São Paulo (SP) — O Amapá levou ao Salão do Turismo, no Anhembi, um produto nativo: o chocolate Cassiporé. À frente da delegação, Synthia Lamarão, secretária de Turismo do Amapá, apresentou a empresa, marca do município de Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa.

“Nós estamos aqui com a empresa Cassiporé, o chocolate nativo da região Norte e especialmente do Amapá, lá de Oiapoque, fronteira com a França.” Para a gestora, o produto está alinhado ao posicionamento do estado. “É algo que engrandece muito o nosso roteiro, porque vem desde a origem do cacau, a produção associada, e hoje é um grande roteiro turístico para o estado, que agrega imenso valor.”
Synthia ressaltou que cases como o da Cassiporé ajudam a viabilizar o Turismo como atividade econômica. “A gente tem muita sorte porque, pela primeira vez, o turismo está sendo visto como atividade econômica. Isso nos proporciona um novo cenário: temos um governo que incentiva e acredita no turismo como vetor econômico, e cabe a nós, secretários, ter olhar técnico, identificar histórias como a do seu Dorismar e trabalhar em conjunto para desenvolver.”
A secretária também destacou o momento do mercado local. “O nosso setor hoteleiro está bem aquecido. Teremos agora a 24ª Expo Feira do Estado, que se tornou a nossa maior feira de negócios, com delegações da China e da França já confirmadas. Neste ano, o Amapá recebe a certificação de gado livre de febre aftosa, uma luta de anos e uma grande vitória que atrai novos negócios.” Segundo ela, a fronteira tem impulsionado fluxo internacional. “Com o fim do visto para a Guiana Francesa e as férias francesas, hotéis, bares e restaurantes estão lotados. Muitos entram por Oiapoque para comprar e também curtir eventos em Macapá.”
A criação da Chocolates Cassiporé
João Dorismar da Paixão, dono da Chocolates Cassiporé, contou como a familiaridade com o cacau nativo de várzea virou negócio e, agora, atrativo turístico. “Eu sou da região. Onde nasci tem cacau. Esse cacau é nativo, de floresta de várzea. A princípio, eu queria vender a matéria-prima. Cheguei a vender mais de duas toneladas para São Paulo, para a Luiza Abram, uma chocolatier famosa. Depois comecei a aprender a fazer chocolate. Aí pronto: eu disse ‘não, não vamos vender mais; vamos produzir, vamos agregar valor’.”

O empreendedor estruturou equipe e apostou em formação técnica. “Peguei o namorado da minha filha, ele trabalhava na prefeitura. Eu disse: ‘sai daí, vem trabalhar comigo, eu te pago mais; vamos te formar’. Ele foi nosso primeiro funcionário registrado. Fez formação em Canela (RS) e depois foi convidado a fazer um curso na França, em Lyon. Ele tem especialização em chocolate no exterior.”
A presença da marca em Oiapoque já gera visitação espontânea. “A loja virou ponto turístico. O pessoal vai a Oiapoque e passa lá. Começaram a cobrar: ‘a gente pode ir ao cacauezal?’. Pode, mas são 137 km da cidade. Então montamos a logística: na época da safra, que é sazonal, levamos as pessoas ao cacauezal, depois visitam a fábrica e finalizam na loja.”
A rota está em fase de consolidação com apoio técnico. “Estamos com consultoria do Sebrae para fechar o roteiro turístico. Precisamos registrar tudo e montar a empresa paralela para operar as experiências, inclusive de ecoturismo.” Ele também busca reconhecimento de origem. “Foi feito o diagnóstico para indicação geográfica. Quero ajustar orçamento para, no ano que vem, avançarmos nisso. O próximo será o cacau do Cassiporé.”
A Cassiporé projeta ampliar a produção e diversificar linhas. “Já colhemos três toneladas em safra, mas tivemos queda climática. Com a manutenção do cacauezal, a viabilidade técnica aponta produção de 42 toneladas por ano. Vamos abrir outra fábrica em Macapá para linha doce com cacau plantado. O programa Amapá Cacau incentiva o plantio; vamos comprar dos produtores e seguir agregando valor.”
Para Synthia, produtos com identidade territorial são alavancas de mercado e de marca-destino. “Turismo é oportunidade de viver grandes experiências; nossa obrigação é criar grandes memórias.” A secretária conectou o calendário de eventos e o avanço de setores como o agro e o petróleo a uma estratégia de interiorização da demanda. “Estamos fortalecendo o segmento de eventos por diretriz do governador Clécio Luiz, gerando emprego e qualidade de vida. Em Oiapoque, estudos ligados à Petrobras trazem desenvolvimento.”
No estande do Amapá, a curadoria buscou evidenciar essa tessitura entre natureza, cultura e origem. “É desenvolvimento conjunto: poder público e iniciativa privada, produto turístico na prateleira e negócio girando. É não perder oportunidades.”