejuízo pode alcançar R$ 350 milhões, de acordo com com Claudio Souza, presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares da Região das Hortênsias. O cálculo é baseado na atração de turistas durante os meses de temperaturas mais baixas, sendo maio e junho considerados de média temporada, com o pico em julho.

“Nós temos um evento chamado Temporada de Inverno, que começa em 21 de junho e vai até 12 de agosto. E, entre 12 e 28 de julho, temos a Festa Colonial, que é uma festa mais voltada ao canelense, mas que é aberta ao público. Vamos manter, eu creio que as pessoas vão precisar descansar um pouco e recarregar as energias, então eu acredito muito que o nosso turismo vai retomar”, acredita o secretário de Turismo de Canela.

Segundo o gestor, a retomada do turismo é essencial para a economia local, já que o setor representa uma parte significativa do PIB de Canela e Gramado. “O turismo no PIB do Rio Grande do Sul representa cerca de 5%. Em Canela, ele chega a 76% da matriz econômica. Em Gramado, passa de 80%. Para nós, a falta de turista impacta muito,” explicou.

Nesse processo de retomada, agências de viagens e receptivos colaboram da forma que podem. A Brocker Turismo mantém ativa em seu site, desde o início das enchentes, uma página atualizada diariamente com informações sobre os destinos da Serra Gaúcha e respectivos acessos às atrações turísticas, assim como status de funcionamento delas. 

Investimentos em infraestrutura e novos atrativos estão em andamento, com redes hoteleiras internacionais se estabelecendo na região, o que reforça a confiança no potencial turístico. A união e o planejamento estratégico das autoridades locais e do trade turístico estão focados em garantir uma retomada segura e eficaz do turismo na Serra Gaúcha, visando não apenas a recuperação econômica, mas também a manutenção da excelência e da segurança para todos os turistas. “Nós estamos esperando os nossos irmãos saírem dos alagamentos da grande Porto Alegre para retomar a normalidade na Serra Gaúcha”, destacou Gilmar Ferreira.

Linha do tempo 

Em 1941, Porto Alegre enfrentou uma das piores enchentes de sua história, marcando um período de devastação e solidariedade. Durante 22 dias, nos meses de abril e maio, as águas do Rio Guaíba atingiram a marca alarmante de 4,76 metros, superando em muito a média normal de apenas 1 metro.

O centro da cidade ficou debaixo d’água, e os barcos se tornaram o principal meio de transporte. Pontos icônicos, como o Mercado Público, a Prefeitura Municipal e a Rua da Praia, foram inundados. Bairros como o Centro, Navegantes, Passo D’Areia, Menino Deus e Azenha também sofreram com a força das águas.

As consequências foram devastadoras: cerca de 70 mil habitantes (um quarto da população da época) ficaram desabrigados, sem energia elétrica e água potável. Quase 600 empresas suspenderam suas atividades, e os prejuízos foram calculados em 50 milhões de dólares. Uma rede de solidariedade se formou para assegurar abrigo, remédios e alimentação às vítimas, com a Cruz Vermelha Norte-americana destinando US$10 mil aos afetados no Rio Grande do Sul.

Mais de oitenta anos depois a história se repete ,em menos de um ano o Rio Grande do Sul foi afetado por quatro desastres climáticos, em 2023 foram registrados três eventos que aconteceram em junho, setembro e novembro, deixando 75 mortos.

Infelizmente a tragédia se repetiu este ano, só que desta vez atingindo um número recorde de mortos, afetados e desabrigados. Desde o final de abril de 2024, o Rio Grande do Sul enfrenta uma tragédia sem precedentes, com chuvas torrenciais, enchentes e deslizamentos de terra. A maior tragédia climática da história do estado já deixou pelo menos 169 mortos e afetou mais de 2 milhões de pessoas. Mas como a situação escalou para as cenas trágicas vistas nos últimos dias? O Brasilturis Jornal elaborou uma cronologia do drama vivido pelos gaúchos para ajudar a entender a crise.

 

Linha do tempo – ARTE

29 de abril: Primeiro Alerta Vermelho

  • Desde o dia 27 de abril, áreas no Vale do Rio Pardo, na região central do Estado, já sofriam com fortes chuvas e granizo.
  • Em 29 de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o primeiro alerta vermelho de volume elevado de chuva.
  • Fatores como uma massa de ar quente sobre a área central do país, o fenômeno El Niño e o aquecimento global contribuíram para a instabilidade climática.

