As colisões entre aves e aeronaves, conhecidas na aviação como bird strike, seguem como um dos desafios mais relevantes para a segurança operacional e a eficiência do transporte aéreo no Brasil. Um estudo inédito divulgado pela Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) revela que o país registrou 5.184 ocorrências desse tipo entre 2022 e 2024, considerando apenas a aviação comercial regular em aeroportos nacionais. O número equivale, em média, a um impacto a cada cinco horas, evidenciando a frequência do problema no cotidiano das operações aéreas.
O levantamento também mostra uma tendência de agravamento em 2025. Apenas no primeiro semestre do ano, foram contabilizados 1.148 registros de colisões de aves com aeronaves, crescimento de 32% em relação ao mesmo período de 2024, quando houve 869 ocorrências. O aumento acende um alerta para companhias aéreas, autoridades aeroportuárias e órgãos públicos responsáveis pela gestão do entorno dos aeródromos.
Impacto direto para passageiros e companhias
As consequências do bird strike vão além da segurança operacional. Segundo a Abear, cerca de 27 mil passageiros são afetados anualmente por atrasos e cancelamentos decorrentes dessas ocorrências. Em média, aproximadamente 100 voos deixam de ser realizados todos os anos em função de colisões com aves, o que exige das empresas aéreas o cumprimento integral da Resolução 400 da Anac, que prevê assistência aos passageiros, como alimentação, hospedagem e reacomodação.
Do ponto de vista financeiro, os impactos são igualmente expressivos. O custo total estimado chega a R$ 200 milhões por ano, considerando despesas com manutenção corretiva, inspeções técnicas e aeronaves fora de operação. Em muitos casos, mesmo quando não há danos estruturais severos, a necessidade de checagens detalhadas provoca atrasos em cadeia na malha aérea.
Momentos críticos da operação
O estudo aponta que 80% das ocorrências de bird strike acontecem durante fases críticas do voo: nos primeiros minutos após a decolagem ou durante a aproximação para o pouso. Esses momentos exigem atenção máxima das tripulações e concentram maior risco operacional, sobretudo quando os impactos ocorrem fora do sítio aeroportuário, mas ainda dentro da Área de Segurança Aeroportuária.
Além disso, 8% dos registros analisados resultaram em danos significativos às aeronaves, com impacto direto na programação de voos e no planejamento das companhias. Esse efeito cascata compromete a pontualidade e a previsibilidade das operações, especialmente em aeroportos de maior movimento.
Regulação e controle de fauna em debate
Para a Abear, a mitigação do problema passa necessariamente por avanços regulatórios e por uma atuação coordenada entre diferentes esferas do poder público. Segundo Raul de Souza, diretor de Segurança e Operações de Voo da entidade, a publicação do decreto presidencial que regulamenta a Lei nº 12.725/2012 é considerada um passo fundamental para enfrentar a questão de forma estruturada.
“A publicação e a entrada em vigor deste decreto são cruciais para que se possa instituir e aplicar sanções administrativas para os responsáveis por operações ou atividades que atraiam aves para a Área de Segurança Aeroportuária”, afirma Raul de Souza. “O passo seguinte será eleger os aeroportos prioritários e colocar em prática o que o Decreto determina, em estreita coordenação com a administração aeroportuária local, as autoridades municipais, ambientais, e o Ministério Público. É preciso aperfeiçoar mecanismos de monitoramento, fiscalização e controle rigoroso das atividades que possam atrair aves para dentro da Asa, reduzindo riscos e garantindo a segurança operacional.”







