Fábio Campos, recém-nomeado vice-presidente Institucional e Corporativo da Azul, participou de uma coletiva nesta sexta-feira (30) para esclarecer dúvidas sobre o processo de reestruturação financeira da companhia nos Estados Unidos, via Chapter 11. Abaixo, reunimos os principais pontos em formato de perguntas e respostas.
A Azul vai reduzir 35% da sua frota atual?
Não. Esse número foi mal interpretado. O plano mencionado nos materiais divulgados aos investidores compara projeções antigas com um novo cenário atualizado da empresa, dentro do contexto do Chapter 11. “Não quer dizer uma redução de 35% da frota atual da empresa”, afirmou Fábio Campos.
Então o que está incluído nesses 35%? O número inclui:
- Aeronaves que já estavam paradas por falta de motores ou peças, devido a problemas na cadeia de suprimentos;
- Aeronaves de geração antiga, como o Embraer 195 (E1), que já não vinham sendo utilizadas;
- Pedidos futuros de aeronaves (previstos para 2027, 2028, 2029), que poderão ser renegociados durante o processo de reestruturação.
Os voos e serviços ao cliente serão afetados?
Não. Segundo Campos, o processo não impacta os passageiros nem o programa de fidelidade. “Quem comprou bilhetes vai ter seus bilhetes honrados. Quem tem ponto no programa de fidelidade segue com seus pontos, podendo usar normalmente. Seguimos operando e comercializando passagens normalmente.”
Qual o impacto da falta de apoio do governo no processo de reestruturação?
A ausência de linhas de financiamento específicas para o setor aéreo contribuiu para a necessidade de buscar o Chapter 11. “A aviação não tem uma linha de financiamento perene, diferente de setores como o agro ou a construção civil”, disse Campos. A implementação do Fundo Nacional de Aviação Civil, aprovado em 2023, não se concretizou, o que afetou as expectativas de suporte financeiro por parte da Azul.
Quando será a próxima audiência do Chapter 11?
A audiência de segundo dia (“Second Day Hearing”) está marcada para 9 de julho, salvo alterações. Essa etapa analisará novos pedidos e autorizações dentro do processo.
A primeira audiência serve para apresentar o caso, explicar o funcionamento da empresa, os acordos feitos e fazer os primeiros pedidos operacionais. Já a do segundo dia confirma ordens concedidas interinamente e introduz novos pedidos. O processo tem várias etapas. Depois dela, com o comitê de credores formado, começamos a trabalhar no plano de saída. A audiência de confirmação do plano é a final e esperamos que aconteça até o fim do ano.
Já há decisão sobre a devolução de aeronaves?
Sim. A Azul obteve autorização judicial para rejeitar aeronaves, o que é comum nesse tipo de processo. As autorizações concedidas até agora são interinas — válidas até nova análise da corte. Campos esclareceu que a companhia já pode iniciar negociações com arrendadores para definir quais aviões serão efetivamente devolvidos.
A Azul já decidiu quantas aeronaves vai devolver?
Ainda não. A companhia começou o processo com o pedido de devolução de algumas aeronaves específicas — principalmente modelos de geração antiga. A quantidade exata será definida após negociações com os arrendadores. “Esse processo é dinâmico e contínuo”, explicou Campos.
O acordo de intenção com a Gol (MOU) segue válido? Há possibilidade de o merger não ocorrer?
Segundo a Azul, o foco atual da companhia é a reestruturação em curso. O acordo de intenção com a Gol, conhecido como MOU, continua vigente, mas não está no centro das atenções no momento. “O foco da empresa é 100% nesse nosso processo de reestruturação. O MOU existe, segue existente, mas no momento a empresa está como um todo focada nessa reestruturação”, explicou o executivo. Ao ser questionado se o acordo tem validade, ele respondeu que não há um prazo definido: “O MOU fica existente, mas o foco da empresa, obviamente, como não podia ser diferente, é em terminar a nossa reestruturação.”
Haverá cortes de funcionários, fechamento de bases ou mudanças em rotas sazonais?
De acordo com a companhia, o quadro de funcionários não será afetado pelo processo de reestruturação. “Nesse momento não passa por nenhuma alteração. Nada de novidade por causa do processo”, afirmou. Também não há planos de fechamento de bases motivados pela reestruturação. “A gente abre e fecha bases constantemente, normalmente, no curso do dia a dia da empresa, e isso continua, mas nada por causa do processo.”
Quanto às rotas sazonais e planejadas, não há impacto previsto. “Esse processo em si não impacta em nada. É mais uma questão da decisão do dia a dia da empresa, obviamente maximizando a sua malha, juntamente com a sua frota”, afirmou, citando como exemplo o anúncio recente de mais de 110 voos adicionais para Porto Seguro. Na segunda-feira seguinte, estão previstos anúncios de novas rotas internacionais a partir de Campinas e Recife, além da recepção de novos tripulantes na UniAzul.
As condições comerciais com agentes e operadores serão alteradas durante o processo?
Para o consumidor final, as operações seguem normalmente, e o mesmo vale para os parceiros do trade.
“Nossos parceiros comerciais, nós já estamos falando ativamente com eles. Inclusive, queria agradecer ao trade, porque tivemos uma demonstração de apoio muito forte de diversos parceiros nossos que acreditam na Azul”, comentou o executivo.
A empresa pretende manter o relacionamento próximo com o trade. “Vamos continuar trabalhando normalmente. É óbvio que nesse momento a gente quer conversar mais, estar mais próximo, buscar os melhores caminhos para todas as parcerias. A Azul sempre trabalhou muito junto com parceiros, de forma amigável, e vai continuar fazendo isso.”
O aporte das companhias americanas está garantido? Há condições a cumprir?
A entrada de investidores como a americana United e a gestora Inversiones Nariño envolve cláusulas específicas. “Esses acordos de apoio ao processo de reestruturação que assinamos são documentos jurídicos extensos, com diversas cláusulas e condições. O apoio deles mostra que acreditam no negócio”, explicou o porta-voz. Ele destacou que essas condições são normais nesse tipo de contrato e que, quando os acordos forem tornados públicos, mais detalhes serão divulgados. “São empresas que acreditam no nosso negócio e vieram voluntariamente, amigavelmente, para dentro desse processo de reestruturação para o futuro.”
Qual o nível de confiança de que esse será o último processo de reestruturação?
A Azul reconhece os desafios históricos do setor aéreo, mas acredita na força do plano atual. “O setor de aviação é desafiador no mundo todo, não só no Brasil. A Azul, até 2019, era uma das empresas mais rentáveis do mundo. A pandemia foi devastadora e o Brasil, ao contrário de outros países, não deu apoio direto às companhias aéreas”, lembrou. Com a nova estrutura, a expectativa é de uma melhora significativa. “Nosso plano é muito robusto. Estamos falando de uma extrema desalavancagem e melhoria da estrutura de capital. A Azul vai se posicionar muito mais forte do que já era.”