O ano de 2025 marca para a Abreu a consolidação de um planejamento estratégico iniciado no segundo semestre de 2024, estruturado para dar continuidade a um crescimento sustentado e reforçar a posição da operadora no mercado brasileiro. A elaboração desse plano levou em conta não apenas o desempenho histórico da empresa em diferentes mercados, mas também tendências de consumo, conjunturas econômicas e geopolíticas, e o comportamento do cliente final observado nos últimos anos.
Para organizar as metas de maneira clara e direcionar investimentos e esforços comerciais, a Abreu dividiu sua estratégia em seis grandes “caixinhas” de produtos: Europa, Caribe, Estados Unidos, Brasil, destinos exóticos e América do Sul. Cada uma dessas frentes combina destinos consolidados, que sustentam volumes de vendas expressivos, e novas apostas capazes de ampliar a participação da empresa em segmentos de alto potencial.
Na Europa, região que é a espinha dorsal da história da Abreu (operada pela empresa há 60 anos no Brasil), o foco em 2025 é tanto no fortalecimento de mercados tradicionais como Portugal, Espanha e Itália, quanto na expansão de destinos estratégicos, como a Turquia, que segue em franca ascensão no portfólio. Além disso, a operadora apostou no lançamento de novos roteiros, muitos deles vinculados a nichos específicos, como o Mulheres Preciosas, linha de grupos voltada exclusivamente ao público feminino e já com saídas confirmadas para países europeus.
O Caribe foi outro eixo priorizado, com investimentos comerciais mais robustos para reposicionar destinos como República Dominicana, Aruba, Curaçao e Cuba. Embora o México siga relevante, a meta é recuperar gradualmente os números de 2019, antes das mudanças no visto para brasileiros. Já nos Estados Unidos, a estratégia passa por manter a Flórida como líder absoluta em vendas, mas diversificar a oferta com reforço em Nova York, parques naturais e itinerários de motorhome, preparando-se para a demanda extra esperada com a Copa do Mundo de 2026.
O mercado nacional também ganhou relevância no plano. Em 2025, houve um incremento expressivo no número de bloqueios aéreos, ampliando a competitividade e a previsibilidade de tarifas para os agentes de viagens. Fernando de Noronha despontou como grande destaque nesse segmento, registrando uma procura acima do projetado já no primeiro semestre. Na América do Sul, o Peru se consolidou como carro-chefe, acompanhado por desempenhos positivos de Colômbia e Chile. Entre os destinos exóticos, o Dubai surpreendeu pela força de vendas, tornando-se um dos produtos mais relevantes do portfólio neste ciclo.
Apesar do alinhamento entre projeção e resultado no primeiro semestre, o período não esteve isento de desafios. Fatores externos, como a instabilidade do dólar, trouxeram impacto direto sobre o poder de compra e a confiança do consumidor, exigindo flexibilidade nas políticas comerciais.
A definição do aumento do IOF sobre transações internacionais também gerou momentos de retração temporária, sobretudo no período de maior exposição do tema na mídia. Além disso, conflitos no Oriente Médio inviabilizaram o retorno pleno de Israel ao catálogo em larga escala, afetando a retomada de um mercado tradicionalmente forte para a operadora.
Desempenho por região e produto
O balanço do primeiro semestre de 2025 confirma que o portfólio da Abreu respondeu de forma positiva ao planejamento traçado, com destaque para alguns destinos que superaram as expectativas iniciais. Entre os mercados nacionais, Fernando de Noronha despontou como uma das surpresas mais expressivas do período. O destino, trabalhado com bloqueios aéreos próprios e maior previsibilidade tarifária, registrou demanda superior à projetada e se consolidou como uma aposta certeira no segmento doméstico.
No mercado internacional, o projeto Mulheres Preciosas (criado para atender exclusivamente ao público feminino) tornou-se um dos grandes trunfos do semestre. Todas as saídas programadas para destinos como Europa, Dubai e Peru atingiram taxas elevadas de ocupação, validando a decisão estratégica de investir nesse nicho. A iniciativa mostrou que, além de decidir a maior parte das viagens familiares, muitas mulheres têm buscado roteiros personalizados para experiências individuais ou em grupos de afinidade.
No segmento de destinos exóticos, o Dubai se consolidou como uma das grandes potências do portfólio em 2025, atraindo clientes não apenas pelo apelo de luxo e modernidade, mas também pela formatação completa do produto, que inclui hospedagem e passeios. A América do Sul manteve um ritmo sólido, com o Peru registrando forte crescimento e se posicionando como destino-chave para a operadora, acompanhado por desempenhos consistentes de Colômbia e Chile.
O Caribe apresentou resultados robustos, impulsionado especialmente por Aruba e Curaçao, que se destacaram como alternativas de sol e praia com boa aceitação no mercado brasileiro. Cuba também manteve relevância, enquanto o México, apesar de ser um dos destinos historicamente mais importantes da região, ainda opera abaixo dos números pré-visto, mostrando recuperação mais lenta que a esperada.
