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Kamilla Alves
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“Pode manchar a imagem do Brasil”, alerta Mariana Aldrigui sobre hospedagens para COP30

Comparação de diárias feita por pesquisadora da USP evidencia riscos reputacionais para o país e escancara fragilidades nos serviços turísticos da capital paraense

Com a proximidade da COP30, que será realizada no mês de novembro, em Belém (PA), as atenções voltam-se não apenas para os debates climáticos e diplomáticos que o evento trará, mas também para a estrutura que o Brasil oferecerá aos visitantes. Entre os pontos que já geram preocupação está a escalada de preços na hotelaria local.

O alerta veio de forma direta nas redes sociais da professora e pesquisadora Mariana Aldrigui, da Universidade de São Paulo (USP), que publicou uma comparação entre os valores cobrados por hospedagens em Belém durante a COP30 e diárias praticadas pelos melhores hotéis do mundo.

A publicação provocou comentários. Em entrevista ao Brasilturis, Mariana explicou que o objetivo principal da postagem foi provocar reflexão sobre o descompasso entre preço e qualidade de serviço oferecido na capital paraense. “Meu público principal é composto por jovens na faixa dos 20 anos – meus alunos – e eles são consumidores ávidos de redes sociais. Precisava usar imagens e tentar ilustrar a situação que mais me incomoda, que não é exatamente a questão do preço, mas sim da qualidade dos serviços envolvidos”, explicou a professora sobre a motivação do post.

Para ela, a situação atual revela uma combinação de fatores que sinalizam falhas estruturais e risco de frustração na experiência dos visitantes.

A comparação proposta por Mariana coloca lado a lado os valores cobrados por hotéis considerados referência mundial – que contam com localização privilegiada, tradição, excelência em atendimento e serviços já testados e ajustados – e os preços encontrados em Belém, onde falta infraestrutura hoteleira compatível com os valores praticados. A diferença, para a professora, não está apenas nos números, mas na entrega.

“O que vemos em Belém é uma combinação de situações que gritam ‘vai dar ruim’, pois não há condições de garantir que o serviço será equivalente ao preço cobrado”, alerta.

Segundo ela, a reação nas redes foi majoritariamente de concordância. “Todos entendem que é uma oportunidade de cobrar mais caro, sem dúvida, mas não para cometer este tipo de abuso. O que se viu nas plataformas online está mais para um episódio de alucinação coletiva”, frisou.

Oportunidade que pode virar prejuízo reputacional

No Brasil, aumentos expressivos de tarifas em grandes eventos não são novidade. Mariana relembra os episódios da Copa do Mundo de 2014, especialmente no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, quando a hotelaria inflacionada quase motivou intervenção federal. A diferença, porém, está na maturidade dos destinos. “BH e Rio são cidades com demanda constante, infraestrutura pré-existente e cultura de serviços já avaliada. Belém não tem esse histórico.”

O temor agora é que os formadores de opinião internacionais, como jornalistas, diplomatas, representantes de ONGs e especialistas de diversas áreas, tenham experiências negativas na COP30 que comprometam a imagem do Brasil. “Isso será documentado em textos, áudios e vídeos. Alimentará os algoritmos de informação sobre viagens e eventos no futuro imediato”, pontua. Para ela, o risco é de uma associação direta entre Belém e exploração turística, que pode se ampliar para o Brasil como um todo. Aldrigui alerta: “um evento mal planejado pode manchar a reputação de destinos com muitos anos de bons trabalhos.”

Preços X valor percebido

Embora o Governo Federal, por meio do Ministério do Turismo, garanta que haverá hospedagem acessível durante a COP30 em Belém, Mariana defende que há diferença entre cobrar mais caro e praticar preços oportunistas. Em eventos desse porte, o ideal seria que os valores acompanhassem a melhoria da experiência e estivessem ancorados em estratégias de longo prazo. “É preciso entender a vantagem comparativa e competitiva. O objetivo deveria ser atrair os melhores perfis de clientes para os planos da cidade” lembra a pesquisadora.

Como solução, ela propõe uma lógica mais estratégica e que passe por escolhas qualificadas, visto que receber delegações específicas pode abrir portas para novas relações e investimentos. “Todo cliente é ótimo, mas a ação inteligente envolve um encadeamento de ações para preservar o fluxo de hóspedes”, afirma. Para hotéis com padrão 3 estrelas, os mais comuns em Belém, Mariana considera razoável um teto de US$ 250 por diária, desde que o serviço esteja de fato alinhado ao padrão internacional.

A publicação abaixo, feita por Mariana em seu perfil no Instagram, apresenta opções de hospedagens que ultrapassam esse valor. Confira.

Preocupações com sustentabilidade e legado

A COP30 é, por natureza, um evento voltado à sustentabilidade. Para Mariana, no entanto, algumas decisões tomadas até aqui parecem ir na direção oposta. Entre os pontos de preocupação estão o uso de navios como solução de hospedagem, vistos como “grandes poluidores, especialmente quando estacionados” por ela, e obras aceleradas sem garantias de métodos sustentáveis. A ampliação da maior avenida da cidade, com remoção de vegetação urbana, também entra na lista.

“Não vejo, até agora, um movimento no turismo que esteja alinhado à sustentabilidade”, diz. Ainda assim, ela reconhece que a exposição da floresta amazônica e o contato com os desafios locais podem despertar reflexões importantes entre os participantes. “É possível que haja uma sensibilização genuína sobre a necessidade de preservar a floresta e de evitar erros que ainda são cometidos em diversos países.”

A principal mensagem da análise de Mariana é clara: a reputação construída ao longo de décadas por destinos brasileiros pode ser fragilizada por falhas pontuais em um único evento. O impacto, amplificado pelas redes sociais e pela imprensa internacional, tende a ser duradouro – especialmente se a experiência for negativa. “A crítica vai mais longe que o elogio”, lembra.

Por isso, ela defende que as autoridades públicas e o setor privado atuem de forma coordenada para garantir não apenas infraestrutura, mas coerência entre promessa e entrega. A hospitalidade deve ser tratada como ativo estratégico, e não como oportunidade de lucro rápido.

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