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Kamilla Alves
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Turismo comunitário impulsiona preservação na Ilha do Combu

Painel na COP30 debate fortalecimento econômico, desafios ambientais e o papel das comunidades ribeirinhas na construção de um modelo sustentável

A COP30, em Belém, abriu espaço para uma das discussões mais simbólicas da conferência: o turismo de base comunitária como ferramenta de inclusão, sustentabilidade e preservação na Amazônia. No Pavilhão Brasil, na Green Zone, o painel Turismo de Base Comunitária e a Rota do Combu: Sustentabilidade, cultura e empoderamento local reuniu lideranças ribeirinhas, autoridades e especialistas para debater os caminhos e os desafios do desenvolvimento turístico na Ilha do Combu. A condução ficou a cargo de Ana Carla Lopes, secretária-executiva do Ministério do Turismo.

A rota que reposicionou o Combu no mapa do turismo

Na abertura, Ana Carla destacou que a Rota do Combu, lançada em outubro na Abav Expo, no Rio de Janeiro, tornou-se um marco para o turismo amazônico. A iniciativa propõe ao visitante uma imersão de dois a três dias no cotidiano ribeirinho, com apoio do Ministério do Turismo, Embratur, Sebrae e parceiros locais.

Para ela, o turismo comunitário deixou de ser visto como “alternativa menor” e passou a ser reconhecido como produto de valor. A secretária afirmou que deseja ver a produção local ocupando o mesmo espaço de destaque que grandes marcas. “Queremos uma grande gôndola dedicada à produção comunitária”, afirmou, ao provocar o público a refletir sobre a valorização da ilha, agora projetada nacional e internacionalmente.

A visão foi reforçada por quem vive e preserva o território diariamente. Dona Nena, empreendedora nativa e proprietária da Filha do Combu, contou que sua atuação nasceu do manejo familiar do cacau e evoluiu para experiências imersivas ao turista. Formada pela Castelli Escola de Chocolateria e Hotelaria, ela descreveu o turismo como vivência sensorial: “Não é só comer chocolate. É mexer no cacau, sentir o cheiro, tocar o fruto. A pessoa vive a Amazônia com a gente.”

Preservação, pertencimento e o protagonismo das mulheres

A fala de Aldelina da Souza Oliveira, presidente da Associação de Mulheres Ribeirinhas do Igarapé do Combu, emocionou o público ao relacionar a preservação da ilha ao trabalho das comunidades tradicionais. Para ela, a beleza do Combu só existe porque os ribeirinhos cuidaram daquele território. Aldelina lembrou do período em que a ilha era pouco conhecida fora do Pará e destacou a importância de crescer com responsabilidade. “Turismo é massa, mas pode trazer destruição se não estivermos unidos e organizados. Crescer, sim, mas com sustentabilidade”, afirmou.

Ordenamento, capacidade de carga e sustentabilidade

O debate avançou para os desafios atuais diante do aumento da visibilidade. André Dias, representante da Embratur, recordou que, em 2019, a Ilha do Combu sequer aparecia nos materiais promocionais do Pará em eventos internacionais.

Após ajustes, a floresta passou a ocupar posição central na estratégia. Para ele, o crescimento exige cuidado, especialmente em relação à capacidade de carga da ilha. “Precisamos saber quantos barcos entram, em que velocidade, quantas pessoas circulam e como o lixo é manejado. Para a Embratur, turismo só é turismo se for sustentável”, disse.

Autenticidade como motor da experiência

A construção coletiva da rota também foi destacada por Péricles Dinis, analista de negócios do Sebrae, que afirmou que os empreendedores locais não oferecem apenas produtos, mas acolhimento, histórias e vínculos. “O turista chega e sente o orgulho de quem está lá. A vivência é familiar. A filha recebe, o filho dirige o barco — é assim no Combu”, explicou.

Mário César dos Santos, coordenador da Rota, sublinhou que o reconhecimento atual é resultado de um trabalho de longo prazo, e que a COP30 dá visibilidade, mas o maior desafio está adiante. “Agora é colher os frutos do que foi construído. O mais importante da COP é o rabo do foguete — o que vai acontecer daqui para frente.”

O encontro terminou com consenso: o Combu vive um momento histórico, impulsionado pela economia comunitária, pelos saberes femininos e pela força das tradições ribeirinhas. Mas o futuro depende de organização e responsabilidade, garantindo que o turismo seja instrumento de preservação da Amazônia, e não de sua degradação.

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