Durante a Expo Abla 2024, Sérgio Habib, presidente do Grupo SHC e representante da JAC Motors e Ankai no Brasil, apresentou uma análise contundente sobre os desafios enfrentados pelo mercado de carros elétricos no país. Segundo Habib, a expansão do setor, que apresentou crescimento expressivo em 2022, agora dá sinais de desaceleração.
“O primeiro semestre do ano passado viu um crescimento gigantesco de 900%. Mas, quando você compara o segundo semestre deste ano com o mesmo período do ano passado, ainda há crescimento, só que, ao observar os últimos cinco meses — julho, agosto, setembro, outubro e novembro —, percebe-se que a meta está em queda”, afirmou.
Dados recentes reforçam esse cenário. De acordo com Habib, os carros elétricos representaram 2,9% do mercado brasileiro no primeiro semestre de 2024, mas essa participação caiu para 2% no segundo semestre, com novembro registrando apenas 1,9%. “O mercado de carros elétricos no Brasil parou de crescer e não vai crescer”, declarou.
Durante sua fala no evento, Habib identificou quatro barreiras principais que dificultam o avanço do setor no Brasil:
- Renda média baixa
Com uma renda per capita de aproximadamente 10 mil dólares anuais, o Brasil está alinhado a economias como a do México e abaixo de países como o Chile, onde a penetração de carros elétricos ainda é de apenas 2%. Segundo o executivo, “países de renda média baixa não compram carros elétricos”. - Falta de subsídios governamentais
“Não dá para imaginar que o governo brasileiro vá subsidiar a compra de carros 100% elétricos”, explicou Habib, destacando que a prioridade do país está em questões mais urgentes, como o financiamento da Previdência Social. - Dimensão territorial
A extensão continental do Brasil torna a logística de veículos elétricos desafiadora. Habib comparou o cenário brasileiro ao de países menores, como a Holanda, onde 30% da frota é elétrica e a infraestrutura é mais facilmente adaptada. “Não somos como a Holanda, onde você pode atravessar o país de bicicleta”, disse. - Dependência de petróleo e infraestrutura insuficiente
Como o sétimo maior produtor mundial de petróleo, o Brasil enfrenta um paradoxo. “Reduzir o consumo de petróleo vai contra os interesses da Petrobras, onde o governo detém 50%”, afirmou Habib. Além disso, a infraestrutura de recarga é limitada: “No Brasil, temos cerca de 10 mil carregadores, enquanto a China tem 3 milhões.”
Apesar da importância crescente da mobilidade sustentável no mundo, Habib destacou que o Brasil está longe de uma expansão significativa dos carros elétricos. “Aqui, estamos ainda mais distantes dessa realidade”, concluiu.
A palestra de Habib no Expo Abla serviu como alerta aos participantes do setor de locação automotiva, reforçando a necessidade de estratégias adaptadas às peculiaridades do mercado brasileiro.
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