Nos Estados Unidos, a Flórida seguiu como líder absoluta em vendas, mas a Abreu também observou avanços significativos na procura por Nova York e pelo produto de motorhome, que vem sendo preparado como diferencial para a Copa do Mundo de 2026. No entanto, alguns destinos norte-americanos, como parques naturais, tiveram desempenho aquém do esperado, impactados pelo aumento dos custos operacionais e pelo câmbio instável.
Na Europa, o fortalecimento da Turquia como destino estratégico demonstrou retorno positivo, assim como a adesão a novos roteiros temáticos lançados em 2025. O continente segue sendo a “joia da coroa” da Abreu, sustentando volume expressivo de vendas e alta taxa de recompra, fruto de décadas de operação consolidada.
Desafios, ajustes e estratégias de mitigação
O primeiro semestre de 2025 não foi isento de turbulências para a Abreu. Apesar do cenário positivo, a operadora precisou lidar com uma combinação de fatores externos que exigiram monitoramento constante e ações corretivas pontuais. A volatilidade do dólar e o aumento do IOF sobre transações internacionais foram dois dos elementos mais sensíveis, afetando momentaneamente a confiança do consumidor no fechamento de viagens internacionais.
Felipe Cuadrado explica que, embora essas notícias causem um “freio de arrumação” no curto prazo, o mercado tende a se estabilizar rapidamente quando o cliente entende que as mudanças afetam todo o setor de forma igual.
No campo geopolítico, conflitos internacionais também impactaram a malha de produtos. O caso mais evidente foi o de Israel, que não conseguiu retomar a operação em larga escala após a eclosão de novos episódios de instabilidade, interrompendo temporariamente um destino que, antes, ocupava posição de destaque no portfólio da Abreu. Essa lacuna foi compensada pela intensificação de campanhas para destinos de perfil cultural e histórico semelhantes, como Turquia, Jordânia e Egito, garantindo alternativas ao agente de viagens e ao consumidor final.
Do ponto de vista comercial, ajustes foram feitos para proteger a previsibilidade de receita. No mercado doméstico, a expansão de bloqueios aéreos, com destaque para as operações saindo de Porto Alegre, deu maior controle sobre tarifas e disponibilidade, permitindo à operadora criar pacotes mais competitivos e blindados contra oscilações de custo de última hora. Essa estratégia foi fundamental para sustentar a boa performance de Fernando de Noronha e de outros destinos nacionais.
No segmento internacional, a Abreu investiu na diversificação de produtos para reduzir a dependência de um ou dois mercados-chave. Assim, mesmo que destinos como o México ou alguns parques naturais dos EUA não tenham atingido o patamar pré-pandemia, a demanda foi compensada pelo crescimento acelerado de produtos como motorhomes, grupos de mulheres e roteiros exóticos.
Outro ponto estratégico foi a manutenção e ampliação das ações B2B, com a realização de eventos de capacitação e campanhas de incentivo voltadas a agentes de viagens. Essa aproximação permitiu reforçar a confiança do canal distribuidor em momentos de instabilidade, garantindo que as novidades chegassem rapidamente ao consumidor final.
No conjunto, a agilidade na leitura de cenário e a capacidade de reposicionar o foco comercial foram determinantes para que a Abreu encerrasse o semestre com resultados dentro do esperado, mesmo diante de um mercado altamente dinâmico e sujeito a variáveis externas.
Fortalecimento do B2B
O relacionamento com o mercado B2B permanece como um dos eixos centrais do modelo de negócios da Abreu, representando uma fatia majoritária das vendas ao longo do ano. Cuadrado é categórico ao afirmar que o agente de viagens não é apenas um canal de distribuição, mas um parceiro estratégico na construção de resultados sustentáveis. Essa visão se traduz em ações estruturadas para garantir proximidade, agilidade e suporte personalizado.
Para atender a essa demanda, a operadora mantém escritórios distribuídos estrategicamente pelo Brasil e criou clusters regionais de atendimento, modelo que permite segmentar a comunicação e adaptar o suporte às particularidades de cada mercado. Esses clusters funcionam como células de relacionamento, reunindo gerentes e promotores de vendas que atuam diretamente, visitando agências, promovendo capacitações e levando informações atualizadas sobre produtos e promoções.
A digitalização também ganhou relevância no reforço ao B2B. Em junho de 2024, foi lançado o novo site, totalmente remodelado para as necessidades do agente de viagens. A plataforma não apenas concentra inventário e tarifas competitivas, mas também disponibiliza recursos para personalização de pacotes, consulta de bloqueios aéreos e acesso rápido a materiais de apoio. Segundo Cuadrado, a evolução contínua dessa ferramenta é prioridade, já que a eficiência digital impacta diretamente a conversão e a competitividade frente a outros canais.
O calendário anual da Abreu inclui ações de engajamento voltadas exclusivamente para o B2B. Entre elas, o Arena Abreu se destaca como evento âncora, reunindo fornecedores, executivos e agentes para apresentar lançamentos, realizar treinamentos e fomentar networking. Além disso, a operadora promove encontros temáticos em diferentes cidades, como os recentes eventos com guias de Portugal voltados à divulgação dos circuitos europeus, além de workshops realizados em parceria com destinos e redes hoteleiras.
