O São João é essencialmente uma festa que incentiva as pessoas a saírem de suas residências e se unir com seus familiares para aproveitar todas as comidas gostosas, as músicas típicas e as tradições juninas. Em junho, são comemoradas três datas que estão ligadas ao São João e à religião: dia 13, Dia de Santo Antônio; dia 24, Dia de São João (nascimento de João Batista); e dia 29, Dia de São Pedro.
Todas essas festividades influenciaram diretamente no Turismo e na economia de Pernambuco, Recife e diversas cidades do interior que receberam milhares de foliões que se reuniram com suas famílias e amigos e aproveitaram para apreciar as festas.
De acordo com dados do Observatório do Turismo de Pernambuco, a festa atraiu 1.636.257 visitantes, um crescimento de 15,88% em relação ao ano passado. A movimentação econômica também impressionou: a receita turística bruta chegou a R$1,1 bilhão, o que representa um aumento de 25,8% sobre 2024.
A ocupação hoteleira também foi grandemente impactada e chegou a 100% em 15 destinos, como Petrolina, Caruaru, Gravatá e Arcoverde. Em Bezerros, essa taxa chegou a 97,5%. O gasto médio diário dos visitantes também subiu, chegando a R$ 725. Mais de 95% dos turistas afirmaram que voltariam em outras edições e recomendariam o São João pernambucano.
Algumas cidades do interior iniciaram os festejos juninos em abril e encerraram no fim de junho, totalizando dois meses de celebrações. Dados divulgados pelo IBGE reforçam o crescimento das atividades turísticas em Pernambuco.
O estado apresentou uma alta de 3,9% no volume de serviços turísticos em abril de 2025 em relação a março, e um crescimento acumulado de 2,5% no primeiro quadrimestre de 2025 na comparação com o mesmo período de 2024. No recorte de longo prazo, o crescimento do volume entre 2019 e 2025 foi de 9,0%.
A receita nominal das atividades turísticas no estado também avançou. Entre janeiro e abril de 2025, Pernambuco registrou alta de 9,8% em comparação ao mesmo período de 2024. Já no comparativo entre 2019 e 2025, a receita nominal teve um salto expressivo de 53,3%.
Kaio Maniçoba, secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, afirmou que o São João beneficiou mais de 50 setores da economia e reforçou a imagem de Pernambuco como destino cultural. “Esses números comprovam a força do São João como vetor estratégico para o Turismo no nosso estado. Temos a maior festa popular do Brasil, distribuída em diversos polos regionais. Isso movimenta a economia, gera emprego e projeta Pernambuco nacionalmente. Esse resultado não é por acaso. É fruto do planejamento e do compromisso da gestão liderada pela governadora Raquel Lyra, que tem dado destaque ao interior para as ações de desenvolvimento.”
Eduardo Loyo, presidente da Empetur, também comentou: “O São João é um grande momento no calendário turístico de Pernambuco, com festas espalhadas por praticamente todas as regiões do estado. Essa celebração, enraizada na nossa cultura, gera um impacto direto na economia: temos hotéis com ocupação próxima de 100%, toda a cadeia do Turismo sendo movimentada e mais de 50 setores da economia beneficiados. É um momento em que Pernambuco reforça suas tradições e projeta sua cultura para o Brasil e para o mundo”.
Com uma movimentação muito grande de turistas entre as cidades e vindos de outros estados, o Governo de Pernambuco reforçou a operação de segurança em todo o Estado. Por meio da Secretaria de Defesa Social (SDS), foi feito um investimento de R$ 8,4 milhões para a Operação São João. Além disso, 46.805 postos de trabalho extras foram desenvolvidos para execução do esquema de segurança, superando o investimento de R$ 8,1 milhões aplicados em 2024.
Riquezas de Pernambuco
Pernambuco vai muito além das imagens consagradas de praia e frevo. Em um recorte que atravessa litoral, agreste e sertão, o estado revela destinos que mantêm viva a essência cultural brasileira com intensidade e autenticidade. Cidades como Olinda, Caruaru, Bezerros, Gravatá e Arcoverde não apenas celebram o São João – elas respiram história, arte, fé e tradição em cada esquina, ladeira ou palco.
