BRL - Moeda brasileira
EUR
6,37
USD
5,46
Rafael Destro
Rafael Destro
Redator - E-mail: Rafael@brasilturis.com.br

Tradição arrastando multidões

São João de Pernambuco lota hotéis e cidades batem recorde de visitantes e de impacto econômico

O São João é essencialmente uma festa que incentiva as pessoas a saírem de suas residências e se unir com seus familiares para aproveitar todas as comidas gostosas, as músicas típicas e as tradições juninas. Em junho, são comemoradas três datas que estão ligadas ao São João e à religião: dia 13, Dia de Santo Antônio; dia 24, Dia de São João (nascimento de João Batista); e dia 29, Dia de São Pedro.

Todas essas festividades influenciaram diretamente no Turismo e na economia de Pernambuco, Recife e diversas cidades do interior que receberam milhares de foliões que se reuniram com suas famílias e amigos e aproveitaram para apreciar as festas. 

De acordo com dados do Observatório do Turismo de Pernambuco, a festa atraiu 1.636.257 visitantes, um crescimento de 15,88% em relação ao ano passado. A movimentação econômica também impressionou: a receita turística bruta chegou a R$1,1 bilhão, o que representa um aumento de 25,8% sobre 2024.

A ocupação hoteleira também foi grandemente impactada e chegou a 100% em 15 destinos, como Petrolina, Caruaru, Gravatá e Arcoverde. Em Bezerros, essa taxa chegou a 97,5%. O gasto médio diário dos visitantes também subiu, chegando a R$ 725. Mais de 95% dos turistas afirmaram que voltariam em outras edições e recomendariam o São João pernambucano.

Algumas cidades do interior iniciaram os festejos juninos em abril e encerraram no fim de junho, totalizando dois meses de celebrações. Dados divulgados pelo IBGE reforçam o crescimento das atividades turísticas em Pernambuco. 

O estado apresentou uma alta de 3,9% no volume de serviços turísticos em abril de 2025 em relação a março, e um crescimento acumulado de 2,5% no primeiro quadrimestre de 2025 na comparação com o mesmo período de 2024. No recorte de longo prazo, o crescimento do volume entre 2019 e 2025 foi de 9,0%.

A receita nominal das atividades turísticas no estado também avançou. Entre janeiro e abril de 2025, Pernambuco registrou alta de 9,8% em comparação ao mesmo período de 2024. Já no comparativo entre 2019 e 2025, a receita nominal teve um salto expressivo de 53,3%.

Kaio Maniçoba, secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, afirmou que o São João beneficiou mais de 50 setores da economia e reforçou a imagem de Pernambuco como destino cultural. “Esses números comprovam a força do São João como vetor estratégico para o Turismo no nosso estado. Temos a maior festa popular do Brasil, distribuída em diversos polos regionais. Isso movimenta a economia, gera emprego e projeta Pernambuco nacionalmente. Esse resultado não é por acaso. É fruto do planejamento e do compromisso da gestão liderada pela governadora Raquel Lyra, que tem dado destaque ao interior para as ações de desenvolvimento.”

Eduardo Loyo, presidente da Empetur, também comentou: “O São João é um grande momento no calendário turístico de Pernambuco, com festas espalhadas por praticamente todas as regiões do estado. Essa celebração, enraizada na nossa cultura, gera um impacto direto na economia: temos hotéis com ocupação próxima de 100%, toda a cadeia do Turismo sendo movimentada e mais de 50 setores da economia beneficiados. É um momento em que Pernambuco reforça suas tradições e projeta sua cultura para o Brasil e para o mundo”.

Com uma movimentação muito grande de turistas entre as cidades e vindos de outros estados, o Governo de Pernambuco reforçou a operação de segurança em todo o Estado. Por meio da Secretaria de Defesa Social (SDS), foi feito um investimento de R$ 8,4 milhões para a Operação São João. Além disso, 46.805 postos de trabalho extras foram desenvolvidos para execução do esquema de segurança, superando o investimento de R$ 8,1 milhões aplicados em 2024.

Riquezas de Pernambuco

Pernambuco vai muito além das imagens consagradas de praia e frevo. Em um recorte que atravessa litoral, agreste e sertão, o estado revela destinos que mantêm viva a essência cultural brasileira com intensidade e autenticidade. Cidades como Olinda, Caruaru, Bezerros, Gravatá e Arcoverde não apenas celebram o São João – elas respiram história, arte, fé e tradição em cada esquina, ladeira ou palco.

