O Parque Nacional do Superagui, no litoral norte do Paraná, deu um passo histórico ao inaugurar sua primeira trilha estruturada e aberta permanentemente à visitação pública desde a criação da unidade, há 36 anos. Batizada de Trilha do Ararapira, a nova infraestrutura integra a Travessia do Superagui — percurso de cerca de 40 quilômetros que cruza a ilha de norte a sul — e passa a consolidar o parque como destino estratégico para o turismo sustentável e de base comunitária.
O projeto recebeu investimento aproximado de R$ 2 milhões, oriundos do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná, e foi desenvolvido sob coordenação técnica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Núcleo de Gestão Integrada Antonina–Guaraqueçaba. Com 15 quilômetros de extensão, o trajeto é o primeiro do parque planejado para uso bimodal, permitindo a circulação tanto de caminhantes quanto de ciclistas, ampliando o perfil de visitantes e a democratização do acesso ao patrimônio natural protegido.
A trilha está localizada na porção norte da Ilha do Superagui e atravessa áreas de Mata Atlântica preservada, manguezais e trechos alagáveis, conectando as comunidades de Barra do Superagui, Barra do Ararapira e Ararapira. O percurso foi estruturado em dois segmentos principais, contando com sete pontes suspensas, uma passarela elevada de 50 metros e sinalização completa no padrão da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso e Conectividade.
Segundo Wagner Cardoso, analista ambiental do ICMBio e coordenador da iniciativa, a Trilha do Ararapira representa um marco para a unidade. “A trilha é o primeiro atrativo turístico estruturado e sinalizado aberto à visitação pública desde a criação do Parque Nacional do Superagui”, afirma. Para ele, a nova rota amplia as possibilidades de uso público responsável e reforça o sentimento de pertencimento e valorização do parque como patrimônio natural e cultural.
Além da infraestrutura física, a inauguração da trilha reforça a estratégia de desenvolvimento local baseada no turismo de base comunitária. Moradores da região destacam que a iniciativa surgiu a partir de uma demanda histórica da população, inicialmente voltada à mobilidade e ao acesso entre comunidades, especialmente após alterações naturais na navegação local.
Márcio José Muniz, pescador, morador de Ararapira e proprietário de uma pousada comunitária, ressalta o impacto positivo da entrega. “Vai ser um grande avanço do turismo aqui, não só da nossa comunidade, mas de toda a região de Guaraqueçaba, Cananéia e entorno. Todo mundo vai ganhar com isso, e a minha palavra é agradecimento”, afirmou. A trilha passa a estimular a demanda por hospedagem, alimentação, condução de visitantes e serviços locais, criando novas oportunidades econômicas alinhadas à conservação ambiental.
Do ponto de vista institucional, a Trilha do Ararapira também assume papel estratégico na política de conservação e uso público das unidades de conservação federais. Para a coordenadora-geral de Uso Público do ICMBio, Carla Guaitaneli, a iniciativa vai além da abertura de um novo atrativo. “Isso aqui é muito mais do que abrir uma trilha. Faz com que pessoas do Brasil todo passem a gostar mais e a defender as unidades de conservação”, destacou durante a inauguração, realizada em 13 de dezembro, na Vila de Ararapira.
O evento reuniu autoridades, representantes de órgãos ambientais e membros da comunidade local, e foi encerrado com um baile de fandango tradicional, reforçando a valorização da cultura caiçara. A expectativa é que a trilha seja referência nacional de integração entre conservação, turismo responsável e participação comunitária, fortalecendo o Parque Nacional do Superagui como um dos trechos mais preservados e emblemáticos da Mata Atlântica brasileira.