De Olinda, onde os azulejos do século XVIII e os Bonecos Gigantes conversam com a memória nacional, aos palcos do Alto do Moura em Caruaru, onde a cerâmica de Mestre Vitalino segue moldando o imaginário popular, o turismo cultural se entrelaça com manifestações populares e gera impactos econômicos e sociais concretos. A cada ano, o São João se consolida como um catalisador de desenvolvimento para essas regiões, movimentando a economia criativa e atraindo milhões de visitantes.
Bezerros, com seu São João nas alturas, e Gravatá, com gastronomia, shows e ocupação hoteleira recorde, mostram que tradição e profissionalismo podem andar lado a lado. Já Arcoverde resgata com emoção as raízes do forró e do samba de coco, homenageando mestres da cultura popular em festas que fortalecem a identidade nordestina.
Confira os principais polos do ciclo junino pernambucano e descubra como cada município transforma cultura em legado, festa em política pública, e Turismo em pertencimento.
Olinda
Olinda é um município de Pernambuco que pertence à Região Metropolitana do Recife e em cada ladeira tem a história enraizada. Fundada em 1535, é uma das cidades mais antigas do Brasil e abriga prédios históricos que estão intrinsecamente ligados à história do País.
Por exemplo, o Convento de São Francisco, convento franciscano mais antigo do Brasil. Nele, os azulejos do século XVIII contam a história de São Francisco de Assis e retratam passagens bíblicas. Um dos azulejos mais icônicos mostra a circuncisão de Jesus Cristo por São Francisco.
Outro lugar, inaugurado em 1540, é a Catedral de São Salvador do Mundo ou Catedral da Sé de Olinda. É a maior igreja quinhentista do Brasil e a mais antiga de Olinda. O local passou por diversas reformas que desconfiguraram e depois restauraram parte do estilo original. Na catedral estão túmulos de pessoas importantes para a Igreja Católica como Dom Helder Câmara, Padre Antônio Henrique e Dom José Lamartine.
Ícone da música brasileira, Alceu Valença transformou um casarão do século XIX em um polo cultural e regional em Olinda. A Casa Estação da Luz (CEL) abriga o sonho do artista de levar arte para mais pessoas. Na casa, é possível encontrar frases do cantor nas paredes, bem como participações em filmes, músicas de sua autoria e roupas típicas usadas por ele.
O famoso Carnaval da cidade – responsável pela injeção econômica de R$ 1,3 bilhão somente em pagamentos via Pix neste ano – não seria completo sem os conhecidos Bonecos de Olinda. As estruturas podem chegar a até quatro metros e pesar até 20 kg, confeccionadas com tecido, isopor, papel, madeira, fibra de vidro e alumínio. Eles ficam expostos na Embaixada de Pernambuco – Bonecos Gigantes de Olinda o ano inteiro, e é mágico visitar e olhar nos olhos desses bonecos icônicos.
Por muitas vezes vistos apenas pela televisão, o acervo de bonecos na Embaixada chega a 340 peças, com uma variedade imensa, indo desde Fernanda Torres com o Globo de Ouro na mão, passando por Diogo Nogueira e Ney Matogrosso, até Lampião e Maria Bonita.
Caruaru
Saindo do litoral de Pernambuco e chegando ao Agreste, Caruaru é a principal cidade da região, localizada a cerca de 135 quilômetro do Recife. A cidade é famosa pelo artesanato, tendo como referência o Mestre Vitalino.
No Alto do Moura, há homenagens a Vitalino por toda parte. Na avenida principal do local, a casa dele está aberta para visitação, onde é possível ver os materiais que ele usava para seus artesanatos e algumas obras.
A história começa com Mestre Vitalino, que ainda criança, por volta dos seis anos, começou a modelar figuras com a argila que o pai, ceramista de utilitários como jarras e pratos, usava no trabalho. Inspirado pelo dia a dia, Vitalino criava cenas como crianças brincando, animais e personagens populares, levando suas peças para vender na Feira de Caruaru.
Atualmente, o Museu do Mestre Vitalino preserva sua história, e o Alto do Moura abriga ateliês de discípulos e descendentes, mantendo viva a tradição da cerâmica figurativa no agreste pernambucano.
O São João de Caruaru, considerado um dos maiores do Brasil, recebeu mais de 4 milhões de pessoas em seus 65 dias de festa (de 25 de abril a 28 de junho) e movimentou financeiramente R$ 737,6 milhões, um aumento de 7% em relação a 2024. A programação contou com 1.434 atrações e mais de 26 mil artistas, incluindo apresentações de música, dança, teatro, cinema, exposições e oficinas.