De Olinda, onde os azulejos do século XVIII e os Bonecos Gigantes conversam com a memória nacional, aos palcos do Alto do Moura em Caruaru, onde a cerâmica de Mestre Vitalino segue moldando o imaginário popular, o turismo cultural se entrelaça com manifestações populares e gera impactos econômicos e sociais concretos. A cada ano, o São João se consolida como um catalisador de desenvolvimento para essas regiões, movimentando a economia criativa e atraindo milhões de visitantes.

Bezerros, com seu São João nas alturas, e Gravatá, com gastronomia, shows e ocupação hoteleira recorde, mostram que tradição e profissionalismo podem andar lado a lado. Já Arcoverde resgata com emoção as raízes do forró e do samba de coco, homenageando mestres da cultura popular em festas que fortalecem a identidade nordestina.

Confira os principais polos do ciclo junino pernambucano e descubra como cada município transforma cultura em legado, festa em política pública, e Turismo em pertencimento.

Olinda

Olinda é um município de Pernambuco que pertence à Região Metropolitana do Recife e em cada ladeira tem a história enraizada. Fundada em 1535, é uma das cidades mais antigas do Brasil e abriga prédios históricos que estão intrinsecamente ligados à história do País.

Por exemplo, o Convento de São Francisco, convento franciscano mais antigo do Brasil. Nele, os azulejos do século XVIII contam a história de São Francisco de Assis e retratam passagens bíblicas. Um dos azulejos mais icônicos mostra a circuncisão de Jesus Cristo por São Francisco.

Outro lugar, inaugurado em 1540, é a Catedral de São Salvador do Mundo ou Catedral da Sé de Olinda. É a maior igreja quinhentista do Brasil e a mais antiga de Olinda. O local passou por diversas reformas que desconfiguraram e depois restauraram parte do estilo original. Na catedral estão túmulos de pessoas importantes para a Igreja Católica como Dom Helder Câmara, Padre Antônio Henrique e Dom José Lamartine.

Ícone da música brasileira, Alceu Valença transformou um casarão do século XIX em um polo cultural e regional em Olinda. A Casa Estação da Luz (CEL) abriga o sonho do artista de levar arte para mais pessoas. Na casa, é possível encontrar frases do cantor nas paredes, bem como participações em filmes, músicas de sua autoria e roupas típicas usadas por ele. 

O famoso Carnaval da cidade – responsável pela injeção econômica de R$ 1,3 bilhão somente em pagamentos via Pix neste ano – não seria completo sem os conhecidos Bonecos de Olinda. As estruturas podem chegar a até quatro metros e pesar até 20 kg, confeccionadas com tecido, isopor, papel, madeira, fibra de vidro e alumínio. Eles ficam expostos na Embaixada de Pernambuco – Bonecos Gigantes de Olinda o ano inteiro, e é mágico visitar e olhar nos olhos desses bonecos icônicos.

Por muitas vezes vistos apenas pela televisão, o acervo de bonecos na Embaixada chega a 340 peças, com uma variedade imensa, indo desde Fernanda Torres com o Globo de Ouro na mão, passando por Diogo Nogueira e Ney Matogrosso, até Lampião e Maria Bonita. 

Caruaru

Saindo do litoral de Pernambuco e chegando ao Agreste, Caruaru é a principal cidade da região, localizada a cerca de 135 quilômetro do Recife. A cidade é famosa pelo artesanato, tendo como referência o Mestre Vitalino.

No Alto do Moura, há homenagens a Vitalino por toda parte. Na avenida principal do local, a casa dele está aberta para visitação, onde é possível ver os materiais que ele usava para seus artesanatos e algumas obras.

A história começa com Mestre Vitalino, que ainda criança, por volta dos seis anos, começou a modelar figuras com a argila que o pai, ceramista de utilitários como jarras e pratos, usava no trabalho. Inspirado pelo dia a dia, Vitalino criava cenas como crianças brincando, animais e personagens populares, levando suas peças para vender na Feira de Caruaru.

Atualmente, o Museu do Mestre Vitalino preserva sua história, e o Alto do Moura abriga ateliês de discípulos e descendentes, mantendo viva a tradição da cerâmica figurativa no agreste pernambucano.

O São João de Caruaru, considerado um dos maiores do Brasil, recebeu mais de 4 milhões de pessoas em seus 65 dias de festa (de 25 de abril a 28 de junho) e movimentou financeiramente R$ 737,6 milhões, um aumento de 7% em relação a 2024. A programação contou com 1.434 atrações e mais de 26 mil artistas, incluindo apresentações de música, dança, teatro, cinema, exposições e oficinas.

Em entrevista ao Brasilturis, Jaime Anselmo Filho, secretário de Desenvolvimento Econômico de Caruaru, destacou: “No ano passado, tivemos uma movimentação de aproximadamente R$ 688 milhões na nossa economia. Isso inclui o setor têxtil, o trade turístico, a economia criativa e o artesanato”.

