No segundo trimestre de 2024 (2T24), a Azul, Latam e Gol, principais companhias aéreas que operam no Brasil, enfrentaram cenários distintos, refletindo tanto os desafios quanto às oportunidades presentes no setor aéreo nacional, apesar de compartilharem obstáculos como o fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, motivado pelas enchentes que afetaram o rio Grande do Sul, variações de câmbio e preço do combustível.

Tendo o fechamento do aeroporto como fator relevante em comum para queda no número de passageiros e operações, as três principais companhias relataram dificuldades em um mercado volátil e competitivo.

Na videoconferência de apresentação dos resultados do segundo trimestre de 2024, a Azul S.A. reportou uma receita operacional de R$ 4,2 bilhões – o que representa uma leve queda de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa redução foi atribuída a dois principais fatores: as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul e uma diminuição temporária na capacidade internacional. “Sem esses impactos, estimamos que nossas receitas líquidas teriam ficado acima do 2T23”, explicou John Rodgerson, CEO da Azul S.A.

Rodgerson também abordou o impacto da desvalorização do real brasileiro, que enfraqueceu 11,7% durante o trimestre, e o aumento dos preços dos combustíveis em 2,4%, que pressionaram os resultados da companhia. Apesar desses desafios, a Azul conseguiu manter uma margem EBITDA de 25,2%, uma das mais altas do setor.

“As tendências de vendas no terceiro trimestre estão muito encorajadoras, com uma aceleração na demanda corporativa, levando a um aumento nas tarifas. Acreditamos que esta tendência irá se intensificar no segundo semestre do ano, sazonalmente o nosso período mais forte”, expressa a Azul no documento.

Neste trimestre a Azul continuou a focar na diversificação de sua malha aérea e na busca por manter a estabilidade financeira, mesmo diante de condições climáticas adversas e oscilações na demanda internacional. A capacidade de manter uma margem EBITDA elevada, mesmo com a queda na receita, reflete uma abordagem cautelosa e eficiente na gestão de custos e operações, algo crucial em tempos de incerteza.

A Azul informou ainda que conseguiu manter o crescimento após a implementação do plano de otimização de capital no ano passado, avançando para o próximo passo de acessar todo o valor disponível na Azul. “Desenvolvemos e começamos a implementar um plano, chamado “Eleva”, com múltiplas oportunidades para aumentar receitas e reduzir custos, mais uma vez permitindo que a Azul se adapte e continue expandindo a lucratividade e a geração de caixa”, explicou o CEO.

Com relação a aeronaves, o plano de transformação da frota se mantém no “caminho certo”, segundo Rodgerson, gerando uma redução de 2,0% ano contra ano no consumo de combustível por ASK. No segundo trimestre foram recebidos dois Airbus A320s, dois Airbus A330neo e um Embraer E2, com previsão de mais aeronaves a serem entregues nos próximos meses.

“Estamos orgulhosos do desempenho de nossas unidades de negócios, que foram responsáveis por mais de 20% de nosso RASK e acima de 30% de nosso EBITDA. O desempenho do Azul Fidelidade permaneceu forte, com um recorde histórico de membros, faturamento bruto e cartões de crédito co-branded ativos. A Azul Viagens, nosso negócio de lazer, cresceu 63% em vendas brutas no 2T24 em comparação com o 2T23. Nosso negócio de logística permaneceu forte, com crescimento de receita trimestre a trimestre, mesmo com o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul em nossas operações”, relata a aérea.

A Latam, por sua vez, apresentou um desempenho positivo no segundo trimestre, com lucro líquido de US$ 146 milhões, elevando o acumulado do primeiro semestre de 2024 para US$ 405 milhões. O resultado foi impulsionado por um crescimento consistente nas receitas operacionais, que totalizaram US$ 3 bilhões no trimestre. A empresa destacou o aumento das receitas de passageiros, especialmente no segmento internacional, além de um bom desempenho das operações domésticas, mesmo durante a baixa temporada..

A ocupação média dos voos da Latam foi de 82,2%, com destaque para as operações internacionais que alcançaram uma taxa de 84,3%. O aumento da capacidade operacional, medido em assentos-quilômetros disponíveis (ASK), foi de 16,2% em comparação ao mesmo período de 2023, apesar dos desafios enfrentados, como as enchentes no Rio Grande do Sul e o fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

“Na aviação, a gente vive momentos muito diferentes o tempo todo. Tivemos a pandemia e tantos outros momentos, e hoje a companhia está gerando caixa, saudável, buscando manter o crescimento e vendo formas de ajudar o Brasil além de colocar assentos à venda. Estamos olhando caminhos para expandir, ainda mais, não só a operação como o setor aéreo do Brasil”, destacou Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil.

