A tokenização já aparece em casos reais no Brasil, de retrofit hoteleiro com lastro regulado a programas de recompensas via NFTs. Ainda assim, há obstáculos que retardam a escala. Durante o webinar “Web3, Blockchain e Tokenização”, promovido pela Skal Internacional Brasil, Walter Teixeira, presidente da entidade; Marcos Vilas Boas, presidente da ABIH-SP; Tadeu Cunha, vice-presidente de Tecnologia, Inovação e Dados da Avipam Viagens e Turismo; Paulo Régis e Ricardo Zago, co-CEOs da Bankei; detalharam onde o trade tropeça e como superar.
O principal gargalo é conhecimento. “As empresas precisam investir em treinamento básico para entender o que a tecnologia resolve”, afirmou Paulo Régis, CEO da Bankei. Sem letramento, projetos partem do hype e geram frustração. A recomendação é formar times multifuncionais, com negócio e TI, para identificar dores reais antes de escolher a ferramenta.
Outro ponto é a integração ao que já existe. Tadeu Cunha lembrou que OBTs, GDS e ERPs não se trocam da noite para o dia. O caminho é “conectar o novo ao tradicional” com camadas de API e pilotos que reutilizam processos conhecidos na ponta. Exemplo citado: pagar com cripto via cartão tradicional, mantendo experiência idêntica no POS.
A agenda regulatória ajuda a reduzir incertezas. Segundo a Bankei, resoluções recentes do Banco Central, a CVM 88 para ofertas de valores mobiliários tokenizados e a IN 1.888 da Receita Federal, somadas a ambientes de sandbox, dão previsibilidade a captações, custódia e reporte. “As regras trazem segurança jurídica e destravam casos de uso como transações cross-border com stablecoins”, disse Régis.
Liquidez e funding
A dúvida recorrente é saída do investidor. Os debatedores citaram que, em ofertas sob CVM 88, há mecanismos de negociação subsequente entre participantes da plataforma e que, em jurisdições externas, já existem exchanges de valores mobiliários tokenizados. Para hotelaria, a tokenização pode complementar linhas lastreadas em recebíveis, viabilizando retrofit e expansão com captação pulverizada.
Capital humano e custo
Profissionais Web3 ainda são escassos e caros. A solução proposta é empacotar a complexidade em produtos operáveis pelo negócio, com parceiros que falem a linguagem do trade. Assim, pilotos rodam com tickets menores e curva de aprendizado controlada.
Plano de ação para destravar
- Letramento executivo e de times comerciais.
- Mapeamento de dores com ROI de 90 dias.
- Piloto regulado: token de utilidade ou oferta sob CVM 88 conforme o caso.
- Integração por API ao OBT/GDS, sem refazer o core.
- Métricas de adoção e liquidez desde o desenho.
- Governança: KYC, compliance e política de dados.
Ao final, Ricardo Zago resumiu a mentalidade recomendada: “Teste. Não tenha medo de errar. Comece pequeno, escale o que funcionar.” A mensagem ecoa uma ambição maior: transformar o Brasil em referência de turismo Web3 ao unir financiamento mais ágil, programas de fidelidade tokenizados e pagamentos eficientes para o agente e o hoteleiro.




