O turismo de base comunitária vem ganhando espaço no Brasil como uma alternativa sustentável que valoriza a cultura local e promove a inclusão das comunidades no desenvolvimento turístico. No Amazonas, essa experiência se destaca ao proporcionar vivências autênticas junto a povos indígenas e ribeirinhos, permitindo que os viajantes conheçam de perto os modos de vida, tradições e costumes dessas populações.
Com uma extensão territorial de 1,5 milhão de quilômetros quadrados, o Amazonas abriga 98% da Floresta Amazônica preservada. O principal ponto de entrada para explorar essa imensidão verde é Manaus, que possui conexões aéreas com diversas cidades brasileiras e destinos internacionais, como Panamá, Bogotá e Guiana. Ao desembarcar, os visitantes precisam ajustar o fuso horário, que é uma hora a menos em relação a Brasília, podendo chegar a duas horas nas regiões mais a oeste do estado.
A imersão na cultura local pode começar pela capital amazonense, com paradas no histórico Teatro Amazonas e no Largo São Sebastião, onde estão localizados monumentos e opções de hospedagem. A gastronomia regional também surpreende, com pratos à base de peixes como tambaqui e pirarucu, além de iguarias peculiares, como a formiga saúva, que tem um sabor semelhante ao do capim-limão.
No entanto, a verdadeira essência do turismo de base comunitária se revela além dos limites urbanos. A bordo de barcos, os viajantes percorrem o Rio Negro e seus igarapés até aldeias indígenas, onde são recepcionados por seus habitantes e convidados a conhecer suas histórias, danças e rituais ancestrais. Confira duas delas!
Aldeia Indígena Tatuyo

Na Aldeia Indígena Tatuyo, localizada a cerca de uma hora de lancha de Manaus, os visitantes são recebidos pelo cacique Pinõ Tatuyo. Em sua oca, ele compartilha aspectos da cultura de seu povo, explicando como algumas tradições foram preservadas enquanto outras se adaptaram às novas realidades. Entre os relatos, destaca-se a mudança nas práticas matrimoniais: se antes o casamento ocorria por meio do “rapto” da mulher, hoje ele segue as regras da legislação brasileira e a vontade das jovens, que escolhem seus parceiros apenas após a maioridade.
As danças tradicionais também fazem parte da imersão cultural. O ritual de Jurupari marca o batismo dos meninos, enquanto a Capivaja celebra a menstruação feminina, simbolizando sua transição para a fase adulta. No encerramento da visita, os turistas são convidados a participar da Kariçú, uma dança de celebração e despedida.
Outro aspecto curioso da vivência na aldeia é o uso de formigas Maniwara como analgésico natural, uma prática tradicional para aliviar cólicas menstruais. Além disso, o turismo digital também se faz presente por meio da influenciadora Maíra Gomez, conhecida como Cunhaporanga, que compartilha com seus mais de 6 milhões de seguidores o dia a dia dos Tatuyo.
A visita à aldeia dura cerca de uma hora e, ao final das apresentações, os visitantes podem adquirir artesanatos produzidos pelas famílias locais e ter o rosto pintado segundo a tradição indígena. Essas experiências não apenas fortalecem a identidade cultural dessas comunidades, mas também geram renda e contribuem para a manutenção de suas tradições, consolidando o turismo de base comunitária como um importante vetor de desenvolvimento para a região amazônica.
Comunidade do Tumbira
A poucos quilômetros da Aldeia Tatuyo, a Comunidade do Tumbira representa um outro pilar essencial do turismo de base comunitária no Amazonas. Localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, a comunidade é acessível apenas por barco, garantindo uma experiência autêntica e imersiva para aqueles que desejam conhecer o modo de vida ribeirinho.
Com o apoio da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), o Tumbira tem se consolidado como um modelo de desenvolvimento sustentável, promovendo ações voltadas para a educação, infraestrutura e economia local. Atualmente, mais de 140 moradores são beneficiados por projetos que equilibram preservação ambiental e crescimento econômico, oferecendo oportunidades para que as famílias permaneçam em seu território sem precisar recorrer a atividades predatórias.
Os visitantes encontram na Pousada do Garrido uma opção de hospedagem aconchegante e integrada ao ambiente natural. Os chalés, equipados com ar-condicionado e redes para dormir, acomodam de duas a quatro pessoas, proporcionando conforto sem perder a essência da simplicidade ribeirinha. No restaurante da pousada, os sabores amazônicos ganham destaque com pratos como costelinha de tambaqui, pirarucu grelhado e vatapá de camarão, além de opções vegetarianas e sucos naturais de frutas típicas da região.
A interação com os moradores é um dos pontos altos da visita ao Tumbira. Vilson Senna, um dos habitantes mais atuantes da comunidade, relata as mudanças que o Turismo trouxe para a sua vida. “Hoje conseguimos trabalhar perto das nossas famílias, sem precisar passar semanas na floresta. O Turismo nos deu uma nova perspectiva de futuro, permitindo que a floresta continue de pé e que possamos preservá-la para as próximas gerações”, afirma.
Além da vivência cotidiana, os visitantes podem explorar trilhas ecológicas, como a do Castanho e a do Pequiá, que cortam a floresta e revelam a riqueza da biodiversidade amazônica. Árvores centenárias, como a imponente Urucurana, marcam o percurso, criando um cenário perfeito para a conexão com a natureza. Ao fim do passeio, o Igarapé Tumbira oferece um refúgio refrescante para os viajantes que desejam relaxar nas águas calmas da região.