Com relação ao EBITDA, a aérea registrou o valor de US$619 milhões para o trimestre, um aumento de 10,7% em relação ao mesmo período de 2023, devido ao aumento na capacidade operacional e à contenção dos custos unitários, excluindo o combustível.

Outro ponto relevante no desempenho da Latam foi o aumento na satisfação dos clientes, refletido no crescimento do Net Promoter Score (NPS), que subiu, nos últimos cinco anos, de 33 para 54 em passageiros regulares, enquanto clientes de alto valor registraram aumento de 32 para 59. Para Jerome, as melhorias nas cabines e serviços, como a introdução da Premium Economy, foram bem recebidas pelos passageiros e contribuíram para o fortalecimento da marca.

A Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A. enfrentou um cenário mais complexo, reportando um prejuízo líquido de R$ 3,9 bilhões no 2T24. Este resultado foi fortemente impactado por fatores não recorrentes, incluindo custos relacionados ao processo de Chapter 11, oscilações cambiais desfavoráveis e o fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. Essas adversidades resultaram em uma redução de 7,2% na oferta de assentos-quilômetros disponíveis (ASK) em comparação ao 2T23.

Apesar do prejuízo, a Gol conseguiu entregar uma margem EBITDA recorrente de 18,9%, evidenciando a resiliência de sua operação. O caixa total da companhia – que inclui caixa, equivalentes de caixa e aplicações financeiras – atingiu R$ 2,6 bilhões.

A companhia foi a aérea mais pontual do Brasil no 2T24 e, em junho, alcançou o título de companhia aérea mais pontual da América Latina e a primeira no mundo entre as “Low Cost Carriers” em pontualidade, com um índice de 90,5%. Além disso, a Gol anunciou seu 16º acordo de codeshare com a Azul, além de restabelecer o acordo com a South African Airways.

Nesse mesmo período a Gol também registrou expansão de suas unidades de negócios, Smiles e Gollog, que desempenharam papéis cruciais na mitigação das perdas operacionais. A Smiles registrou seu segundo melhor faturamento trimestral, com um aumento de 8,4% em relação ao 2T23. O programa também viu um aumento de 6,5% na base de clientes no 1S24, com destaque para o crescimento de 54,6% nas categorias premium (Diamante, Ouro e Prata). Já a Gollog registrou um aumento de 41,0% no faturamento no 1S24, com um crescimento de 39,5% das toneladas transportadas. Este desempenho, especificamente, foi impulsionado principalmente pela operação dedicada ao Mercado Livre.

Com relação à frota, a companhia adicionou uma aeronave Boeing 737-MAX 8 e devolveu duas aeronaves Boeing 737-NG, mantendo uma frota total de 141 aeronaves Boeing.

Além disso, a empresa implementou melhorias em seus canais digitais, resultando em um aumento de 13,2% nas vendas de passagens por meio de canais diretos. Esses movimentos indicam um esforço contínuo para adaptar-se às novas realidades do mercado e buscar crescimento sustentável a longo prazo.

Crescimento e desafios

As perspectivas para o futuro das três companhias aéreas envolvem uma combinação de desafios e oportunidades. A Azul continuará a focar na eficiência operacional e na adaptação a cenários adversos, buscando manter sua margem EBITDA em níveis competitivos.

Para o futuro, a previsão é otimista. “Agora que entramos no período sazonalmente mais forte de primavera e verão no Brasil, com a chegada de mais aeronaves de nova geração em nossa frota, continuamos otimistas em relação ao futuro. As vendas têm melhorado nas últimas quatro semanas, e esperamos que essa tendência se acelere. Nosso compromisso continua firme em oferecer um valor excepcional aos nossos clientes, acionistas e tripulantes”, afirma Rodgerson, CEO.

A Latam, com sólidos resultados financeiros, está bem posicionada para continuar expandindo sua operação e investindo em melhorias de infraestrutura, como novos projetos de frota e programas de fidelidade.

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, detalhou, ainda durante a coletiva de resultados, o investimento de US$ 2 bilhões anunciado recentemente para o mercado brasileiro. “O volume do investimento está dentro do plano de desenvolvimento financeiro da Latam e o Brasil deve receber, nos próximos 2 anos, cerca de 2 bilhões de dólares que serão investidos entre frota e equipamentos para devidas manutenções. Além disso, está em vista uma série de projetos como o retrofit de cabines das aeronaves já existentes na frota, assim como a construção de uma sala vip em Guarulhos (SP). Está previsto, ainda, investimentos no site, aplicativo e programa de fidelidade da companhia.

Já a Gol, apesar dos desafios financeiros, mostra-se determinada a expandir suas operações internacionais e fortalecer seu programa de fidelidade Smiles, ao mesmo tempo em que trabalhará para manter a liderança em pontualidade e eficiência operacional. As novas rotas e parcerias são vistas como passos importantes na estratégia de crescimento sustentável da companhia.