Existe algo de único no ato de receber à brasileira. Não se trata apenas de sorrir, oferecer uma caipirinha ou puxar conversa com naturalidade. Trata-se de uma maneira de transformar o cotidiano em celebração, de acolher o outro como extensão de si mesmo. É isso que chamamos de brasilidade: uma mistura de calor humano, estética exuberante e improviso criativo que nenhum outro país consegue reproduzir com a mesma autenticidade.
É o famoso: fica que vai ter bolo. A expressão “você é de casa” é diferente de “mi casa, su casa”. Não é apenas um sinta-se à vontade. É oferecer mais intimidade.
Tenho horror de gente que diz que estampa é “coisa de pobre”. Veja a Missoni, Versace, Dolce & Gabbana ou mesmo a Vuitton. O luxo francês, azul-marinho e bordô, é incrível. Na França e com os franceses. No Brasil, fica esquisito. O minimalismo de Nova York parece fora de lugar, mesmo em São Paulo, onde o som da Mooca e do Bixiga se ouve à distância.
O turista que chega ao Brasil não busca encontrar aqui o mesmo hotel que encontraria em Miami ou Dubai. Ele busca algo que só pode ser vivido aqui: o contraste entre sofisticação e simplicidade, a abundância e o frescor das frutas no café da manhã, o colorido das rendas e do artesanato local, o cheiro de mar e madeira no ar de uma pousada, o artesanato que conversa com a natureza ao redor. A brasilidade não tem medo das cores, não teme a mistura; ao contrário, ela é feita de pluralidade, de encontros improváveis, de uma estética que nasce do excesso e da alegria.
E é justamente aí que entra a provocação: será que nossas empresas de turismo — hotéis, restaurantes, receptivos — estão valorizando essa brasilidade ou tentando sufocá-la em nome de uma neutralidade global que agrada ao investidor, mas empobrece a experiência? Quando um hotel brasileiro opta por paredes brancas sem personalidade, quando troca o artesanato por móveis importados, quando esconde sua cozinha local para oferecer pratos genéricos “internacionais”, ele não está apenas deixando de lado um detalhe. Está apagando um patrimônio intangível, está renunciando àquilo que faz do Brasil um destino desejado. O hotel Fera, em Salvador, é um case de sucesso do chique brasileiro.
O mundo já não busca o luxo que é sempre igual, e sim o luxo que carrega identidade. O verdadeiro luxo brasileiro não é o mármore importado da Itália, nem a carta de vinhos franceses a preços exorbitantes. O luxo brasileiro está na abundância da natureza, na riqueza das culturas locais, no gesto generoso de servir sem pressa. Luxo é uma rede à beira-mar, um jantar com ingredientes que só existem neste território, um projeto arquitetônico que respira junto com a floresta, um spa que oferece ervas que sua avó reconheceria. Luxo, no Brasil, é a capacidade de transformar o simples em inesquecível e divertido. Brasileiro mal-humorado está com encosto.
Enquanto alguns destinos competem por quem tem a piscina mais instagramável ou o lobby mais futurista, o Brasil tem a chance de oferecer algo que ninguém pode copiar: a brasilidade como experiência. Isso é muito mais poderoso do que seguir modismos. O turista quer viver algo que tenha verdade, que o emocione, que o marque. E é justamente a mistura de calor humano, estética tropical e diversidade cultural que pode fazer do turismo brasileiro uma referência mundial. Parem com serviços sem cor, sem afeto.
O desafio é não se render à tentação da pasteurização. Porque o risco é claro: se todos os nossos hotéis, restaurantes e destinos quiserem ser “internacionais”, deixaremos de ser brasileiros. E viramos uma cópia pobre, tipo porcelanato que imita mármore. É cafona. E, nesse exato momento, perdemos a essência que nos diferencia. O futuro do turismo no Brasil passa por assumir a brasilidade como luxo, e não como obstáculo.
O luxo brasileiro é exuberante, humano, afetivo, colorido, generoso e musical. Ele não cabe em manuais de etiqueta importados. Ele surge, sim, da gentileza, do improviso criativo, da pluralidade cultural, da potência da nossa terra e do sorriso de quem recebe. Assumir isso é mais do que estratégia de mercado: é afirmar ao mundo que ser brasileiro é, por si só, um ato de luxo.






