Ricardo de Oliveira começou sua trajetória de quase 35 anos em uma das principais companhias aéreas do mercado, onde trabalhou por mais de duas décadas, assumindo desafios que o levaram a atuar em São Paulo, Guatemala e Miami. Durante esses anos, Ricardo construiu um profundo conhecimento técnico em operações aeroportuárias e vendas, além de uma forte rede de relacionamentos no setor. Após 23 anos dedicados à companhia, Ricardo fez uma transição estratégica para o mercado de tecnologia de aviação ao ingressar na Sabre, onde foi responsável pela venda de soluções e softwares para a otimização de operações aéreas, incluindo ferramentas de planejamento de voos e de gerenciamento de receitas. 

Em 2017, após identificar novas oportunidades na Delta Airlines, Ricardo decidiu voltar ao setor aéreo, assumindo inicialmente uma posição operacional no aeroporto. Sua expertise e paixão pelo atendimento ao cliente rapidamente o destacaram, e ele foi promovido para uma posição comercial na equipe de vendas. No cargo de gerente regional de Vendas para o Brasil, passou a liderar estratégias comerciais, ampliando a presença da companhia junto a clientes corporativos e operadoras de lazer.

Em entrevista exclusiva ao Brasilturis, o profissional destaca o contínuo desenvolvimento da companhia no Brasil, sobretudo nos últimos dois anos após o início da joint venture com a Latam, que resultou em números expressivos e colocou a companhia em um novo patamar. Confira!

Como você avalia o atual cenário da Delta no Brasil e na América do Sul, incluindo o impacto da joint venture com a Latam?

Hoje, falar sobre a Delta no Brasil é falar sobre a integração com a Latam, especialmente por meio da joint venture (JV) entre as duas empresas, que reconfigura o panorama da aviação entre a América do Sul e os Estados Unidos. Desde a formalização da JV em 2019, embora ela tenha sido plenamente aprovada apenas em setembro de 2022 por órgãos regulatórios, conseguimos ampliar nossa operação de forma expressiva. 

Esse acordo estratégico permite que hoje tenhamos uma operação robusta, com um crescimento de 58% na oferta de assentos nos últimos dois anos, transportando mais de 2 milhões de passageiros entre os dois continentes. Só no Brasil, operamos mais de 11 mil voos e cobrimos cerca de 79 milhões de quilômetros desde a assinatura da JV, sendo que na América do Sul como um todo foram 32.000, transportando 5 milhões de passageiros no último ano. Isso faz da aliança Delta-Latam a maior fornecedora de assentos entre a América do Sul e a América do Norte.

A JV é estruturada para proporcionar aos clientes uma oferta ampla e um acesso eficiente aos destinos, tanto no Brasil quanto nos EUA, otimizando os voos e aumentando o market share. Hoje, a Delta é a empresa americana com maior presença no Brasil, tanto em destinos quanto em número de voos, principalmente com o suporte da capilaridade que a Latam traz para nossa operação, facilitando o embarque de passageiros em vários pontos do Brasil, conectando-os aos nossos hubs de São Paulo e Rio de Janeiro.

Quais são os principais hubs da Delta e quais investimentos foram feitos para tornar essa infraestrutura mais atraente para o passageiro?

A Delta se destaca pela presença em hubs estratégicos nos Estados Unidos. Atlanta é nosso principal ponto de conexão, especialmente com a América Latina. Nova York (JFK) também é um centro essencial para o trânsito de passageiros que vão e vêm do Brasil, e Los Angeles consolida nossa posição na Costa Oeste, com voo direto de São Paulo operado pela Latam. 

Esse voo faz da JV uma operação exclusiva entre as duas maiores cidades do Brasil e da Costa Oeste dos EUA. Além desses três, temos Detroit como mais um ponto importante de conexão, que, assim como Atlanta, recebeu investimentos pesados em tecnologia.

Nos últimos dez anos, a Delta investiu cerca de US$ 12,5 bilhões para modernizar nossos hubs e proporcionar uma experiência diferenciada e tecnológica. Em Atlanta, por exemplo, implementamos o sistema de reconhecimento facial para check-in, que permite ao passageiro embarcar apenas com o uso de seu rosto como identificação. 

Em Detroit, temos um painel inteligente que apresenta informações personalizadas para cada passageiro – ele reconhece o idioma e o destino de cada um. Se você está ao lado de outro passageiro, verá apenas as suas informações, enquanto o outro verá as dele. Isso é feito por uma tecnologia avançada de realidade aumentada, oferecendo um atendimento individualizado para cada passageiro. Investimos em lounges de alta qualidade, com exclusividade e conforto em destaque.

Além da Latam, quais outras parcerias estratégicas suportam o crescimento da Delta?

A Latam é, sem dúvida, um dos maiores parceiros estratégicos que temos na América do Sul, mas a Delta conta com um leque de parcerias fundamentais para a operação global. Nossos acordos com a Aeroméxico, Air France, KLM e Korean Air são extremamente importantes para mantermos nossa força nas rotas para o Atlântico Norte e para a Ásia. Cada uma dessas parcerias é cuidadosamente planejada para atender a uma demanda específica e complementar nossa rede de rotas e serviços.

Temos, por exemplo, uma parceria com a Travelport para aprimorar nossa conexão com o mercado de viagens. Desenvolvemos o sistema NDC (New Distribution Capability), que permite uma melhor integração com agentes de viagens e maior flexibilidade para atender às necessidades dos passageiros. Embora o NDC tenha enfrentado desafios iniciais, ele representa uma inovação necessária para melhorar a oferta de produtos e serviços aos nossos clientes, tornando a comunicação com o mercado mais ágil e eficiente.

