Executivos da Associação Internacional da Indústria de Cruzeiros (Clia) ainda têm esperança de convencer as autoridades governamentais a reconsiderar a proibição de grandes navios de cruzeiro na região de Nice-Côte d’Azur, no sul da França. A entidade enfrenta mais uma tentativa de um destino turístico europeu popular de restringir o acesso de navios, citando o excesso de turismo e questões ambientais. Desta vez, os portos afetados são Nice e Villefranche-sur-Mer, e a restrição impede a entrada de navios com pelo menos 900 passageiros.
“Estamos pedindo uma reconsideração de qualquer ação que proíba o turismo de cruzeiros, em favor de uma abordagem holística de gestão do turismo, que se mostra, repetidamente, a melhor prática e a melhor maneira de administrar o turismo de forma a ajudar as comunidades a prosperar”, afirma Samuel Maubanc, diretor-geral da Clia na Europa.
Christian Estrosi, prefeito de Nice, assinou um decreto no final de janeiro proibindo que navios com pelo menos 900 passageiros desembarquem seus viajantes nos dois portos da Riviera Francesa.
“As embarcações que poluem e despejam sua clientela de baixo custo, que não consome nada e apenas deixa seu lixo para trás, não têm lugar aqui”, declarou Estrosi, que também é presidente da metrópole Nice-Côte d’Azur, durante seu discurso anual de Ano Novo, segundo a publicação Maritime Executive. Em novembro, Estrosi também pediu a redução em 50% do número de aluguéis de curto prazo via Airbnb em Nice, segundo o jornal regional francês Nice-Matin.
A proibição entrará em vigor em 1º de julho e praticamente eliminará a escala de cruzeiros contemporâneos e de luxo nesses portos, impactando especialmente Villefranche-sur-Mer, um porto de desembarque próximo a Nice. Dos quase 90 cruzeiros programados para Villefranche-sur-Mer este ano, dois terços dos navios transportam passageiros suficientes para serem afetados pela proibição, segundo Le Monde.
Indústria de cruzeiros enfrenta restrições em outros destinos europeus
Nos últimos anos, a indústria de cruzeiros já teve que lidar com tentativas de reduzir o tráfego marítimo em destinos como Veneza, Barcelona, Amsterdã e nas ilhas gregas de Santorini e Mykonos.
Embora Estrosi tenha reunido partes interessadas no início de fevereiro para discutir o decreto, a Clia, juntamente com 20 organizações marítimas da região, solicitou diálogo e uma avaliação econômica, classificando a proibição como um “golpe” para a economia do turismo.
Segundo essas entidades, o decreto pode resultar em uma perda de mais de US$ 10 milhões localmente e mais de US$ 600 milhões regionalmente. Além disso, a decisão prejudicaria armadores franceses e europeus que investiram na construção de navios sustentáveis para operar na Europa, mas agora não poderão mais atracar nesses portos importantes.
A Clia descreveu a situação como “em evolução”.
Nice como porto essencial para cruzeiros
Nice desempenha um papel estratégico na indústria de cruzeiros, tanto como porto de embarque, devido à proximidade com seu aeroporto, quanto, juntamente com Villefranche-sur-Mer, como um ponto central em itinerários pelo Mediterrâneo.
As empresas mais afetadas pela restrição são as que operam grandes navios, incluindo Celebrity Cruises, Holland America Line, Norwegian Cruise Line, Oceania Cruises e Royal Caribbean International, todas com escalas programadas para Villefranche-sur-Mer.
A Oceania Cruises foi a única companhia a se manifestar sobre como pretende lidar com a proibição. Quatro de seus oito navios ultrapassam o limite de capacidade, transportando cerca de 1,2 mil passageiros cada.
“A vantagem do Mediterrâneo é que há uma infinidade de portos fenomenais, especialmente ao longo das rivieras francesa e italiana”, comenta Frank A. Del Rio, presidente da companhia.
Oportunidade para cruzeiros de pequeno porte?
Jackie Friedman, presidente do Nexion Travel Group, disse que a proibição cria incerteza para os agentes de viagens, preocupados com a possibilidade de mudanças nos itinerários dos clientes perto da data do embarque. No entanto, ela também acredita que a limitação de Nice e Villefranche-sur-Mer a embarcações menores pode impulsionar a demanda por cruzeiros de pequeno porte.
“Ainda é cedo para determinar o impacto total, mas essas mudanças podem levar a uma alteração nos padrões de reserva, incentivando os viajantes a garantir suas reservas com mais antecedência e aumentando a demanda por embarcações menores e portos alternativos, à medida que as companhias de cruzeiro se adaptam às restrições”, afirmou.
Pelo menos uma companhia de cruzeiros já tentou capitalizar sobre a proibição. Ponant, uma operadora de cruzeiros de luxo, anunciou um novo itinerário de sete dias partindo de Nice apenas duas semanas após o decreto do prefeito, enfatizando que seus navios pequenos podem acessar áreas que os navios maiores não conseguem.
Os navios da Azamara Cruises, com capacidade para 700 passageiros, estão abaixo do limite da proibição. No entanto, Meg Lee, diretora de marketing da empresa, disse que ainda é cedo para saber se houve um aumento nas reservas desde o anúncio da restrição.
Mike Pawlus, chefe de planejamento de itinerários da Azamara, destacou que a empresa monitora constantemente o problema do excesso de turismo e ajusta suas visitas para evitar multidões, analisando quais grandes navios estarão em determinado porto e alterando os dias de escala, se necessário.
“Comparado a 10 ou 20 anos atrás, há muito mais navios no mar”, disse Pawlus. “Então, está se tornando um problema crescente decidir onde podemos ou não podemos ir.”
Apoio às restrições
Geoff Cox, vice-presidente de Vendas e Marketing do KHM Travel Group, elogiou as restrições, embora não acredite que terão um grande impacto na indústria de cruzeiros como um todo.
“Alguns desses portos estão sendo tomados por passageiros de cruzeiros, o que afeta a experiência de quem visita”, disse Cox, acrescentando que as companhias de cruzeiro continuarão a levar clientes para os portos enquanto isso for financeiramente vantajoso. “Por isso, é bom que algumas autoridades estejam reagindo.”
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