O investimento público e privado na festa foi estimado em R$40 milhões. Para a segurança dos foliões, o Governo do Estado e a SDS investiram R$2,2 milhões, possibilitando 12.395 lançamentos extras de efetivo das forças policiais.

A ocupação hoteleira ultrapassou 95%, e toda a cidade colhe os frutos das festividades. Grandes artistas foram convidados para abrilhantar as festas, mas o destaque foi as apresentações locais, sendo que 72,73% das atrações contratadas são de Caruaru e 81,38% dos artistas pertencem ao gênero nordestino.

Para os próximos anos, a prefeitura planeja ampliar ações como o São João na Roça e consolidar ainda mais a cidade como referência junina no Brasil.

Além do São João, a prefeitura criou o Programa São João na Roça, que leva serviços públicos a 13 comunidades rurais antes da festividade. Segundo Anselmo Filho, esse é um momento importante para levar desenvolvimento a toda a cidade. Serviços como melhorias em estradas, atendimentos de saúde, retirada de documentos e ações de cidadania são oferecidos a essas comunidades. 

“A festa é uma oportunidade para levarmos os serviços onde o poder público muitas vezes não chega. Não é só evento, é transformação”, afirmou o secretário.

Bezerros

Em Bezerros, especificamente em Serra Negra, gostam de dizer que é o São João mais alto, mais frio e mais aconchegante do mundo. E a percepção da festa é essa mesma: muito aconchegante, com uma vista linda e temperaturas que chegam a 15ºC no fim da tarde e à noite.

O São João de Serra Negra não se destacou apenas pela geografia ou acolhimento, mas também pela valorização da cultura local. Com atrações de peso como Geraldo Azevedo e Mestrinho, a cidade priorizou os artistas locais, que se apresentaram no palco principal ao lado dos grandes nomes. 

O evento, realizado em uma estrutura coberta a mais de 950 metros de altitude, proporcionou uma atmosfera aconchegante, fria e imersa na natureza. “Aqui, a gente não disputa quantidade de público, o que não abrimos mão é do forró autêntico, do forró tradicional”, ressaltou Eudes Mateus, secretário de Turismo e Cultura de Bezerros.

Além da programação musical, o São João de Serra Negra movimentou a economia local. Com investimento público superior a R$ 3 milhões, a festa injetou mais de R$35 milhões na economia da cidade, beneficiando diretamente os setores de gastronomia, hotelaria e comércio. Cerca de 200 mil pessoas participaram do evento. 

Todo o preparativo e a festa contaram com ações de sustentabilidade e credenciamento prioritário para comerciantes locais, promovendo geração de renda e desenvolvimento para os moradores.

Dentro da proposta de promover um São João sustentável, a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Sustentável de Bezerros ampliou as ações voltadas à coleta seletiva e valorização dos recicladores. Segundo Thaís Santos, titular da pasta, desde 2022 o município implementou práticas ambientais nas festas populares, com coleta de óleo, papelão, latinhas e vidro, além de pontos educativos para o público. “Nosso foco é fazer um São João sustentável, dando destino correto aos resíduos e garantindo renda direta e digna para os recicladores”, afirmou a secretária.

Durante o evento, os recicladores receberam estrutura completa para trabalhar com segurança e dignidade, incluindo uniformes, protetor solar, alimentação e água. Os resíduos coletados foram destinados diretamente a empresas de transformação, aumentando a renda de quem vive da reciclagem e reduzindo o impacto ambiental da festa. 

A ação também teve caráter educativo, com comunicados nos palcos e envolvimento das secretarias de Turismo e Saúde. O modelo de Serra Negra se consolidou como referência e fortaleceu a imagem da cidade como destino comprometido com o desenvolvimento sustentável.

Contudo, vale lembrar que o Turismo em Serra Negra não se limita ao período junino. A cidade vem se fortalecendo como destino de inverno e, ao longo do ano, oferece experiências que incluem trilhas, cavalgadas, roteiros culturais e ecoturismo. O Polo de Eventos, onde ocorreu o São João, passou por um processo de requalificação, com investimento de mais de R$ 1,5 milhão, visando melhorar banheiros, quiosques e acessos, fortalecendo ainda mais o potencial turístico da região.

Gravatá

Assim como em Caruaru, Gravatá vem se consolidando como polo do São João. A cidade possui a terceira maior rede hoteleira do estado, e 24% dos imóveis são de segunda residência, o que dobra a população nos fins de semana. A taxa de ocupação hoteleira chegou a 100%, e a permanência média dos turistas foi de 3,4 dias — superior à registrada em polos como Caruaru e Arcoverde. Outro destaque é o gasto médio individual, que ultrapassou os R$540, mais que o dobro da média nacional, segundo o IBGE.

