Na sétima edição do Fórum Nacional da Hotelaria (FNH), realizado nesta segunda-feira (15), em São Paulo, o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apresentou um panorama da economia brasileira com foco no impacto sobre o turismo. O especialista trouxe dados que evidenciam o crescimento do setor, mas também alertou para riscos estruturais, especialmente ligados à reforma tributária.
Crescimento acima da média nacional
De acordo com Bentes, o setor de turismo acumula em 2025 um crescimento real de 6% no volume de receitas, já descontada a inflação, mesmo em um cenário de desaceleração da economia. “Não falamos em recessão. A atividade turística segue avançando, mostrando resiliência e capacidade de gerar resultados mesmo em um ambiente macroeconômico desafiador”, afirmou.
A inflação do setor está em 4,6%, abaixo da média nacional, o que mostra que serviços como hotelaria, alimentação e transporte não têm sido os principais vetores da alta de preços. Além disso, os dados de empregabilidade apontam que o turismo continua sendo “a última fronteira da geração de empregos” em um país de produtividade estruturalmente baixa.
Recorde de turistas estrangeiros
Outro ponto de destaque foi o fluxo internacional. Entre janeiro e julho de 2025, o Brasil registrou o recorde de turistas estrangeiros, superando os 6,8 milhões de visitantes que estiveram no país durante todo o ano anterior. A expectativa da CNC é de encerrar 2025 com o maior volume da série histórica.
“O turista internacional tem gasto médio de cerca de US$ 1.000 por viagem, valor superior ao desembolso do visitante nacional, e representa impacto econômico mais significativo. Por isso, esse movimento deve ser comemorado e incentivado”, explicou Bentes.
O economista destacou ainda que o câmbio não é o principal atrativo. Segundo ele, a valorização do real não deve afastar estrangeiros, mas a falta de campanhas de promoção internacional e de investimentos em infraestrutura aeroportuária e de segurança pública ainda limita o pleno aproveitamento do potencial turístico brasileiro.
Riscos da reforma tributária
Apesar dos avanços, Bentes alertou para o impacto negativo da reforma tributária sobre o setor de serviços. O texto em tramitação prevê uma alíquota nominal entre 26,5% e 28% sobre consumo — a maior do mundo, acima dos 27% praticados na Inglaterra e muito distante dos 17% a 19% observados em países concorrentes.
Segundo cálculos da CNC, o turismo e outros segmentos de serviços não conseguiriam compensar esse peso com créditos tributários, uma vez que suas maiores despesas estão na folha de pagamento. “O setor que mais emprega no Brasil pode ser penalizado com aumento de carga, justamente no momento em que a economia começa a desacelerar”, criticou.
Segurança e empregabilidade em foco
Bentes também ressaltou a necessidade de políticas públicas que garantam segurança urbana para turistas. “O hoteleiro pode investir em sistemas de proteção, mas se as cidades não oferecem tranquilidade ao visitante, todo o esforço individual é comprometido”, disse.
Ele reforçou que a robotização e automação de serviços — realidade já consolidada no varejo e chegando com força na hotelaria — impõem desafios adicionais para a manutenção da empregabilidade no setor. “Se não houver políticas adequadas de absorção dessa mão de obra, haverá pressão crescente sobre programas sociais”, alertou.
Perspectiva cautelosa
Encerrando sua apresentação, o economista classificou o cenário como “positivo, mas com asteriscos”. O setor de turismo deve manter trajetória de crescimento, mas depende de avanços estruturais, como uma reforma tributária equilibrada e investimentos em promoção internacional.
“O Brasil tem vantagens competitivas únicas — da Amazônia ao Nordeste —, mas precisa transformar esse potencial em resultado econômico. O setor tem mostrado resiliência, mas não pode carregar sozinho o peso de um Estado que insiste em gastar mais e tributar ainda mais”, concluiu