As trilhas de longo curso ganharam protagonismo na COP30, em Belém (PA), ao serem apresentadas não apenas como percursos de aventura, mas como ferramentas estruturantes de desenvolvimento sustentável, inclusão social e conservação ambiental. No espaço “Conheça o Brasil”, do Ministério do Turismo, o painel “Pegadas Sustentáveis: trilhas de longo curso como instrumentos de transformação socioambiental” reuniu representantes da Associação Rede Brasileira de Trilhas, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, do cicloturismo e do poder público para discutir o impacto profundo desse movimento no país.
A abertura foi conduzida por Angelice Motter, da Associação Rede Brasileira de Trilhas, que descreveu com leveza o sentido coletivo que move o projeto. Ela apresentou os participantes como quem reconhece antigos companheiros de caminhada: Pedro Menezes, diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Júlio Meyer, presidente da Rede Brasileira de Trilhas; e Renata Falzoni, cicloturista, jornalista e vereadora em São Paulo.
Motter reforçou que o objetivo do encontro era mostrar como turismo, conservação, economia e comunidade se entrelaçam quando uma trilha passa a integrar um território. A proposta, segundo ela, é dar visibilidade a uma política pública construída de baixo para cima, onde voluntários, associações locais e moradores são protagonistas na construção de um sistema nacional de trilhas.
Júlio Meyer retomou a origem da Rede Brasileira de Trilhas, lembrando que tudo começou no Rio de Janeiro, guiado pela inquietação de voluntários que sonhavam com caminhos capazes de costurar biomas e aproximar pessoas de suas paisagens naturais. Ele explicou que por trás de cada trecho há um trabalho técnico robusto: mapeamento, sinalização padronizada, classificação de risco, definição de atrativos e organização de serviços, garantindo segurança e qualidade da experiência.
Renata Falzoni trouxe ao painel uma perspectiva emocional, lembrando que, antes de circular o mundo como cicloturista, foi montanhista e aprendeu nas trilhas a interpretar o território. Ela destacou que o Brasil tem um diferencial que ultrapassa o potencial turístico: o acolhimento das comunidades. Segundo ela, o cicloturismo movimenta bilhões na Europa, mas o Brasil pode ir além pela força cultural, pelo afeto e pela receptividade de quem vive ao longo dos caminhos.
Pedro Menezes acrescentou a visão estratégica da política pública. Explicou que a Rede de Trilhas foi pensada para atravessar décadas e que sua base se sustenta no protagonismo social — primeiro nas comunidades, depois no Estado. Ele destacou ainda o simbolismo das pegadas pretas e amarelas, que não são apenas sinalização: representam identidade, integração e um modelo unificado que impede a fragmentação do país em sistemas desconectados.
O painel também marcou a celebração do lançamento da Trilha Amazônia Atlântica, no Pará, considerada um divisor de águas para quem caminha ou pedala pelo país. Para Pedro Menezes, o estado ganha um legado concreto, com centenas de quilômetros conectando Belém à divisa com o Maranhão. Meyer reforçou que o grande desafio agora é organizar o movimento nacional, mantendo todas as trilhas alinhadas na mesma direção.
A mensagem final uniu todos os participantes: cada pegada preta e amarela pintada numa árvore, pedra ou estaca é mais que um sinal; é um convite para transformar o Brasil com passos lentos, pedaladas longas e comunidades fortalecidas por um turismo que preserva, gera dignidade e distribui renda.
Ao longo das duas semanas da COP30, o estande do Ministério do Turismo abriga debates no Auditório Carimbó sobre turismo regenerativo, financiamento climático, justiça ambiental e valorização de comunidades tradicionais.

