A COP30, realizada em Belém (PA), apresentou dois projetos que reforçam o uso do hidrogênio verde na navegação brasileira. O BotoH2, patrocinado pela Itaipu Binacional, ficará como legado para ações de coleta de recicláveis nas ilhas da capital paraense. Já o JAQ H1, financiado integralmente pela iniciativa privada, inicia uma rota nacional após o evento para divulgar soluções de energia limpa aplicadas ao setor naval.
O BotoH2, com 9,5 metros de comprimento, integra célula de combustível a hidrogênio e painéis solares. A embarcação passa a apoiar as Unidades de Valorização de Resíduos Sólidos (UVRs), que estão em implantação em Belém, facilitando o transporte de materiais recicláveis e reduzindo a dependência de barcos movidos a diesel ainda utilizados na região. O programa inclui reforma de galpões, aquisição de esteiras, prensas e caminhões-baú e apoio à gestão das cooperativas.
O JAQ H1, da empresa Jaq Apoio Marítimo, possui 36 metros de comprimento, cerca de 400 m² de área útil e auditório para cinquenta pessoas. A embarcação foi apresentada na COP30 com toda a hotelaria preparada para operar com hidrogênio verde, incluindo iluminação, climatização e sistemas internos. Em dezembro, em Fortaleza (CE), será instalada a propulsão dual fuel da MAN, que utiliza 20% de hidrogênio na mistura e pode reduzir em até 80% as emissões de CO₂. Em seguida, o barco seguirá para o Porto de Suape (PE) para abastecimento.
A terceira fase do projeto prevê, para 2027, a apresentação do JAQ H2, embarcação de cerca de cinquenta metros capaz de gerar seu próprio hidrogênio a partir da dessalinização da água do mar. O sistema inclui eletrolisador e armazenamento a bordo, com objetivo de atingir autossuficiência energética e emissão zero. A unidade será equipada com hidrojatos, permitindo navegação em áreas rasas e acesso a comunidades ribeirinhas em diferentes biomas.
O projeto reúne parceiros tecnológicos, entre eles Itaipu Parquetec, responsável pelo suporte técnico no comissionamento do sistema, a GWM, que forneceu os equipamentos, e a MAN, que desenvolve a etapa de propulsão com dois motores dual fuel.
Para Ernani Paciornik, idealizador do projeto Jaq e presidente do Grupo Náutica, a COP30 foi uma oportunidade de apresentar soluções aplicadas. “Na COP há muito debate e isso é fundamental, mas desde o início nossa intenção foi ir além do discurso e mostrar soluções concretas”, afirma. “O BotoH2 fica como legado direto para Belém para apoiar os catadores e ajudar a cuidar dos rios da cidade. O JAQ H1 vai rodar o país como barco que vai apresentar o sistema da célula de hidrogênio nas principais capitais do Brasil. São dois projetos brasileiros que provam, na prática, que já é possível navegar com muito menos impacto”, acrescenta.
Paciornik observa que o contato direto com as embarcações ajuda a aproximar o público da tecnologia. “Estamos dando a nossa contribuição ao planeta com embarcações que qualquer pessoa pode visitar, entrar, fazer perguntas e entender como funcionam. Quando um estudante pisa a bordo e vê um barco silencioso, sem fumaça, movido por uma tecnologia que pode usar energia limpa, ele percebe que o futuro não é promessa, é realidade. Esse é o legado que queremos deixar da COP30”, conclui.