Em entrevista ao Brasilturis, Jaime Anselmo Filho, secretário de Desenvolvimento Econômico de Caruaru, destacou: “No ano passado, tivemos uma movimentação de aproximadamente R$ 688 milhões na nossa economia. Isso inclui o setor têxtil, o trade turístico, a economia criativa e o artesanato”.
O investimento público e privado na festa foi estimado em R$40 milhões. Para a segurança dos foliões, o Governo do Estado e a SDS investiram R$2,2 milhões, possibilitando 12.395 lançamentos extras de efetivo das forças policiais.
A ocupação hoteleira ultrapassou 95%, e toda a cidade colhe os frutos das festividades. Grandes artistas foram convidados para abrilhantar as festas, mas o destaque foi as apresentações locais, sendo que 72,73% das atrações contratadas são de Caruaru e 81,38% dos artistas pertencem ao gênero nordestino.
Para os próximos anos, a prefeitura planeja ampliar ações como o São João na Roça e consolidar ainda mais a cidade como referência junina no Brasil.
Além do São João, a prefeitura criou o Programa São João na Roça, que leva serviços públicos a 13 comunidades rurais antes da festividade. Segundo Anselmo Filho, esse é um momento importante para levar desenvolvimento a toda a cidade. Serviços como melhorias em estradas, atendimentos de saúde, retirada de documentos e ações de cidadania são oferecidos a essas comunidades.
“A festa é uma oportunidade para levarmos os serviços onde o poder público muitas vezes não chega. Não é só evento, é transformação”, afirmou o secretário.
Bezerros
Em Bezerros, especificamente em Serra Negra, gostam de dizer que é o São João mais alto, mais frio e mais aconchegante do mundo. E a percepção da festa é essa mesma: muito aconchegante, com uma vista linda e temperaturas que chegam a 15ºC no fim da tarde e à noite.
O São João de Serra Negra não se destacou apenas pela geografia ou acolhimento, mas também pela valorização da cultura local. Com atrações de peso como Geraldo Azevedo e Mestrinho, a cidade priorizou os artistas locais, que se apresentaram no palco principal ao lado dos grandes nomes.
O evento, realizado em uma estrutura coberta a mais de 950 metros de altitude, proporcionou uma atmosfera aconchegante, fria e imersa na natureza. “Aqui, a gente não disputa quantidade de público, o que não abrimos mão é do forró autêntico, do forró tradicional”, ressaltou Eudes Mateus, secretário de Turismo e Cultura de Bezerros.
Além da programação musical, o São João de Serra Negra movimentou a economia local. Com investimento público superior a R$ 3 milhões, a festa injetou mais de R$35 milhões na economia da cidade, beneficiando diretamente os setores de gastronomia, hotelaria e comércio. Cerca de 200 mil pessoas participaram do evento.
Todo o preparativo e a festa contaram com ações de sustentabilidade e credenciamento prioritário para comerciantes locais, promovendo geração de renda e desenvolvimento para os moradores.
Dentro da proposta de promover um São João sustentável, a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Sustentável de Bezerros ampliou as ações voltadas à coleta seletiva e valorização dos recicladores. Segundo Thaís Santos, titular da pasta, desde 2022 o município implementou práticas ambientais nas festas populares, com coleta de óleo, papelão, latinhas e vidro, além de pontos educativos para o público. “Nosso foco é fazer um São João sustentável, dando destino correto aos resíduos e garantindo renda direta e digna para os recicladores”, afirmou a secretária.
Durante o evento, os recicladores receberam estrutura completa para trabalhar com segurança e dignidade, incluindo uniformes, protetor solar, alimentação e água. Os resíduos coletados foram destinados diretamente a empresas de transformação, aumentando a renda de quem vive da reciclagem e reduzindo o impacto ambiental da festa.
A ação também teve caráter educativo, com comunicados nos palcos e envolvimento das secretarias de Turismo e Saúde. O modelo de Serra Negra se consolidou como referência e fortaleceu a imagem da cidade como destino comprometido com o desenvolvimento sustentável.
