São Paulo (SP) – No 2º T&E Summit Finance Edition da Paytrack, o painel “Tecnologias avançadas na detecção de fraudes”, mediado por Carla Trematore, membro do Conselho Fiscal da Embraer, da Natura e da Rumo All, discutiu os desafios da prevenção de fraudes no setor financeiro e o papel das tecnologias emergentes, como a inteligência artificial (IA) e a análise de dados, nesse processo.

Heloisa Barbosa, líder de Compliance, Risco e Controles da Swap, destacou a crescente sofisticação das fraudes e a pressão regulatória para combatê-las. Ela ressaltou a importância das resoluções conjuntas, como a obrigatoriedade de compartilhamento de dados entre instituições financeiras, implementada pelo Banco Central. Segundo ela, essa medida tem ajudado a aumentar a eficiência na identificação e mitigação de fraudes, permitindo uma troca mais ágil de informações sobre comportamentos suspeitos e atividades fraudulentas.

Heloísa também compartilhou dados alarmantes: em 2024, o Brasil registra uma média de 12 milhões de reais por dia em fraudes no sistema financeiro, totalizando perdas de aproximadamente 2 bilhões de reais no ano anterior. A especialista defendeu o investimento contínuo em inteligência artificial e análise de dados para identificar padrões de comportamento e transações atípicas, que muitas vezes fogem ao controle das empresas.

Na sequência, Andrea Suman, diretora de Dados e Agilidade do Hospital Israelita Albert Einstein, ressaltou a importância de uma cultura organizacional centrada em dados. “Não basta apenas coletar informações, é crucial que elas sejam organizadas e de qualidade”, afirmou.

Ela mencionou que, em instituições como o Hospital Albert Einstein, a IA está sendo utilizada tanto para detectar fraudes quanto para melhorar processos internos, como a experiência do paciente e a eficiência operacional. Para a profissional, o letramento digital entre as equipes é fundamental para que as soluções tecnológicas sejam realmente adotadas e aplicadas no cotidiano das empresas.

Ainda durante o painel, os especialistas destacaram a importância de que a alta liderança e os conselhos das empresas tomem a frente na promoção do uso da Inteligência Artificial (IA) e outras tecnologias para resolver problemas de negócios. Segundo eles, o avanço tecnológico está impactando cada vez mais as empresas, sendo fundamental que esse tema seja tratado como prioridade estratégica.

“Sabemos que as organizações estão cada vez mais preocupadas com o avanço tecnológico, que já impacta significativamente os negócios, chegando a modificar por completo modelos de negócios ou até mesmo causando o desaparecimento de empresas”, destacou Adriano Vargas, sócio e líder de Serviços Forenses da PWC Brasil. Para ele, o ritmo acelerado das mudanças torna imprescindível que “o uso de IA seja uma pauta estratégica da alta administração, voltada para garantir a continuidade e sucesso das empresas”.

Além disso, foi enfatizado que o papel da liderança vai além de apenas promover a adoção de novas tecnologias. “Patrocinar essas iniciativas é crucial”, declarou Vargas. “Muitas vezes, conselhos são alimentados por informações vindas da administração ou de áreas de governança, e é essencial que essas informações sejam questionadas e avaliadas em termos de frequência, profundidade e relevância, especialmente aquelas relacionadas à tecnologia e inteligência artificial”, completou, reforçando que esse processo de questionamento é essencial para garantir que os conselhos cumpram suas funções de governança de forma eficaz.

No entanto, um dos maiores desafios apontados foi a dificuldade em calcular os retornos sobre o investimento em tecnologias como a IA. “Ainda há uma dificuldade em compreender como investir em tecnologia, particularmente em IA, visto que os retornos nem sempre são imediatamente tangíveis. Esse é um desafio significativo”, explicou Heloisa.

Outro ponto discutido foi a necessidade de maior integração entre as áreas das empresas para garantir que a adoção de IA seja bem-sucedida. “As áreas precisam estar integradas e alinhadas com os objetivos do negócio. Quando todos conhecem os desafios e as metas da empresa, é mais fácil sensibilizar e envolver as equipes”, acrescentou.

A organização e estruturação adequada dos dados também foram apontadas como essenciais para o sucesso da IA. “Não adianta começar a falar de IA sem ter dados bem estruturados para treinar os sistemas”, frisou Heloisa. “A estruturação adequada dos dados e a integração dessas informações na companhia faz uma grande diferença”, afirmou, explicando que a correta organização dos dados facilita o cálculo de retorno sobre o investimento e sensibiliza a alta liderança.

Para completar, a gestão de riscos e a definição de controles nos subprocessos internos foram citadas como desafios cruciais. “Quando conhecemos bem os processos e os riscos, conseguimos definir melhor quanto investir e onde focar nossos esforços”, observou Heloisa. “Isso é essencial para que as empresas possam avançar no uso da IA com segurança e gerar resultados concretos”, concluiu.