Por falar nisso, como está sendo esta introdução do NDC e qual o impacto para as agências de viagens?

Olha, de fato houve alguma resistência inicial em relação ao NDC, mas não tanto da parte das agências de viagens, que estavam relativamente abertas a essas novas tecnologias. O grande desafio, na verdade, foi que a tecnologia do NDC não estava totalmente desenvolvida. O produto chegou ao mercado antes de estar pronto, e isso acabou gerando insatisfação e vários problemas de implementação. O sistema não entregava toda a gama de produtos e serviços que as agências precisavam oferecer aos seus clientes, o que levou a um impacto negativo inicial.

Para contornar esses problemas, a Delta negociou acordos com os GDS (Global Distribution Systems) nos Estados Unidos, pois, apesar do custo elevado para as companhias aéreas, os GDS ainda são importantes para a distribuição. Fizemos uma negociação para balancear os custos de distribuição com o GDS, alinhando os pagamentos de acordo com o tipo de reserva feita. Com isso, conseguimos uma estrutura mais equilibrada para a distribuição por meio dos GDS, permitindo tempo para desenvolver o NDC de forma mais completa e sem prejudicar o mercado.

Ao contrário de outras companhias que utilizam o NDC e acabam pressionando para que as reservas sejam feitas apenas nesse sistema, na Delta o NDC será uma alternativa, não uma substituição. Queremos que as agências tenham opções, podendo escolher entre o GDS e o NDC, o que nos permite oferecer tarifas competitivas sem forçar uma mudança drástica para o mercado. Esse é um dos diferenciais da Delta. Valorizamos nossas agências de viagens e queremos manter a parceria, oferecendo flexibilidade e apoio.

Como a Delta planeja estreitar ainda mais o relacionamento com as agências de viagens após a recuperação do mercado de viagens?

Nossa política e cultura sempre foram estar próximos dos agentes de viagens. Durante a pandemia, e mesmo após, em nenhum momento a Delta se distanciou de suas agências parceiras. Mantivemos nosso apoio, nunca reduzimos os benefícios, nem reduzimos a presença dos nossos executivos de contas no mercado. 

Isso faz parte da nossa cultura. Somos parceiros e investimos continuamente nessa relação. Não importa o cenário, continuaremos fortalecendo nosso compromisso com as agências, que são essenciais para o nosso modelo de negócios, especialmente no mercado B2B.

Quais as novidades previstas para o mercado brasileiro?

A Delta, em parceria com a Latam, ampliou suas rotas e frequências entre América do Sul e Estados Unidos. Entre os novos destinos, temos voos de São Paulo a Los Angeles e Santiago a Orlando, com apoio da Latam. Para o Rio de Janeiro, temos voos diretos para Atlanta e Nova York (JFK), sendo que o Rio-Atlanta será reforçado com uma quarta frequência semanal, e o Rio-Nova York retorna como voo diário no verão.

A partir de novembro, o Airbus A330-900neo voará diariamente para São Paulo. A novidade é que essa frequência será permanente, e o avião agora terá cabines Delta One Suites disponíveis diariamente para São Paulo, proporcionando mais privacidade e conforto.

Por falar nas cabines, a Delta vem investindo fortemente em modernização das cabines é uma iniciativa global que já começou com a renovação das aeronaves. A ideia é oferecer cabines mais confortáveis, com produtos modernos e novas configurações em todas as classes. Esse trabalho já começou com o modelo Boeing 757, que opera em voos domésticos e de curta distância, e seguirá com o Airbus A350 para rotas internacionais de longa duração.

A Delta também investe em conectividade: estamos comprometidos em oferecer Wi-Fi em todas as aeronaves e destinos. Além disso, trouxemos o Airbus 330-900 para voos ao Brasil, que é uma aeronave premium com suítes privativas na Delta One e características de conforto superiores. Esse é o nível de serviço que queremos continuar oferecendo, proporcionando uma experiência diferenciada para todos os passageiros, em qualquer classe que eles escolham.

Quais são os atuais desafios para a Delta e o mercado de aviação no Brasil?

Um ponto importante é a questão da exigência de visto para americanos entrarem no Brasil, prevista para 2025. Esse é um desafio para o setor aéreo e para a economia, pois poderia limitar o Turismo e os negócios. Além disso, o câmbio é um desafio constante, mas continuamos otimistas com a demanda do mercado brasileiro.

A demanda de voos no Brasil segue alta, mesmo com a oscilação do dólar. Esse cenário alterou o perfil de compra dos brasileiros?

Sim, mudou, especialmente para o público de lazer, que passou a se planejar com antecedência maior, geralmente de 60 a 90 dias. A alta do dólar tornou a programação essencial para evitar custos elevados de última hora. Já o passageiro corporativo continua comprando com pouca antecedência, mas adaptando-se a políticas de viagem mais restritivas.

Em 2025, a Delta completará 100 anos. Quais os planos para o centenário?

O ano de 2025 marca um marco histórico para a Delta, e estamos preparando diversas iniciativas para celebrar nosso centenário. Nossa jornada de 100 anos é construída sobre o compromisso com a inovação e a excelência no atendimento ao cliente. 

O investimento contínuo em infraestrutura, tecnologia e conforto para o passageiro reflete esse compromisso. Vamos continuar investindo em experiências inovadoras e diferenciadas para manter o nível de excelência que construímos ao longo de um século, sempre focando no bem-estar e na conveniência do nosso cliente.

Teremos celebrações, lançamentos e novidades para o centenário, mas também estamos focados em consolidar nossa posição como uma das empresas aéreas mais avançadas e centradas na experiência do cliente, fortalecendo ainda mais a nossa presença global.