Outro destaque é a produção artesanal local, valorizada pelo projeto Entrelaçando Gerações – Arte da Amazônia. Os visitantes podem adquirir peças feitas com sementes de açaí e palha de tucumã, contribuindo diretamente para a economia da comunidade e incentivando práticas sustentáveis.
Parque Nacional de Anavilhanas
A visita ao Parque Nacional de Anavilhanas, localizado no rio Negro, é considerada obrigatória para qualquer um que visite a região. A cerca de 40 quilômetros de Manaus e com sede no município de Novo Airão, é um dos maiores tesouros naturais do Brasil.
Reconhecido pela Unesco, em 2000, como Patrimônio Natural da Humanidade, o parque abriga o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, composto por aproximadamente 400 ilhas e 60 lagos. Sua biodiversidade é uma das mais impressionantes do planeta, com uma variedade de flora e fauna que atrai turistas e pesquisadores de todas as partes do mundo.
As paisagens do Parque Nacional de Anavilhanas mudam drasticamente ao longo do ano, revelando um espetáculo único conforme as estações variam. Durante a seca, que vai de setembro a fevereiro, o parque se transforma com o surgimento de praias de areias brancas, que espalham-se por diversas partes do arquipélago. Já na cheia, de março a agosto, os visitantes se deparam com as fascinantes trilhas aquáticas de igapó, em que os barcos deslizam por entre as árvores alagadas, criando um ambiente misterioso e quase mágico.
A vida selvagem que habita a região também é um dos grandes atrativos do parque. Embora seja difícil avistar todos os animais que habitam o local, os visitantes têm a oportunidade de ver botos e jacarés. Funcionários do ICMBio compartilham histórias sobre dois jacarés residentes do parque, que, embora não tenham sido avistados durante uma visita recente, são conhecidos e até chamados pelos nomes, como se fossem habitantes ilustres da região. Por outro lado, os botos, com sua curiosidade e simpatia, sempre fazem questão de aparecer, oferecendo aos turistas momentos de encantamento.
Além da observação da fauna, o parque oferece diversas atividades para quem busca imersão na natureza. Passeios de barco pelos rios, exploração das trilhas terrestres e até a possibilidade de mergulhar nas águas do rio Negro são algumas das experiências que tornam a visita ao Parque Nacional de Anavilhanas inesquecível.
A visita também é uma oportunidade de conhecer as comunidades ribeirinhas de Novo Airão, que conservam práticas tradicionais e oferecem aos turistas um contato direto com a cultura local. O artesanato singular da região agrega ainda mais valor à experiência, tornando o passeio não apenas uma jornada pela natureza, mas também uma vivência cultural enriquecedora.
Praias amazônicas
A região do Rio Negro, conhecida por sua vasta biodiversidade e paisagens deslumbrantes, guarda um fenômeno curioso que sempre chama a atenção dos visitantes: as praias fluviais. Como pode haver praias no meio do rio? A resposta está na dinâmica das águas e na geografia local, que cria cenários únicos ao longo do ano. Na região do Igarapé Tumbira, duas praias se destacam: a Praia do Iluminado e a Praia Alta, cada uma com suas características e encantos particulares.
A Praia do Iluminado é uma das atrações mais singulares da região. Ela se forma entre setembro e março, durante a seca, com sua areia fina e uma vista privilegiada para o Parque Nacional de Anavilhanas. Durante esse período, a praia emerge das águas do Rio Negro, proporcionando um ambiente perfeito para quem deseja relaxar e contemplar a beleza da floresta amazônica. A visão da praia, com o Parque Nacional de Anavilhanas ao fundo, é simplesmente inesquecível.
Já a Praia Alta, por sua localização elevada, permanece acessível o ano inteiro, mesmo durante a cheia do rio. Para chegar até ela, os visitantes percorrem um caminho tortuoso, passando por um emaranhado de cipós e árvores meio submersas. O cenário é de uma beleza ímpar, com a Floresta Amazônica refletida nas águas do Igarapé, criando uma imagem surreal e mágica. A Praia Alta é um verdadeiro refúgio cercado por natureza exuberante, ideal para quem busca uma experiência imersiva e tranquila.
Bruno Mangolini, CEO da Poranduba Amazônica, explicou brevemente sobre o fenômeno. “A Praia do Iluminado surge entre setembro e março, com areia fina e uma vista incrível para o Parque Nacional de Anavilhanas. Já a Praia Alta, por ser elevada, permanece acessível mesmo na cheia, após um percurso pelo Igarapé Tumbira, um refúgio cercado por natureza exuberante”, afirma.
Ao retornar para Manaus, os turistas têm a satisfação de perceber como a Floresta Amazônica tem sido mais cuidada e valorizada pelos moradores locais. Uma mudança profunda no entendimento sobre a região é notada: “Em relação à Floresta, hoje ela tem valor para nós. Antes, ela tinha preço. Hoje ela vale mais em pé do que derrubada”, declara Mangolini. Essa transformação é um reflexo do crescente respeito e reconhecimento do valor ambiental da Amazônia, essencial para a preservação não apenas da natureza, mas também das comunidades que dela dependem.
O Brasilturis Jornal viajou a convite da Once Travel Network e da Poranduba Amazônia com proteção da Affinity Seguro Viagem