30 de abril: Primeiras Mortes

  • Foram registradas cinco mortes em cidades como Paverama, Pantano Grande, Encantado e Santa Maria.
  • Dezoito pessoas estavam desaparecidas, e 77 municípios foram impactados pelas enchentes.

1º de maio: Calamidade Pública

  • O cenário piorou dramaticamente, com 114 municípios e mais de 19 mil pessoas afetadas.
  • O Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública.
  • Mais cinco mortes foram contabilizadas, incluindo descargas elétricas, afogamentos e deslizamentos de terra.

2 de maio: Aumento das Mortes

  • Dezenove novas mortes foram registradas em 24 horas.
  • Acesso a algumas localidades tornou-se impossível devido a deslizamentos e inundações.

4 de maio: Número de desaparecidos aumenta

  • 74 pessoas desaparecidas.
  • Infraestrutura pública danificada: mais de 400 mil pontos sem energia elétrica, 186 municípios sem sinal de internet e telefone.
  • Mais de 1 milhão de residências sem abastecimento de água.

5 de maio: Governo pede ajuda

  • Governador Eduardo Leite sugere um plano de recuperação semelhante ao Plano Marshall.
  • O governo estadual restabelece o canal de doações por Pix, SOS Rio Grande do Sul.
  • Centenas de ONGs e grupos arrecadam dinheiro e itens de primeira necessidade.
  • 78 mortes, 175 feridos, 341 municípios afetados e mais de 840 mil pessoas impactadas.

6 de maio: Mais mortes confirmadas

  • Nível do Guaíba continua subindo, atingindo 5,33 metros.
  • Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, é fechado por tempo indeterminado.
  • 85 mortes confirmadas.
  • 385 dos 497 municípios do estado afetados.

7 de maio: Muitos desabrigados

  • Quase 160 mil desabrigados.
  • Diminuição da intensidade da chuva, mas muitas cidades ainda com bairros inundados.

8 de maio: Falta de água

  • Nova frente fria traz mais chuvas, ventos fortes, raios e trovoadas.
  • Mais de 500 mil pessoas sem água, incluindo 85% da população de Porto Alegre.

9 de maio: Desespero nas cidades

  • Mais de 1,7 milhão de pessoas foram afetadas.
  • Relatos de famílias desesperadas se multiplicam.

10 de maio: Número de pessoas em abrigos cresce

  • 126 mortos, 141 desaparecidos e 756 feridos.
  • Cerca de 1,9 milhão de pessoas foram afetadas em 441 municípios.
  • 340 mil pessoas desabrigadas e 71 mil em abrigos.

11 de maio:  Número recorde de pessoas afetadas

  • Nível do lago atinge 4,57 metros pela manhã, mas volta a subir à noite.
  • 136 mortos, 125 desaparecidos e 806 feridos.
  • O Estado ultrapassa a marca de 2,1 milhões de pessoas afetadas.

26 de maio:  Até o presente momento foram registrados:

  • 169 mortos
  • 56 pessoas desaparecidas 
  • 469 municípios gaúchos foram afetados pelo temporal

01 de junho: Aumenta número de pessoas e cidades afetadas

  • O número de mortos sobe de 169 para 171
  • Já são mais de 2,3 milhões de gaúchos afetados
  • 475 municípios atingidos
  • Mais de 37,8 mil pessoas estão em abrigos ou locais provisórios; no entanto, há cerca de 580 mil pessoas desalojadas

03 de junho: Nível do Rio Guaíba torna a subir

  • O nível do Rio Guaíba atinge 3,80 metros, 20 cm acima da nova cota de inundação, de 3,60 m no centro de Porto Alegre.
  • Mais de 616,6 mil pessoas ainda estão impossibilitadas de voltar para suas casas
  • 37.154 pessoas estão temporariamente alojadas em um dos 857 abrigos
  • Número de mortes aumenta para 172
  • 42 pessoas ainda seguem desaparecidas
  • Desde o início das fortes chuvas, foram resgatados 77,8 mil pessoas e 12,5 mil animais silvestres