As campanhas de vendas completam o pacote de relacionamento. Há iniciativas promocionais, com condições especiais para fechamento imediato, e outras de incentivo, premiando agentes com base no desempenho. Essas ações têm como objetivo estimular o fluxo contínuo de vendas e manter o produto Abreu sempre presente na prateleira das agências.
Perspectivas e tendências
O planejamento da Abreu para 2026 já está em andamento e traz um conjunto de ações estratégicas que combinam reforço de produtos consolidados, aproveitamento de oportunidades sazonais e investimento em formatos de viagem que refletem as mudanças no comportamento do consumidor.
Entre as principais apostas, destaca-se a continuidade e expansão do Mulheres Preciosas. O projeto, que em 2025 se consolidou como um dos maiores sucessos da operadora, ganhará mais saídas e novos destinos no próximo ano. A meta é não apenas ampliar a oferta, mas diversificar experiências, atendendo a diferentes perfis de viajantes dentro do público feminino.
No mercado sul-americano, o Peru seguirá como prioridade, beneficiado pelo crescimento contínuo da demanda observada em 2025. O país será trabalhado tanto em pacotes regulares quanto em formatos especiais, com foco em roteiros que valorizam cultura, gastronomia e experiências imersivas.
O grande fator de transformação do calendário de 2026, no entanto, será a Copa do Mundo nos Estados Unidos. O evento altera profundamente o planejamento comercial da Abreu, que já estrutura ações específicas para aproveitar o aumento da demanda pelo destino.
Um dos pilares dessa estratégia é o fortalecimento da oferta de viagens de motorhome, modalidade que promete ser especialmente atrativa para quem deseja acompanhar diferentes jogos e circular entre as cidades-sede com liberdade e praticidade. A operadora, inclusive, desenvolveu um guia especializado em parceria com outros players do setor para orientar o viajante brasileiro sobre esse tipo de experiência.
Além da Copa, a Abreu planeja trabalhar de forma intensiva produtos ligados a experiências completas e personalizadas, tendência que vem ganhando força ano a ano. Isso inclui circuitos mais robustos, com serviços integrados e acompanhamento especializado, garantindo ao cliente uma viagem sem preocupações. Essa abordagem é particularmente relevante para destinos exóticos e complexos, nos quais o suporte operacional da operadora faz diferença significativa.
Segundo Cuadrado, a combinação entre oportunidades sazonais, como a Copa do Mundo, e o fortalecimento de produtos com alto valor agregado será o eixo central da estratégia para 2026. O objetivo é manter o ritmo de crescimento registrado nos últimos anos, explorando tanto mercados já consolidados quanto novas oportunidades de negócios que surjam no decorrer do período.
Mensagem ao mercado
Ao encerrar o balanço do primeiro semestre e apresentar as perspectivas para os próximos passos da operadora,Cuadrado reforça um recado claro ao mercado: a Abreu mantém seu compromisso inabalável com o agente de viagens como principal parceiro comercial e como elo fundamental para a entrega de experiências de qualidade ao cliente final. O diretor de Produtos enfatiza que, mesmo diante de cenários de instabilidade cambial, mudanças tributárias e contextos geopolíticos desafiadores, a operadora mantém uma postura de resiliência e adaptação, ajustando produtos, investindo em tecnologia e criando novas oportunidades para o B2B.
Ele destaca que o ano de 2025 tem sido marcado não apenas pela consolidação de produtos, mas pela capacidade da empresa de inovar em linhas estratégicas, como o Mulheres Preciosas, e ampliar o alcance em destinos-chave no Brasil e no exterior. Essa combinação de solidez e renovação, segundo Cuadrado, é o que permite à Abreu manter-se competitiva e relevante em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente.
Ao olhar para 2026, Cuadrado reforça que o trade pode esperar uma operadora atenta às tendências, preparada para aproveitar grandes eventos como a Copa do Mundo, e empenhada em oferecer produtos que aliem conveniência, personalização e valor agregado. A aposta na diversificação do portfólio e no fortalecimento de nichos de alto potencial, como viagens temáticas e destinos exóticos, se mantém como eixo estratégico.
Para o executivo, a relação com o mercado passa também por manter canais de comunicação abertos e investir em capacitação, fortalecendo a confiança mútua entre a operadora e os profissionais de vendas. “Nosso foco é continuar próximos das agências, ouvindo, entendendo suas demandas e adaptando nossas soluções. É assim que garantimos resultados sustentáveis para todos os lados”, reforça.
Esta reportagem integra a série Especial Operadoras, tema de capa da edição de agosto do Brasilturis Jornal. Ao longo do mês, apresentaremos entrevistas exclusivas com executivos das principais empresas do setor, revelando estratégias, resultados, tendências e perspectivas para o mercado de viagens no Brasil e no exterior.