Contudo, vale lembrar que o Turismo em Serra Negra não se limita ao período junino. A cidade vem se fortalecendo como destino de inverno e, ao longo do ano, oferece experiências que incluem trilhas, cavalgadas, roteiros culturais e ecoturismo. O Polo de Eventos, onde ocorreu o São João, passou por um processo de requalificação, com investimento de mais de R$ 1,5 milhão, visando melhorar banheiros, quiosques e acessos, fortalecendo ainda mais o potencial turístico da região.
Gravatá
Assim como em Caruaru, Gravatá vem se consolidando como polo do São João. A cidade possui a terceira maior rede hoteleira do estado, e 24% dos imóveis são de segunda residência, o que dobra a população nos fins de semana. A taxa de ocupação hoteleira chegou a 100%, e a permanência média dos turistas foi de 3,4 dias — superior à registrada em polos como Caruaru e Arcoverde. Outro destaque é o gasto médio individual, que ultrapassou os R$540, mais que o dobro da média nacional, segundo o IBGE.
Marllon Lima, secretário de Turismo, Cultura, Esportes e Lazer, atribui esse desempenho à qualidade da oferta local. “Temos mais de 120 estabelecimentos gastronômicos cadastrados, entre cozinha internacional e regional. Temos artesanato, turismo religioso, passeios de balão e quadriciclo. Investimos em turismo para ter esse retorno na economia local”, afirma.
Com atrações nacionais de peso, como Wesley Safadão, Bruno & Marrone e Enzo Rabelo, a cidade bateu recorde de público no Pátio de Eventos Chucre Mussa Zarzar e superou as projeções iniciais. Segundo Lima, mais de 1 milhão de pessoas passaram pela cidade desde o início das celebrações, em 17 de maio, e a expectativa era de 1,5 milhão até o final de junho.
A valorização cultural também é um ponto forte. Mais de 80% da programação contou com atrações locais, incluindo quadrilhas, bandas e artistas regionais. “Fazemos questão de, no palco principal, sempre ter um cantor da terra para valorizar o que temos de bom”, completou Lima. Levantamento da secretaria mostra que, ao longo do ano, mais de 90% dos eventos realizados em Gravatá têm como base talentos locais.
Com impacto econômico estimado em mais de R$350 milhões, a prefeitura já planeja a próxima edição. Segundo o secretário, “vemos que nosso pátio hoje se tornou pequeno para a grandiosidade que o São João de Gravatá tomou. Já estamos estudando um novo espaço para receber ainda mais gente com conforto. Tem muita coisa boa vindo por aí”.
Arcoverde
Arcoverde, cidade considerada o portão do Sertão pernambucano, foi sede da 13ª Caminhada do Forró. A comemoração reuniu milhares de foliões em um trajeto de cerca de quatro quilômetros entre a Rádio Agnus Dei e o Polo Multicultural, com muita alegria e dança no pé. O clima, com músicas de São João, só melhorou a experiência de quem saiu para se divertir.
Cerca de 40 mil pessoas foram às ruas para arrastar o pé e, ao final, assistir a shows de artistas consagrados do Nordeste, como Geraldinho Luis e o grupo Coco Fulô do Barro, que trouxe ao palco a força das tradições populares nordestinas.
A Caminhada do Forró sempre homenageia pessoas com raízes em Arcoverde que devolvem para a comunidade tempo e esforço para manter a cultura e as tradições vivas. Desta vez, os escolhidos foram Mestre Assis Calixto e Joselma Melo.
Assis Calixto Montenegro mora em Arcoverde desde 1952. Além de Patrimônio Vivo de Pernambuco (2019), é Patrimônio Vivo de Arcoverde (2024) e Cidadão Arcoverdense (2025), juntamente com o irmão e mestre Damião Calixto.
Autor da maioria das cantigas do Samba de Coco Raízes de Arcoverde, o cantor, compositor, musicista e artesão Assis Calixto sempre lembra que o resgate cultural do grupo arcoverdense é justamente a continuidade do saber do seu irmão Lula Calixto.
Em sua casa no Alto do Cruzeiro, onde fica o ateliê, Calixto faz arte produzindo tamancos de madeira (usados nos tablados para a pisada trupé, que é o ritmo dos movimentos com os pés e o balanço de todo o corpo), esculturas de madeira e brinquedos de material reciclado.
Essa valorização das pessoas que devolvem para a comunidade é exatamente o intuito do São João: muito forró no pé, alegria, união entre as pessoas e famílias, e muita diversão para aproveitar os meses de festas e tradições.