Marllon Lima, secretário de Turismo, Cultura, Esportes e Lazer, atribui esse desempenho à qualidade da oferta local. “Temos mais de 120 estabelecimentos gastronômicos cadastrados, entre cozinha internacional e regional. Temos artesanato, turismo religioso, passeios de balão e quadriciclo. Investimos em turismo para ter esse retorno na economia local”, afirma. 

Com atrações nacionais de peso, como Wesley Safadão, Bruno & Marrone e Enzo Rabelo, a cidade bateu recorde de público no Pátio de Eventos Chucre Mussa Zarzar e superou as projeções iniciais. Segundo Lima, mais de 1 milhão de pessoas passaram pela cidade desde o início das celebrações, em 17 de maio, e a expectativa era de 1,5 milhão até o final de junho.

A valorização cultural também é um ponto forte. Mais de 80% da programação contou com atrações locais, incluindo quadrilhas, bandas e artistas regionais. “Fazemos questão de, no palco principal, sempre ter um cantor da terra para valorizar o que temos de bom”, completou Lima. Levantamento da secretaria mostra que, ao longo do ano, mais de 90% dos eventos realizados em Gravatá têm como base talentos locais.

Com impacto econômico estimado em mais de R$350 milhões, a prefeitura já planeja a próxima edição. Segundo o secretário, “vemos que nosso pátio hoje se tornou pequeno para a grandiosidade que o São João de Gravatá tomou. Já estamos estudando um novo espaço para receber ainda mais gente com conforto. Tem muita coisa boa vindo por aí”.

Arcoverde

Arcoverde, cidade considerada o portão do Sertão pernambucano, foi sede da 13ª Caminhada do Forró. A comemoração reuniu milhares de foliões em um trajeto de cerca de quatro quilômetros entre a Rádio Agnus Dei e o Polo Multicultural, com muita alegria e dança no pé. O clima, com músicas de São João, só melhorou a experiência de quem saiu para se divertir.

Cerca de 40 mil pessoas foram às ruas para arrastar o pé e, ao final, assistir a shows de artistas consagrados do Nordeste, como Geraldinho Luis e o grupo Coco Fulô do Barro, que trouxe ao palco a força das tradições populares nordestinas.

A Caminhada do Forró sempre homenageia pessoas com raízes em Arcoverde que devolvem para a comunidade tempo e esforço para manter a cultura e as tradições vivas. Desta vez, os escolhidos foram Mestre Assis Calixto e Joselma Melo.

Assis Calixto Montenegro mora em Arcoverde desde 1952. Além de Patrimônio Vivo de Pernambuco (2019), é Patrimônio Vivo de Arcoverde (2024) e Cidadão Arcoverdense (2025), juntamente com o irmão e mestre Damião Calixto.

Autor da maioria das cantigas do Samba de Coco Raízes de Arcoverde, o cantor, compositor, musicista e artesão Assis Calixto sempre lembra que o resgate cultural do grupo arcoverdense é justamente a continuidade do saber do seu irmão Lula Calixto.

Em sua casa no Alto do Cruzeiro, onde fica o ateliê, Calixto faz arte produzindo tamancos de madeira (usados nos tablados para a pisada trupé, que é o ritmo dos movimentos com os pés e o balanço de todo o corpo), esculturas de madeira e brinquedos de material reciclado.

Essa valorização das pessoas que devolvem para a comunidade é exatamente o intuito do São João: muito forró no pé, alegria, união entre as pessoas e famílias, e muita diversão para aproveitar os meses de festas e tradições.

LEIA MAIS NOTÍCIAS

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, 
necessariamente, a opinião deste jornal

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

MAIS LIDAS

Greve no aeroporto de Lisboa gera...

Com paralisações até setembro, greve de trabalhadores da Menzies Aviation provoca atrasos e leva brasileiros a perderem voos por falhas no embarque

Clientes da 123 Milhas ganham novo...

Cooperação entre juízes de Belo Horizonte visa padronizar e agilizar trâmite de processos envolvendo consumidores lesados

Brasilturis 898 – Julho 2025

DO JEITO QUE O BRASILEIRO GOSTA - Armadoras investem...

EUA exigirão caução de até US$...

Programa piloto mira estrangeiros de países com alta taxa de permanência irregular e entra em vigor no fim de agosto; brasileiros ainda não estão na lista

Arena Abreu 2025 chega ao fim...

Último dia teve rodada de negócios, ativações culturais e festa de encerramento no Wish Serrano Resort, em Gramado

NEWSLETTER

    AGENDA

    Labace

    REDES SOCIAIS

    PARCEIROS